Venezuela mantém surto de difteria, reforçando alerta de risco ao Brasil
País vizinho registrou 1.559 casos e 270 mortes de 2016 até o momento; há chance de reintrodução da doença no país, com baixa cobertura vacinal
Saúde|Deborah Giannini, do R7
Assim como ocorreu com o sarampo, que estava eliminado desde 2016, existe o risco da reintrodução da difteria no país, uma doença considerada controlada no Brasil, segundo o pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
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“A doença está praticamente controlada no Brasil. O grande problema é a grande circulação do vírus em um país vizinho. O Brasil apresenta baixa cobertura vacinal, em torno de 80%, abaixo da meta de 95%", afirma.
O país registrou um caso de difteria no ano passado, em Pernambuco, e dois, em 2017, segundo o Ministério da Saúde.
O Estado de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela, não registrou nenhum caso da doença este ano, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Desde 2016, foram notificados 5 casos suspeitos, porém apenas um foi confirmado, sendo em uma criança venezuelana de 10 anos, oriunda da região de garimpo da Venezuela. O caso evoluiu para morte.
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O Ministério ressalta que o número de casos de difteria vem sofrendo queda desde a década de 1990 devido à ampliação da cobertura vacinal. “Naquela década, a incidência chegou a 0,45 por 100 mil habitantes, diminuindo à medida em que as coberturas se elevaram”, afirmou, por meio de nota.
Difteria matou 270 na Venezuela
De acordo com boletim divulgado nesta quarta-feira (23) pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a Venezuela continua em surto da doença, que teve início em julho de 2016.
Foram registrados 1.559 casos de 2016 até janeiro deste ano, sendo que 270 resultaram em morte. A maior incidência ocorre entre 15 e 19 anos. "Devido à situação socioeconômica da Venezuela, a cobertura vacinal naquele país está muito baixa e estão ressurgindo todas as doenças, inclusive as imunoprevenivéis", afirma Cunha.
Quatro países nas Américas notificaram casos da doença no ano passado, segundo a OMS: Brasil, Colômbia, Haiti e Venezuela.
A Secretaria Estadual de Saúde de Roraima afirma que o fato de a doença estar controlada na fronteira com a Venezuela se deve a um planejamento de prevenção realizado em Pacaraima, cidade que faz limite com o país. “Os venezuelanos que entram no Brasil por Pacaraima são vacinados”, informou a pasta, por meio de nota.
“A cada 15 dias um novo carregamento de vacinas é enviado ao local, o que também pode ser feito em um intervalo de tempo menor, conforme a demanda das equipes que atuam no local”, afirmou.
O médico ressalta a importância de atenção aos indígenas, considerados mais vulneráveis a doenças, que vivem na região. Segundo ele, esse grupo deve seguir o calendário nacional de vacinação.
Difteria é menos contagiosa que sarampo
A difteria é menos contagiosa que o sarampo, de acordo com Cunha. “As duas doenças são transmitidas pelas vias respiratórias e têm potencial para se tornarem graves e até matar, porém infecções virais, como o sarampo, têm maior potencial de transmissão do que as bacterianas, como a difteria. Tanto que houve quase 11 mil casos de sarampo no Brasil”, afirma.
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Segundo ele, a forma mais eficaz de prevenção da difteria é a vacina. Uma questão que prejudica a cobertura vacinal é o grande número de doses exigida na vacinação, de acordo com o médico.
São necessárias três doses, sendo aos 2, 4 e 6 meses de vida da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, coqueluche e tétano. Com 1 ano e 3 meses, a criança deve tomar o primeiro reforço e com, 4 anos, o segundo. A partir daí, será preciso tomar um reforço a cada 10 anos para o resto da vida, a chamada Dupla Adulto (tétano e difteria), de acordo com o presidente da SBIm.
"Há uma cultura de vacinação na criança, mas no adolescente, adulto e idoso, não. Com certeza, nessas faixas as coberturas vacinais são baixíssimas. Se essa bactéria começar a circular em nosso meio, teremos uma grande parcela da população suscetível", afirma.
Os imunizantes estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de todo o país. “O Programa Nacional de Vacinação começou na década de 1970 no Brasil, então, quem tem a partir de 48 anos de idade teve a vacinação na infância, mas se essas pessoas não mantiverama vacinação de dez em dez anos, elas não estão mais protegidas”, explica.
Ele afirma que a vacina de reforço a cada dez anos resgata a memória imunológica do corpo.
Doença é potencialmente grave, mas tratamento é simples
A difteria é uma doença causada por uma bactéria que se instala nas amídalas, faringe, laringe e nariz, provocando dificuldade de respirar. Ela é transmitida pelo contato direto, por meio de gotículas eliminadas pela tosse, espirro e ao falar.
O principal sintoma é o aparecimento de membranas acinzentadas nas amídalas, além de tosse rouca, febre, dor de garganta, mal-estar, nariz escorrendo e gânglios inflamados. “Lembra uma amidalite ou faringite, só que com um quadro muito mais importante", diz.
O diagnóstico é realizado por meio de exame físico e pode ser confirmado por exame de cultura feita com as placas das amídalas. Segundo o pediatra, o tratamento é considerado simples, realizado com antibióticos. É necessário o isolamento do paciente em ambiente hospitalar e as pessoas que tiveram contato com a pessoa infectada também terão de ser avaliadas.
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