O conhecimento da rainha Silvia, da Suécia, sobre como lidar com a demência adquirido pela experiência com a mãe, que sofreu da doença, e também por meio da fundação Silviahemmet, criada por ela há 23 anos, está sendo compartilhado com o Brasil.Leia também: 'Todos se ajudam quando alguém tem Alzheimer na periferia' A Sociedade Beneficente Alemã (SBA), criada há mais de 150 anos para dar apoio a imigrantes alemães no país e que dispõe de um residencial para idosos no bairro do Butantã, em São Paulo, foi capacitada pela fundação para colocar seus conceitos em prática. Estimular a pessoa com demência a ter uma vida "normal", com qualidade tanto para ela quanto para quem cuida dela é um dos princípios dessa abordagem. “Lembro quando minha mãe não estava muito bem e as pessoas que a ajudavam a tomar banho ficavam completamente molhadas. Ao final, era apenas uma questão de adaptação do vidro do banheiro. A funcionalidade mais inteligente ajuda quem está doente e quem está ajudando”, afirmou ela durante o simpósio "Demência em Foco" realizado nesta quinta-feira (8), em São Paulo.Leia também: Alcoolismo aumenta em 3 vezes chance de mal de Alzheimer Nesta quinta-feira (8), a rainha irá inaugurar a chamada “Casa da Memória ReHabitar”, no residencial de idosos do SBA, que reproduz ambiente dos anos 1950 com o intuito de despertar as lembranças dos pacientes com demência que vivem ali. “Integrar o paciente na comunidade, manter a família unida e procurar fazer com que ele tenha uma vida o mais próximo do normal. Isso é o que mais chama a atenção no conceito da fundação da rainha”, afirma o neurologista Rodrigo Schultz, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).Saiba mais: Lidar com demência de familiar exige compreensão de sua limitação Segundo ele, o maior desafio da doença hoje é o diagnóstico. “O diagnótico não é complexo. A questão é que as pessoas não têm instrução para isso. E ainda há o estigma, uma dificuldade muito grande em aceitar a doença e levar o familiar a um médico. Dizem: ‘Ele não tem, não pode ter, eu não aceito’. E dizer que ‘é normal da idade’ envolve estigma”, explica. O estigma está no centro do debate global da doença para o próximo ano, segundo o neurologista. “Ouvimos dizer que em relação à demência nada pode ser feito. Mas é justamente o contrário. Superar o estigma é o primeiro passo”, explica."A demência vem e a vida segue" Aceitar o paciente com suas limitações é uma forma de inclui-lo. Segundo ele, promover a conscientização e maior entendimento da doença é fundamental para acabar como preconceito contra o paciente e reduzir seu isolamento. “A demência vem e a vida segue. Como médico, presencio impactos positivos que a doença pode trazer na vida das pessoas. É uma doença grave, de difícil relação, mas vejo casos em que a comunicação entre as pessoas melhorou. Por exemplo, uma comunicação entre neto e avô que está muito melhor. E se não tivesse avô?”, disse ele durante sua apresentação no simpósio.Saiba mais: Novela, vinho e exercícios ajudam a se proteger da demência O número de pessoas com demência deve triplicar nos próximos 30 anos no mundo, passando de 50 milhões para 152 milhões, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Quase 10 milhões de pessoas desenvolvem a demência a cada ano, sendo 6 milhões em países de baixa e média renda. O mal de Alzheimer é o tipo mais comum de demência e representa entre 60 e 70% dos casos. “A pessoa com demência tem que ter direito de participar da sociedade. O idoso com demência como protagonista é um princípio fundamental de integração”, afirmou o epidemiologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, durante o simpósio.Cuidados adequados ajudam vida do cuidador e da pessoa com Alzheimer: