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Saber filtrar ofensas contribui para a saúde mental, diz Augusto Cury

Autor mais lido dos últimos 20 anos no país afirma que saber lidar com estímulos negativos ajuda a prevenir problemas como ansiedade e depressão

Saúde|Deborah Giannini, do R7

O escritor e psiquiatra Augusto Cury durante palestra na RecordTV
O escritor e psiquiatra Augusto Cury durante palestra na RecordTV

O escritor e psiquiatra Augusto Cury esteve nesta quinta-feira (10) na RecordTV para a apresentação da palestra “Gestão Emocional”, primeira apresentação corporativa realizada em uma emissora de TV, e concedeu uma entrevista exclusiva ao R7.

Com 50 livros publicados em 70 países, Cury afirma que muito se fala sobre a saúde física, mas pouco se dá atenção à saúde mental. Segundo ele, o mundo está se tornando um “manicômio global”, com grande índice de doenças psíquicas e psicossomáticas devido à falta de cuidado com as emoções e, principalmente, com os pensamentos. “Todos os dias recebemos ofensas, rejeições e críticas, mas não sabemos filtrar esses estímulos estressantes”, diz.

Ele afirma que existem formas de não ser “intoxicado” com as agruras do dia-a-dia “filtrando” esses estímulos e aprendendo a “gerir emoções e pensamentos”. “Se não usarmos o pensamento para desenvolver sonhos, ele será utilizado para construir cárceres mentais”.

Cury explica ainda como não transformar o trabalho em uma fonte de “estímulos estressantes” e diz que é possível identificar quando uma pessoa está passando por problemas como ansiedade e depressão. “Elas se irritam e reagem pelo fenômeno bateu-levou, são intolerantes. Normalmente, se critica quem falha sem perceber que esses são sintomas de quem está pedindo ajuda”. Leia a entrevista a seguir.


O que é gestão da emoção, tema de sua palestra?

Sou o autor do primeiro programa mundial de gestão da emoção. Gestão da emoção é mais aplicável e penetrante que a inteligência emocional. Inteligência emocional é muito difusa, é como se fosse uma montanha e gestão da emoção é você implodir essa montanha e pegar os blocos de pedras para desenvolver as mais importantes habilidades para que possamos ser autores da nossa própria história.


Pode dar um exemplo?

Por exemplo: aprender a filtrar os estímulos estressantes. Ninguém tomaria um copo de água barrenta ou contaminada. Mas todos os dias recebemos estímulos, ofensas, rejeições, frustações, críticas e não sabemos ser um consumidor emocional responsável. Ou seja, nós não filtramos os estímulos estressantes. Para isso, temos que treinar o meu ‘eu’ a gerir a minha emoção. E para treiná-lo eu tenho que ser um consumidor responsável, não comprar aquilo que não me pertence. Se alguém me criticou, rejeitou ou ofendeu, o problema é do outro. A minha paz vale ouro. O resto é irrelevante.


Do que se trata esse treinamento?

Se as crianças e os adolescentes, bem como os universitários e adultos treinassem gestão da emoção todos os dias não haveria uma epidemia de suicídios, de ansiedade e depressão como temos na atualidade. Seria uma sociedade mais generosa, altruísta e solidária. Além disso, há ferramentas para libertar o pensamento criativo e a capacidade de dar respostas inteligentes nas situações estressantes. As crianças e os adolescentes são intoxicados com o mais lógico e restritivo dos pensamentos no teatro escolar. Nós não sabíamos que existe mais de um tipo de pensamento. Existe o pensamento lógico, que copia os símbolos da língua, nós falamos em português, outros falam em inglês e chinês, e existe o pensamento antidialético, que é o pensamento imaginário. Esse é pensamento é o mais complexo. Por isso as crianças perguntam antes de entrar na escola e com o passar do tempo elas se silenciam porque a escola intoxica, asfixia o pensamento antidialético. Esse tipo de pensamento é muito importante, se não usarmos ele para desenvolver sonhos, para ser tolerante, generoso, brincar com a vida ser bem-humorado, ele vai ser usado inevitavelmente para construir cárceres mentais. Então: sofrer com antecipação, ruminar perdas, mágoas e frustações, reagir por impulsividade e assim por diante.

Como evitar que o trabalho vire uma fonte de estresse?

Normalmente, as empresas são muito estressantes. As pessoas entram no cárcere da rotina. Elas não se reinventam, não libertam seu imaginário para tornar esse ambiente um espetáculo de prazer e não de estresse. Além disso, a síndrome do pensamento acelerado, ou SPA, que eu tive o privilégio de descobrir, mexe na caixa preta do funcionamento da mente. Uma criança de 7 anos de idade tem mais informações que um imperador romano. Então, excesso de informação e de smartphone agitam a mente humana em uma velocidade nunca antes vista e esgota o cérebro. As empresas têm sido canteiro onde tem se desenvolvido essa síndrome.

Quais são os sinais dessa síndrome?

As pessoas acordam cansadas, têm dores de cabeça, dores musculares, sofrem por antecipação, têm dificuldade de conviver com pessoas lentas, inclusive têm déficit de memória e de concentração. As empresas deveriam ter um ambiente de relaxamento. Um excelente profissional não é alguém só culto e proativo. Ele deveria fazer 1 minuto de relaxamento várias vezes por dia resgatando seus sonhos, desacelerando os pensamentos, dialogando com os colegas de trabalho sobre o que pode contribuir para torná-lo mais feliz. Perguntar para si mesmo onde errou e não soube, ou seja, deveriam se cruzar os mundos. Quando nós, em poucos minutos durante o dia, deixamos de ser apenas o profissional que resolve os problemas e nos tornamos seres humanos, desaceleramos os pensamentos e, consequentemente, desenvolvemos mais qualidade de vida.

É possível um colega ou um parente identificar que uma pessoa próxima está passando por uma dificuldade como ansiedade ou depressão?

É possível desde que os nossos olhos não sejam míopes para enxergar o que as imagens não revelam. Por exemplo: quando existe um certo isolamento é um sinal de que as pessoas estão sequestradas em seu mundo angustiante, às vezes mal-humorado ou depressivo ou pessimista, com baixo limiar para frustação, ou seja, pequenos problemas tem um impacto muito grande. Elas se irritam e reagem pelo fenômeno bateu-levou, são intolerantes. Ao ver um aluno ou um filho reagindo desse modo, um parceiro ou parceira, se critica quem falha sem perceber que esses são os sintomas de alguém pedindo ajuda. Alguém querendo ser abraçado. Mas nós somos muito rudes. Começamos a apontar falhas e não nos colocamos no lugar dos outros. Por isso, para evitar suicídio, para ajudar pessoas que estão com depressão, fobias, síndrome do pânico ou doenças psicossomáticas, temos que parar de julgar tanto, temos que abraçar mais. Parar com essa história de apontar falhas e celebrar mais os acertos dar um ombro para chorar e outro para apoiar. Caso contrário, nossa espécie é doente, nossas empresas são doentes, as escolas também se tornam um canteiro de doenças mentais. E têm sido assim no mundo todo.

O senhor tem um livro chamado Ansiedade: como enfrentar o mal do século. Por que considera a ansiedade o mal do século?

Ansiedade é o mal do século pelo alto índice de sintomas psíquicos e psicossomáticos. Os psicossomáticos são dor de cabeça, dores musculares, queda de cabelo, nó na garganta e hipertensão arterial. Já os psíquicos mais comuns são irritabilidade, sofrimento por antecipação, ruminação de perdas e mágoas e intolerância com pessoas que são mais lentas. Esses sintomas psicossomáticos e psíquicos e atingem a maior parte da população e isso revela que a ansiedade é o mal do século. A depressão é a doença mais grave, não há dúvida. É o último estágio da dor humana, mas atinge 20% da população. Se você considerar a síndrome do pensamento acelerado uma ansiedade da Era Moderna, patrocinada pelo excesso de informação e pelo uso de smartphones, é quase impossível não ter algum desses sintomas. Hoje o “normal” é ser tenso, irritadiço e ansioso e não tranquilo, sereno, brincar com a vida e fazer dela um espetáculo. Não seja um herói. A vida é curta, breve para ser vivida e longuíssima para se errar. Tenha um caso de amor com sua saúde emocional, caso contrário terá grande chance de ser um carrasco de si mesmo. 

Muito se fala sobre a saúde física, mas pouco sobre a saúde mental. A saúde mental é deixada de lado? Há uma prioridade para a saúde física. Eu pergunto: quem toma banho? Em todas as conferencias que eu dou, na Sérvia, na Romênia, Estados Unidos, todo mundo levanta as mãos. Nunca encontrei ninguém que não levantasse as mãos. Mas quando pergunto: Quem toma banho emocional? Quem faz a higiene mental? Nunca encontro ninguém. É um contrassenso. Se eu evito germes e agentes poluidores do corpo, de quatro em quatro horas faço higiene bucal, por que não faço higiene mental? Isso é loucura. É uma loucura da sociedade Moderna, tosca, débil, que se preocupa com o aspecto exterior, mas, infelizmente, não se preocupa em proteger a emoção e gerenciar os pensamentos. Por isso estou digo que a humanidade virou um manicômio global e o índice de suicídio é muito alto.

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