As medidas de isolamento social impostas para frear a pandemia de covid-19 são inéditas e desafiadoras para toda a população. No entanto, elas precisam ser ainda mais rígidas para idosos - já que fazem parte do grupo de risco da doença - e, ao mesmo tempo, os deixa duplamente vulneráveis à depressão. Diante deste impasse, muitos se perguntam quando poderão voltar a ter contato físico e, mais do que isso, abraçar e beijar seus familiares. Gestos que fazem mais parte da rotina de países latino-americanos, dentre eles o Brasil, quando comparados a países europeus, como observa o infectologista e pediatra Carlos Lazar, professor da disciplina de moléstias infecciosas na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). No entanto, especialistas afirmam que esse tipo de interação só poderá voltar a acontecer com segurança quando houver uma vacina para prevenir a covid-19. "Não há ainda segurança nenhuma. Haverá se tivermos uma vacina que nos dê uma quantidade de anticorpos suficiente para nos proteger e por tempo prolongado. Até lá, a insegurança vai continuar", destaca. A infectologista Ingrid Cotta, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, acrescenta que idosos "muito provavelmente" serão prioridade para receber o imunizante, que deve estar disponível até junho de 2021. Entretanto, a situação epidemiológica atual não permite demonstrações de afeto como beijos e abraços. "Por ora, infelizmente não é seguro. A pandemia ainda não está controlada, somos o segundo país com maior número de casos e óbitos", enfatiza. "É importante entender isso e, para quem pode ficar em casa, a quarentena é a melhor medida", completa. Os especialistas também destacam a importância de atitudes como lavar as mãos e usar máscara. Lazar também afirma que o retorno às aulas é fator que aumenta o risco de transmissão da covid-19 de crianças para seus avós. "O contato físico gera menos problemas porque as crianças estão dentro de casa, mas no momento que mandar para a escola, a possibilidade de transmissão vai aumentar", pondera. "E somos um país latino-americano, gostamos de abraçar e beijar, ao contrário dos países anglo-saxões, onde esse tipo de intimidade é bem menor", compara. Um estudo publicado na quinta-feira (30) na revista científica JAMA Pediatrics mostrou que crianças com até 5 anos de idade têm carga mais alta de coronavírus do que outras faixas etárias. Levando em conta esse dado, Cotta concorda com Lazar sobre a necessidade de ter cautela na hora de decidir sobre retomar as aulas, porém ressalta que ter uma quantidade viral maior no organismo não significa, necessariamente, ser alguém com maior potencial de transmiti-lo. "Uma coisa é ter mais carga viral e outra é efetivamente transmitir. Mas se outros estudos comprovarem essa ideia, temos que ter um olhar reforçado para essa população a fim de diminuir a velocidade de propagação do vírus na sociedade", analisa. A médica lembra que o risco de contágio pelo coronavírus existe antes mesmo do contato físico, por meio de gotículas contaminadas emitidas durante a respiração e a fala, por exemplo. Além disso, existe a possibilidade de transmissão por aerossóis - gotículas menores ainda que ficam suspensas no ar, mas logo caem no chão ou em objetos.