USP recruta voluntários para teste com primeira vacina contra a zika
Desenvolvida nos Estados Unidos, vacina é feita de fragmento de material genético do vírus e não causa efeitos colaterais; 120 serão selecionados
Saúde|Deborah Giannini, do R7
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP está recrutando voluntários para testar a primeira vacina do mundo contra o zika vírus. O objetivo é testar a segurança e eficácia da vacina.
A vacina é feita de fragmento de material genético do vírus, e não de vírus vivo atenuado, como a vacina da febre amarela. “Não há chance de causar qualquer problema”, afirma o infectologista Esper Kallas, coordenador da pesquisa.
Podem se inscrever homens e mulheres entre 15 e 35 anos que nunca contraíram a doença. Serão selecionadas 120 pessoas. Todas irão receber três doses de vacina em um período de dois meses. Metade será vacinada com o novo imunizante e a outra metade com placebo.
Os voluntários, que serão acompanhados pelos pesquisadores ao longo de dois anos, não serão informados se receberam a vacina ou o placebo. “É sigiloso”, afirma Kallas.
A participação não é remunerada, pois a legislação brasileira não permite. Mas a Faculdade de Medicina da USP informa que os voluntários serão ressarcidos dos gastos com transporte e alimentação nos dias de consulta.
Kallas explica que testes iniciais em pessoas já foram realizados nos Estados Unidos com sucesso, mas, para comprovar a eficácia da vacina, é necessário que o teste seja realizado com um grupo maior de pessoas. Ao todo, 2.400 participarão do teste em países do continente americano.
Segundo o pesquisador, quanto mais cedo se comprovar a eficácia da vacina, mais cedo ela estará disponível para a população. “O encerramento do estudo depende da circulação do vírus. É preciso haver uma exposição natural dos voluntários ao vírus para que se possa comprovar a eficácia da vacina”, afirma.
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A eficácia da vacina será mensurada pela quantidade de anticorpos produzidos no organismo dos voluntários vacinados que entraram em contato naturalmente com o vírus.
A vacina foi criada pelo Centro de Pesquisas de Vacinas (VRC), do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e está sendo testada onde a doença é disseminada, que é em países das Américas.
“A vacina terá potencial para ser utilizada em mulheres que estão querendo engravidar e quem sabe até em mulheres grávidas. São as mulheres que sofrem as maiores consequências do zika. Os homens podem transmitir via sexual. Eles podem eliminar o vírus em até seis meses no esperma”, afirma o infectologista.
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Quem tiver interesse em ser voluntário nesta pesquisa pode fazer o cadastro por meio do telefone (11) 2661-7214, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. As inscrições permanecerão abertas até que os 120 voluntários sejam selecionados.
Os testes também serão realizados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O vírus da zika
O zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e está relacionado a casos de microcefalia e síndrome de Guillain-Barré. Foi identificado em 1947 e recebeu a denominação de seu local de origem, a floresta Zika, em Uganda.
O Brasil registrou epidemia de zika em 2015, que atingiu principalmente cidades do Nordeste. Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o zika como emergência de saúde pública de importância internacional devido à rápida propagação do vírus nas Américas e o aumento de transtornos neurológicos e malformações congênitas ligados a ele.
De acordo com a OMS, o vírus está presente em 76 países e continua a se espalhar para áreas onde existem vetores da doença. Nas Américas, 48 países confirmaram a transmissão do vírus zika por meio da picada de mosquitos desde 2015.
Mais de 200 mil ocorrências de zika foram registradas no mundo, segundo a OMS, sendo mais da metade desse número no Brasil. Foram registrados 2.618 casos de bebês nascidos com microcefalia relacionada ao zika, a maioria também em território brasileiro.
Você sabe identificar quais doenças esses mosquitos transmitem?