Número de assaltos a ônibus em Salvador aumenta 64% no primeiro semestre de 2015
Segundo Procon-Bahia, a vítima de assalto pode ser reparada
Bahia|Do R7

Perdeu, perdeu! Quem já ouviu essas palavras (expressão) dentro de um ônibus, precedida daquele gelo entre o cócix e a nuca ou no sentido contrário, já sabe que esse é um sintético anúncio de assalto. Nessa hora, a única solução é rezar para o criminoso levar apenas sua bolsa, carteira com documentos, cartões, dinheiro, celular com os contatos do whatsapp, caderno de anotações, foto do filho recém nascido e deixar sua vida.
O número de assaltos a ônibus na capital baiana aumentou mais de 60% no primeiro semestre de 2015, em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo informações divulgadas pela SSP- BA (Secretaria de Segurança Pública da Bahia), nos seis primeiros meses de 2014, foram contabilizados 796 registros desse tipo de ocorrências, contra 1.309 assaltos registrados neste ano. Os dados revelam elevação de 64%.
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Normalmente, os assaltantes entram nos coletivos, impõem medo e saqueiam os passageiros que estão a caminho da faculdade, do dentista ou qualquer outro destino. Foi a caminho do trabalho que a dona de casa Kátia Silva Santos Barbosa foi assaltada pela primeira vez. O ônibus em que estava foi invadido por dois criminosos. Na ocasião, ela estava grávida de quatro meses. O susto não afetou a gestação da vítima, que ainda foi assaltada mais uma vez dentro de um coletivo.
— Eles entraram no ônibus xingando, tocando terror, armados. Um ficou na frente com o motorista e outro ficou tirando os pertences das pessoas, mandando abri a bolsa.
O primeiro assalto deixou traumas em Kátia que, atualmente, não consegue utilizar o transporte público em Salvador.
— Eu nem ando mais de ônibus. Eu pego mototáxi ou táxi.
Para muitas pessoas em Salvador, apesar do alto índice de roubos, o ônibus é a único meio de condução. Segundo dados da Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade), 1 milhão e 300 passageiros utilizam transporte público diariamente na capital, que possui frota de 2.700 veículos.
Até mesmo os baleiros, trabalhadores que entram nos coletivos para vender produtos, estão sendo alvo da desconfiança dos usuários do transporte coletivo em Salvador. Mas, a preocupação tem fundamento, porque, recentemente, a Polícia Civil prendeu criminosos que se passavam por vendedores para cometer crimes nos ônibus.
Os usuários do transporte coletivo na Bahia vivem atormentados com a provável ameaçada de ser assaltado a qualquer hora e em qualquer lugar da cidade. Encontrar alguém que já foi vítima da malandragem dentro do coletivo em Salvador não é muito difícil.
A universitária Mércia Rahiara foi assaltada pela primeira vez quando estava voltando da universidade, em Ondina. Ela conta que dois meninos entraram pela frente e ficaram ao lado da catraca. Ainda segundo a universitária, eles desceram próximo a Ceasa do Rio Vermelho e ficaram sentados em um ponto. Mas, para azar dos passageiros, o motorista abriu a porta do meio e buzinou. Como dizem na Bahia, a dupla não contou conversa e entrou no mesmo ônibus. Eles esperaram o veículo passar pela região do Parque de Exposições, para anunciar o assalto. Os criminosos roubaram os celulares dos passageiros e fugiram. Uma vítima teve um prejuízo ainda maior, pois demorou a pegar o aparelho e eles levaram a mochila dela.
— O motorista não se quer levou a gente pra delegacia de furtos. Eu tive que ir sozinha, outro dia. E também não deu nenhuma assistência a gente.
Revoltada, a estudante de arquitetura e urbanismo da UFBA (Universidade federal da Bahia) relembra que ainda tentou entrar em contato com a empresa, que na época era Rio Vermelho, mas não foi atendida pelo funcionário do setor de reclamação. Ela registrou a queixa na delegacia.
— Eu passei 15 dias tentando falar com esse cara (funcionário da empresa) e eu não consegui. E eu acabei desistindo, porque ia ser um desgaste muito grande.
Com o crescimento das ocorrências, os passageiros acabam adotando estratégias para se proteger dos criminosos, que têm como alvo os celulares. Mércia afirma que já escondeu o aparelho sempre que se sentia ameaçada.
— Minha prevenção hoje em dia... Assim que eu comprei um novo celular, foi colocar no seguro. Pelo menos você anda mais tranquilo na rua.
Depois da experiência estressante, a estudante releva que suspeita de qualquer pessoa que entra no coletivo. A desconfiança vai desde o idoso até mesmo o representante de instituição que trabalha com recuperação de dependente químico.
—Você fica analisando todo mundo que entra no ônibus, todo mundo. Você olha pros lados, você não pode ouvir um barulho diferente que já fica na “nóia” mesmo. Bota o celular nas calças e anda com outro celular, que é o que o povo chama de ‘celular do roubo’, pra poder não correr esse risco.
Uma luz no fim do túnel?!
Superado o susto após o assalto, os passageiros ainda têm que administrar os prejuízos financeiros. Os criminosos fogem com bolsas, carteiras, celulares, relógios, dinheiro do aluguel, os cartões, documentos, entre outros pertences, e deixam apenas a revolta das vítimas.
Porém, muitas delas não sabem que o prejuízo poderia ser ressarcido pelas empresas de ônibus. Segundo Procon-Bahia, em situações específicas, a vítima de assalto pode ser reparada.
—Para responsabilizar o fornecedor é necessária a participação deste, ainda que indireta no evento danoso, exemplo: o motorista parou fora do ponto e o assaltante entrou no ônibus.
Mas, para que a situação seja concretizada, o passageiro terá que percorrer uma via crucis. Ainda segundo o órgão de defesa do consumidor, o passageiro terá que comprovar que há culpa do funcionário da empresa no crime. Imagens de câmeras de segurança de uma via, por exemplo, poderiam ser usadas como prova da responsabilidade do rodoviário.















