A proximidade do verão, que começa oficialmente no dia 21 de dezembro, traz consigo a temporada de chuvas, em especial na região Sudeste do país. Para as pessoas que mora em áreas de encosta ou próximas de morros, o período também acende o sinal de alerta para possíveis deslizamentos. O geólogo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Marcelo Gramani destaca que a população precisa entender dois tipos de chuvas: as acumuladas, que duram por alguns dias, e as concentradas, temporais repentinos tradicionais do verão. “As prolongadas, geralmente, são mais favoráveis para os deslizamentos. Não quer dizer que não aconteça com as pancadas, mas as pancadas de chuva favorecem muito mais aos fenômenos ligados às enchentes e inundações do que deslizamentos.” Para Gramani, o primeiro passo para se proteger de um possível deslocamento de terra é saber se a área em que o imóvel foi construído é um local propenso a deslizamentos. O geólogo explicou que prefeituras e órgãos, como a Defesa Civil, costumam ter mapas públicos de áreas sensíveis a esse tipo de fenômeno. Outra ação que pode ser um diferencial para sobreviver a um deslizamento é fiscalizar com cuidado e atenção o imóvel e terreno em que a edificação foi construída. Trincas e rachaduras na parede de uma casa, água saindo do chão e muros ou postes inclinados podem significar movimentação de solo. “Se as pessoas conseguirem enxergar, identificar esses pontos, elas podem acionar a Defesa Civil do munícipio, procurar o setor de engenharia e obras da prefeitura para que essas equipes analisem detalhadamente [o terreno], com conhecimento”, explicou Gramani. De acordo com o geólogo, as pessoas devem pensar na autoproteção antes de qualquer bem material. Apesar da maioria dos deslizamentos serem repentinos, as chuvas e o tipo de terreno podem dar indicações de um possível acidente. “Sair de casa é complicado, mas é preciso fugir das situações mais críticas”. Diferente de terremotos, no qual a população é instruída a ficar embaixo de mesas e portas, os deslizamentos, que podem pesar mais de 1,5 tonelada por m³ de terra, não costumam deixar espaços como bolsões de ar para que as pessoas se abriguem. “O deslizamento envolve uma grande quantidade de material”, conta Gramani. “Aquela massa somada à água tem peso enorme, o que destrói as moradias e acaba com qualquer espaço. Diferente dos terremotos, em que se indica ficar embaixo das mesas, o escorregamento destrói lateralmente a casa com uma massa muito fluída”. Gramani destaca que os moradores de casas em encostas devem usar a arquitetura dos imóveis ao seu favor. Como a maioria das edificações tem a parte dos fundos para o morro, o geólogo explica que muitas vezes os cômodos da entrada podem ser menos atingidos pelo deslocamento de terra, dando chances maiores de sobrevivência aos moradores. O desabamento da gruta Duas Bocas, em Altinópolis (SP), matou na madrugada do último domingo (31) nove pessoas, entre instrutores e bombeiros civis, que participavam de um treinamento de busca e resgate em cavernas. Gramani esteve no local e afirmou que não acredita que as vítimas tenham descumprido procedimentos durante a incursão. O geólogo destacou que treinamentos como este ocorrem rotineiramente e sem vítimas. Para o especialista, é importante que guias e turistas tenham conhecimento dos riscos que cada tipo de ambiente pode proporcionar. “É importante ter informação dos locais que vamos visitar, dos riscos envolvidos, do preparo para um eventual acidente. A gente, como turista, cidadão, precisa saber o que fazer para fugir de um cenário perigoso.” Gramani conclui dizendo que as autoridades precisam investir em programas de monitoramento para aumentar a previsibilidade de desastres como deslizamentos de encostas.