Há três anos, entrou em vigor a lei 13.362/2016, que garante às mulheres com deficiência as condições adequadas para prevenir e tratar os cânceres de mama e de colo do útero. Porém, na prática, essas mulheres ainda encontram dificuldades para ter acesso aos exames e prosseguir com os tratamentos necessários. Sandra Reis, 59, é cadeirante e conta que em 2018 realizou o exame de mamografia adaptada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Foi muito bom, pois não precisei me esticar toda para alcançar a máquina”, conta.Leia também: Uma em cada 12 mulheres receberá diagnóstico de câncer de mama Ela já realiza outros tratamentos no Hospital das Clínicas há anos e, por ser paciente, consegue ser examinada no período adequado e com agilidade. Porém, na sua primeira vez, Sandra passou por um constrangimento: “A recepcionista queria que eu estivesse com um acompanhante de todo jeito”, lembra. Ao responder que não precisava, pois conseguia se virar tranquilamente se o mamógrafo era acessível, a atendente insistiu. “Foi uma briga na recepção por causa disso. Quase peguei a LBI e falei: ‘Olha, eu sou totalmente capaz”, completa. Entretanto, Sandra, que integra Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (CMPD), reconhece que a sua realidade difere da de outras mulheres com deficiência. Muitas dependem exclusivamente das ações realizadas pela prefeitura de São Paulo durante a Campanha Outubro Rosa para o diagnóstico precoce de câncer de mama. O impasse está no fato de que, quando não há o momógrafo adaptado, as mulheres cadeirantes precisam ficar em pé, o que causa transtornos e, muitas vezes, inviabiliza a realização do exame. “Você fica igual um boneco na mão dos enfermeiros para poder colocar seu seio na máquina. Tentam te adequar ao equipamento”, descreve.Saiba mais: Vacina contra câncer de mama pode estar disponível em 8 anos Ela também ressalta a falta de preparo dos profissionais para informar as pacientes sobre a detecção de um tumor. Irene Santos, cadeirante e amiga de Sandra, soube de um nódulo na mama ao fazer a mamografia adaptada durante a campanha de 2018. “Ela seria encaminhada para uma biópsia, mas ficou desesperada quando soube da notícia. Pensou que ia morrer e simplesmente não foi fazer nada”, conta Sandra. Desde janeiro de 2016, a LBI (Lei Brasileira de Inclusão) estabelece diretrizes para a garantia dos direitos das pessoas com deficiência. Em seu artigo 18, a legislação assegura “atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário” e determina que os profissionais da área devem respeitar a dignidade e autonomia dos pacientes. Neste ano, cadeirantes puderam realizar a mamografia em 19 de outubro e serão atendidas mais uma vez no próximo sábado (9), no Hospital Municipal do Campo Limpo, na zona sul da capital paulista. A mamografia para rastreamento do tumor é o único exame que comprovadamente diminui a mortalidade por câncer de mama, de acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer) – que reduz entre 35% e 40%, segundo pesquisas. O rastreamento é a realização do exame em pessoas que não apresentam sintomas da doença, apenas para identificar possíveis indícios. O Instituto recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos façam o exame a cada dois anos. Já o diagnóstico precoce ocorre quando a pessoa já apresenta sinais. A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo afirma que os mamógrafos dos serviços estaduais são preparados para atender pacientes com deficiência, podendo adaptar a altura conforme a necessidade. A pasta informa também que, no Hospital Pérola Byington, na Bela Vista, região central, há uma iniciativa específica para atendimento a mulheres com deficiência chamada "Sábado Sem Barreiras". "Mensalmente, um sábado é reservado para atender as pacientes em consultas de rotina em ginecologia, além de exames como mamografia e papanicolau solicitados pelo médico. O objetivo é reunir, em um só dia, todo o atendimento para mulheres com deficiência, facilitando e agilizando a assistência", afirmou por meio de nota. Segundo o órgão, normalmente é realizado no último sábado do mês. "É necessário entrar em contato antecipadamente com o hospital", acrescentou.Leia também: Primeira reação ao câncer de mama é o medo da morte, diz especialista Há ainda o programa “Mulheres de Peito”, composto por serviços fixos e quatro carretas itinerantes que circulam pelo Estado para facilitar o acesso ao exame. Segundo a secretaria, nesse programa mulheres de 50 a 69 anos podem fazer o exame sem a necessidade de pedido médico. Basta apresentar RG e cartão do SUS. Já pacientes com até 49 anos devem apresentar RG, cartão do SUS e pedido médico. A programação das carretas está no site da secretaria (www.saude.sp.gov.br). Já os exames em serviços fixos como SUS paulista, AMEs, hospitais e clínicas, podem ser agendados pelo telefone 0800-779-0000. Tire todas as suas dúvidas sobre o câncer de mama: