Cérebro adaptado ajudou aves pré-históricas a sobreviver à extinção
Crânio quase intacto de ave pré-histórica ajudou cientistas a entender melhor o cérebro desses animais
Tecnologia e Ciência|Do R7
Pesquisadores da Universidade do Texas em Austin (EUA) anunciaram nesta sexta-feira (30) a descoberta de uma possível explicação para como um ramo dos antigos dinossauros sobreviveu e se transformou nas atuais aves que existem pelo planeta.
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Um estudo com um fóssil de ave pré-histórica descoberto recentemente descobriu que o modo como o cérebro se desenvolveu pode ser o motivo que levou os ancestrais das aves a sobreviverem à extinção em massa que dizimou todos os outros dinossauros.
"Os pássaros atuais têm cérebros mais complexos que todos os outros animais conhecidos, com exceção dos mamíferos", disse o autor principal do estudo, Christopher Torres. "Esse novo fóssil finalmente nos permitiu testar a ideia de que os cérebros tiveram uma grande importância na sobrevivência das aves".
Fóssil quase intacto
O fóssil tem cerca de 70 milhões de anos e foi encontrado com um crânio quase intacto, algo muito raro para esse tipo de descoberta, o que permitiu que os cientistas comparassem a ave pré-histórica com as aves atuais. Os resultados foram publicados nesta sexta na revista Science Advances.
Trata-se do novo espécime de um pássaro pré-histórico chamado Ichthyornis, que viveu no território que hoje é o Kansas (EUA) durante o final do período Cretáceo e foi extinta na mesma época que os dinossauros não-avianos.
A espécie tinha uma mistura de características de dinossauros avianos e não-avianos, como uma mandíbula com dentes, mas que terminava em um bico. O crânio intacto permitiu que os cientistas analisassem o cérebro com mais precisão. Usando tomografia computadorizada, eles usaram o crânio do Ichthyornis como um molde para fazer uma réplica 3D do cérebro, que foi comparada com réplicas semelhantes de pássaros atuais e outros dinossauros.
Os pesquisadores descobriram que o cérebro do Ichthyornis era mais parecido com os dos dinossauros não-avianos que com os das aves modernas. Particularmente, os hemisférios cerebrais — onde ocorrem funções cognitivas mais avançadas nos humanos, como fala, pensamento e emoção — são mais desenvolvidos nas aves atuais do que no Ichthyornis. O padrão sugere que essas funções podem estar ligadas à sobrevivência durante a extinção em massa.
"Se uma função do cérebro afeta a probabilidade de sobrevivência, esperamos que ela estreja presente nas espécies que existem até hoje, mas estejam ausentes nas que foram extintas, como é o caso do Ichthyornis", explicou Torres. "É isso que podemos ver aqui".
A busca por crânios de pássaros pré-históricos e dinossauros avianos é um dos principais desafios para os paleontólogos, por conta da fragilidade dos esqueletos das aves, que raramente sobrevivem inteiros à fossilização.
Crânios bem preservados são ainda mais raros, e ao mesmo tempo, são essenciais para que os cientistas consigam entender como eram os cérebros dos animais em vida.
"O Ichthyornis é chave para desvendar esse mistério", disse Julia Clarke, professora de Geociências na Universidade do Texas e co-autora do estudo. "Esse fóssil nos deixa bem mais próximos de responder algumas perguntas persistentes sobre as aves atuais e como elas sobreviveram em meio ao fim dos dinossauros".