População de pássaros chega a 50 bilhões no planeta, aponta estudo
Pesquisa australiana, baseada em Big Data, calculou existência de seis animais para cada humano; há 7,8 bilhões de pessoas na Terra
Tecnologia e Ciência|Ricardo Segura, da EFE
Dos alfaiates, com seus característicos bicos finos e curvados para cima, ao tentilhão-zebra, um pássaro do tamanho de um pardal que é muito comum na Austrália, passando por criaturas com asas que não voam, como emas e pinguins. São todos pássaros de nosso planeta, cuja população total chega a aproximadamente 50 bilhões de exemplares - veja as fotos ao final da reportagem.
Isso equivale a seis aves para cada ser humano, levando-se em consideração que a população mundial total em 2021 é estimada em 7,8 bilhões de pessoas, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas).
O número da população de aves é o resultado de uma pesquisa da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), de Sydney, na Austrália, que foi feita com o uso de 'Big Data', uma tecnologia que consiste na análise, por computador, de conjuntos de dados extremamente grandes que revelam padrões, tendências e associações.
Este estudo baseia suas descobertas em observações da 'ciência cidadã', ou seja, feitas por pessoas de fora da comunidade científica, e em algoritmos, que são sequências de instruções de computador. Ao todo, foram calculadas em 9.700 as espécies diferentes, o que representa cerca de 92% de todas as aves existentes, de acordo com UNSW.
“Os humanos se esforçaram muito para contar os membros de nossa própria espécie. Este estudo é o primeiro esforço abrangente para contar uma série de outras espécies ”, diz o professor associado Will Cornwell, ecologista da Escola de Ciências da UNSW e coautor da pesquisa.
A importância da observação de das bases de dados
Os pesquisadores obtiveram seus números coletando quase 1 bilhão de observações de pássaros registrados no eBird (https://ebird.org), um banco de dados online de pássaros de "cientistas cidadãos".
Usando esses dados e estudos de caso detalhados disponíveis, a equipe da UNSW desenvolveu um algoritmo para calcular a população mundial real de cada espécie de ave.
Esse cálculo levou em consideração a 'detectabilidade' de cada espécie, ou seja, a probabilidade de uma pessoa ter visto essa ave e relatado o avistamento ao eBird, com base em fatores como tamanho e cor de um determinado ser com asas, se ele voa em grupo e se vive próximo a cidades, segundo UNSW.
"Nosso foco de integração de dados em grande escala poderia atuar como um modelo para calcular quantidades específicas de espécies para outros grupos de animais", disse o autor do estudo, Dr. Corey Callaghan, que concluiu esse trabalho como pesquisador da UNSW e agora está trabalhando no centro de pesquisa iDiv (www.idiv.de) na Alemanha.
“Quantificar a abundância de uma espécie é um primeiro passo crucial na conservação. Ao contar seus indivíduos, aprendemos quais espécies podem ser vulneráveis e podemos rastrear como esses padrões mudam com o tempo", explica.
O exclusivo "clube do bilhão"
O conjunto de dados do estudo inclui registros para quase todas as espécies de aves vivas atualmente. Os pesquisadores consideram que os 8% restantes, que foram excluídos por serem tão raros que não havia dados disponíveis, provavelmente não terão um grande impacto na estimativa geral.
Apenas quatro espécies de pássaros têm uma população mundial estimada em mais de 1 bilhão: o pardal (1,6 bilhão) lidera este 'clube exclusivo', seguido pelo estorninho europeu (1,3 bilhão), a gaivota-de-bico-redondo (1,2 bilhão) e a andorinha de celeiro (1,1 bilhão).
“É surpreendente que algumas espécies dominem o número total de pássaros no mundo. O que há com essas espécies, em termos evolutivos, que as tornou tão bem-sucedidas?", questiona Callaghan.
Embora algumas populações de pássaros estejam prosperando, outras parecem ser muito menos numerosas: cerca de 12% das espécies estudadas têm uma população global estimada em menos de 5.000 indivíduos, incluindo Thalasseus bernsteini (presente na China), Atrichornis clamosus (que ainda vive na Austrália) e a saracura-invisível (Habroptila wallacii, que habita a Indonésia).
“Poderemos saber como essas espécies estão evoluindo repetindo o estudo a cada 5 ou 10 anos. Se sua população está diminuindo, pode ser um verdadeiro alarme para a saúde de nosso ecossistema", avisa o professor Cornwell, que publicou seu estudo no periódico científico PNAS (The Proceedings of the National Academy of Sciences).