Por que oxigênio é tão importante em pessoas internadas com covid
Suplementação ocorre quando pulmões estão comprometidos demais para absorver somente oxigênio do ar ambiente
Saúde|Fernando Mellis, do R7
A crise ocorrida com o desabastecimento de oxigênio hospitalar no Amazonas deixou ainda mais evidente a necessidade desse produto para pacientes com covid-19 que precisam ser internados. O papel dele não é tratar a pessoa, mas permitir que ela se mantenha viva enquanto alguns medicamentos e o próprio organismo ajam contra a doença.
A covid-19 atinge principalmente os pulmões, provocando em algumas pessoas pneumonia viral, o que compromete a capacidade do órgão de absorver o oxigênio por meio da respiração natural.
Quando alguém fala que uma pessoa está com 60% dos pulmões comprometidos, por exemplo, significa dizer que só 40% da superfície do órgão estão conseguindo levar oxigênio ao sangue arterial.
É nestes momentos que receber oxigênio em um ambiente hospitalar salva a vida de muitos indivíduos com covid-19.
Ar ambiente x oxigênio hospitalar
A presidente da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), Irma de Godoy, explica que o ar ambiente em uma pressão ao nível do mar tem cerca de 21% de oxigênio. Essa condição muda em locais mais altos.
"Se a gente não tiver nenhuma doença e estiver respirando o ar com uma concentração de oxigênio normal, vai ter um nível de oxigênio normal também. Quando você tem a covid grave — que atinge uma minoria, mas que necessita de um cuidado de saúde muito especializado — tem um comprometimento muito grande dos pulmões, ficam inflamados, cheios de líquido. Esse ar que a pessoa respira com oxigênio, esse oxigênio não consegue passar do pulmão para o sangue."
A decisão de suplementar o gás vai levar em conta a saturação de oxigênio no sangue no momento da avaliação médica.
Se estiver abaixo de 90% (ou 92% em gestantes), a pessoa vai ser internada receberá suplementação com oxigênio hospitalar.
Diferente do ar ambiente, este tem um fluxo direto para as vias respiratórias, que pode ser inicialmente por meio de cateter nasal, e em uma concentração maior.
Tipos de suplementação
O cateter nasal é usado em um primeiro momento (a depender da gravidade em que a pessoa chega no hospital), em que o paciente pode receber entre 1 litro e 4 litros de oxigênio para aumentar a saturação.
"Se ele não responde com 4 litros de cateter, tem que mudar a técnica", acrescenta a pneumologista.
As outras alternativas podem ser:
• Cateteres de altíssimo fluxo;
• Capacetes-respiradores;
• Equipamento de ventilação não invasiva (máscara);
• Ventilação invasiva (intubação).
"Você vai utilizar todos esses métodos que vão fazer com que eu tenha uma melhor distribuição de ar dentro do pulmão", ressalta Irma.
Intubação
Como o próprio nome sugere, consiste em um tubo inerido na traqueia e que vai até o pulmão para levar oxigênio sob pressão.
O procedimento é feito com a pessoa em coma induzido pelo tempo que for necessário.
A presidente da SBPT explica ainda que a posição prona (com paciente de bruços) se mostrou muito eficaz em aumentar a disponibilidade de oxigênio nos pulmões.
"Às vezes, as áreas comprometidas não estão totalmente fechadas. Se eu utilizar uma técnica de ventilação adequada, posso reabrir algumas áreas e ele pode ventilar por ali."
Oxigênio salva vidas, mas não cura
Além do oxigênio, um paciente internado com covid-19 pode receber medicações indicadas para quem está hospitalizado, como corticoides e anticoagulantes — comprovadamente eficazes.
O próprio organismo também vai ter um papel fundamental no controle da própria doença.
O oxigênio é um auxiliar indispensável, mesmo sem um papel direto no tratamento, salienta a médica.
"A gente usa essas medicações para ajudar o pulmão a curar mais depressa e, com o paciente na ventilação, eu garanto que ele receba uma quantidade de oxigênio necessária para se manter vivo enquanto o pulmão se recupera."