Meio Ambiente

Tecnologia e Ciência Planeta deve atingir limite de 1,5ºC de alta de temperatura até 2030

Planeta deve atingir limite de 1,5ºC de alta de temperatura até 2030

Órgão da ONU responsabiliza os seres humanos pelo aquecimento global e afirma que algumas consequências são 'irreversíveis'

AFP
Planeta deve atingir o limite de 1.5 ºC de alta na temperatura nas próximas duas décadas

Planeta deve atingir o limite de 1.5 ºC de alta na temperatura nas próximas duas décadas

Pixabay

O aquecimento global é pior e mais rápido do que se temia. Por volta de 2030, dez anos antes do que se estimava, poderá alcançar o limite de 1,5 ºC de alta na temperatura, com riscos de desastres "sem precedentes" para a humanidade, já sacudida por ondas de calor e inundações.

Os especialistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, sigla em inglês), um orgão da ONU, responsabilizaram os seres humanos por estas alterações e advertiram que não há outra opção além de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.

O primeiro relatório de avaliação do IPCC em sete anos, aprovado na sexta-feira (5) por 195 países, analisa cinco cenários de emissões, do mais otimista ao mais pessimista.

Em todos eles, a temperatura do planeta alcançaria o limite de 1,5 ºC de alta na temperatura em relação à era pré-industrial por volta de 2030, dez anos antes do previsto nas estimativas de 2018.

"Este relatório deve pôr fim ao carvão e às energias fósseis antes que destruam o nosso planeta", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um comunicado. "As sirenes de alerta são ensurdecedoras: as emissões de gases de efeito estufa geradas pelas energias fósseis e o desmatamento estão asfixiando o nosso planeta", acrescentou

Antes de 2050, este limite seria superado, chegando inclusive a uma alta de 2 ºC se as emissões não forem reduzidas drasticamente.

Isto representaria o fracasso do Acordo de Paris, que pretendia limitar o aquecimento global a uma alta de até 2ºC ou, se possível, de até 1,5 ºC.

'A primeira salva'


O planeta já alcançou uma alta na temperatura de 1,1 ºC e começa a sofrer as consequências: incêndios que arrasam os Estados Unidos, a Grécia e a Turquia, chuvas diluvianas que inundam Alemanha ou China, termômetros beirando os 50 ºC no Canadá.

"Se acham que isto é grave, lembrem que o que vemos agora é só a primeira salva", diz Kristina Dahl, da organização União de Cientistas Preocupados (UCS).

Mesmo limitando o aquecimento a uma alta de 1,5 ºC na temperatura, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos aumentarão de forma "sem precedentes" em sua magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC.

"Este relatório deveria causar arrepios em quem o lesse (...) Mostra onde estamos e aonde vamos com as mudanças climáticas: para um buraco que continuamos cavando", avalia o climatologista Dave Reay.

"Estabilizar o clima demandará uma redução forte, rápida e sustentada das emissões de gases de efeito estufa para alcançar a neutralidade de carbono", insiste Panmao Zhai, copresidente do grupo de especialistas que elaborou a primeira parte desta avaliação do IPCC.

A segunda, prevista para fevereiro de 2022, mostrará o impacto destas mudanças e como a vida na Terra será transformada irremediavelmente em 30 anos, inclusive menos, segundo uma versão preliminar obtida pela AFP.

A terceira parte abordará as soluções possíveis e é aguardada para março.

Mas o caminho a seguir é conhecido de sobra: impulsionar a transição para uma economia descarbonizada.

"Este relatório deve pôr fim ao carvão e às energias fósseis antes que destruam nosso planeta", reivindicou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Objetivo COP26


Diante da necessidade de reduzir à metade as emissões antes de 2030 para cumprir com a meta de 1,5ºC de alta na temperauta, todos os olhares se voltam para a cúpula de líderes mundiais de novembro em Glasgow.

"Não há tempo a perder, nem lugar para desculpas", insistiu Guterres.

Por enquanto, só metade dos governos revisaram suas metas iniciais de redução de emissões.

Os compromissos adotados após o Acordo de Paris de 2015 levariam a um aumento da temperatura do planeta de 3 ºC. Isso se fossem respeitados, porque no ritmo atual, o mundo esquentaria 4 ºC ou 5 ºC.

Entre estas projeções sombrias, o IPCC traz um resquício de esperança.

No melhor cenário, o aquecimento poderia voltar ao limite de 1,5 ºC de aumento na temperatura se as emissões forem reduzidas drasticamente e se for absorvido mais CO2 do que o emitido.

Mas as técnicas que permitem recuperar em larga escala o CO2 na atmosfera ainda estão sendo estudadas, aponta o IPCC.

Consequências irreversíveis


O relatório indica que algumas consequências já são "irreversíveis".

O degelo dos polos fará com que o nível dos oceanos continue aumentando durante "séculos ou milênios".

O mar, que já subiu 20 centímetros desde 1900, ainda poderia aumentar mais meio metro até 2100 mesmo que o aquecimento seja mantido a um aumento de 2 ºC.

"Parece distante, mas milhões de crianças já nascidas ainda viverão no século XXII", destaca Jonathan Bamber, autor do relatório.

Pela primeira vez, o IPCC não descarta a chegada de "pontos de inflexão", eventos irreversíveis pouco prováveis, mas de impacto dramático, como o degelo da calota de gelo antártica ou a morte da floresta amazônica.

Mas, afirmam cientistas e ativistas, não são motivos para jogar a toalha, pelo contrário, porque cada fração de grau conta.

"Não estamos condenados ao fracasso", assegura Friederike Otto, uma das autoras.

"Não deixaremos que este relatório fique na estante (...) Vamos levá-lo conosco aos tribunais", adverte Kaisa Kosonen, do Greenpeace.

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