O isolamento social é uma das medidas recomendadas para evitar o avanço do coronavírus. Dessa forma, muitas pessoas já se encontram na quarentena, com suas rotinas diárias completamente mudadas. Enquanto alguns continuam a trabalhar em home office, outros se encontram sem atividades, muitas vezes sozinhos em casa ou dividindo o lar com os filhos e poucos familiares. Isso, de acordo com psicólogos e terapeutas, tem um impacto significativo na vida das pessoas, de maneira individual e coletiva. “É importantíssimo colocar a saúde mental e o bem-estar em primeiro lugar, neste momento”, diz Denise Esper, psicóloga e pedagoga. “É normal a gente se sentir estressado quando ficamos fechados e isolados das pessoas. Essa tempestade de fatores que está acontecendo deixa as pessoas mais ansiosas e preocupadas, com medo, isso faz parte do processo”, analisa. De acordo com Denise, o isolamento social pode nos fazer sentir mais sozinhos, mas existe uma diferença entre solidão e solitude. “A solidão é um vazio, é uma sensação de falta, que gera uma dependência emocional com pessoas ou com objetos. A solitude ocorre quando a gente não tem receio de estar sozinho e tem prazer na própria companhia”, explica. Assim, uma pessoa que já estava acostumada a gostar de passar algum tempo sozinho, desfrutando dos momentos de solitude, tende a lidar com a quarentena de outra forma. “Porém, quem tem a sensação do vazio, a solidão, pode enfrentar mais dificuldade neste momento em que estamos todos sendo obrigados a ficar sós, o isolamento potencializa isso”.Ressignificação dos sentimentos Por outro lado, a psicóloga Ilíada Alves, do Hospital das Clínicas, de São Paulo, observa que este momento que estamos enfrentando coletivamente também é uma oportunidade para as pessoas ressignificarem o sentido de estar sozinho e de encontrar esse prazer na própria companhia. “Muitos estão descobrindo o autocuidado, fazendo coisas que a rotina massacrante do dia a dia não permitiam, como cozinhar para si mesmo, colocar a leitura em dia, brincar com os filhos”, diz. Para se obter o melhor deste momento, sem sofrer tanto com a solidão, as terapeutas recomendam algumas atitudes. O item fundamental, de acordo com elas, é a manutenção de uma rotina diária, que seja parecida com a que a pessoa mantinha antes da quarentena. “Mesmo estando em confinamento e home office, aconselho, por exemplo, que a pessoa tenha horário para dormir, para trabalhar, fazer refeições e que não fique de pijama o dia todo. É uma situação diferente a que estamos vivendo, mas é preciso entender que esse momento não é de férias, por isso, é importante manter as atividades em dia”, lembra Ilíada. Para Denise, dentro dessa rotina deve-se procurar preservar o bom humor e não se deixar levar pelo medo, principalmente, para os que têm o hábito de não desligar do noticiário. “Manter a casa limpa, cozinhar, praticar alguma atividade física dentro de casa, meditação, tudo isso ajuda nessa nova rotina”, afirma. “Esta é a hora de descobrir maneiras de se confortar, mesmo estando sozinhos. Pensar em como posso me acarinhar e me trazer conforto, seja interagindo com um animal de estimação, consumindo alimentos saudáveis, falando com as pessoas virtualmente e escolhendo que tipo de notícia vou consumir”, lembra Denise. Segundo a psicóloga, é importante, também, manter a espiritualidade e a fé, itens que podem trazer conforto. Outro ponto que pode ajudar a amenizar a solidão, a sensação de impotência e a falta de controle que a pandemia causa é praticar a aceitação, como observa Ilíada. “Muitas vezes, associamos aceitação com gostar, aprovar e concordar com algo. Mas isso não é verdade. Aceitar é apenas parar de brigar com a realidade”, explica Ilíada. “Hoje, estamos vivendo isso, uma situação que vai além do nosso controle. Quando a gente consegue praticar a aceitação da realidade, começamos a construir uma liberdade para viver da melhor forma, encontrando saídas.”Quando procurar ajuda? Em alguns casos, quando a solidão se torna insuportável e gatilho para crises de ansiedade constantes, pânico ou mesmo depressão, pode ser a hora de procurar ajuda especializada. Com a quarentena, muitos psicólogos, terapeutas e psiquiatras têm realizado atendimentos online, com preços diferenciados ou mesmo gratuitamente, para ajudar os que mais estão precisando. “O principal sinal de alerta é quando a pessoa percebe que a ansiedade ou o seu estado de humor alterado estão trazendo prejuízos à rotina dela, ou seja, quando a pessoa começa a ficar disfuncional, não consegue trabalhar, nem se cuidar”, diz Ilíada. Também é hora de pedir ajuda especializada quando alguns escapes, como comer demais, exagerar na bebida alcoólica, em cigarros ou remédios passa a se tornar a única forma que a pessoa tem para lidar com a realidade. “É normal as pessoas descontarem a emoção, de vez em quando, na comida, ou mesmo na bebida. Mas, quando o indivíduo recorre a isso num longo prazo, em grande quantidade e intensidade e repetidas vezes, como recursos para regulação emocional, é preciso procurar ajuda”, reforça Ilíada. Nesses casos, a terapia pode ser uma primeira abordagem, pois auxilia a pessoa a encarar essas situações novas e desafiadoras para todos. “Muitas vezes, esses recursos são a forma como a pessoa aprendeu a lidar, ela não sabe desenvolver outra estratégia. E a terapia ajuda nisso, a criar habilidades para trabalhar com o que é novo e causa desconforto.” Para auxiliar pessoas que estejam sofrendo com a solidão ou enfrentando dificuldades emocionais durante a quarentena, Denise criou uma lista com atitudes positivas para incorporar ao dia a dia:Mantenha a rotina: tenha horário para acordar, horário para comer, horário para fazer home office, entre outras atividades. Rotina nos ajuda organizar o mundo interno.Deixe a casa limpa: tudo organizado mantém você ativo, então arrume a cama, mantenha a casa arejada, louça lavada e roupas guardadas.Comunique-se: ouça os outros, continue conversando, fale de suas emoções, dos seus sentimentos. Se possível faça chamadas de vídeo, assim usamos os dois sentidos, visão e audição, e o isolamento fica menos difícil.Não perca o bom humor: a leveza é necessária, ria de você, faça brincadeiras saudáveis. Cada vez que ficamos tensos, angustiados, nosso organismo fica frágil e nossa imunidade pode cair.Cozinhe: invente pratos novos, faça aquela receita que você queria ter feito há tempos e não podia. Prepare um prato diferente para a família e, se morar sozinho, faça para si mesmo.Atividade física: mesmo em casa, podemos nos exercitar. Busque aplicativos, sites, personal trainers online e redes sociais que possam ajuda-lo a treinar e se movimentar.Sono: organize-se para que tenha um horário regular para dormir e para acordar.Medite: meditar tem como finalidade equilibrar as emoções. A meditação oferece uma nova forma de lidar com o estresse emocional, promovendo a paz. A prática tem como função treinar a mente, melhorar a atenção e, assim, não ficarmos suscetíveis à depressão, ao pânico e à ansiedade.