Chamado nos bastidores de 'primeiro-ministro', Mercadante vira porta-voz informal do governo
Ministro se destaca após protestos, ganha confiança de Dilma e deve ser candidato em 2018
Brasil|Kamilla Dourado, do R7, em Brasília
Em janeiro de 2012, o economista e professor Aloizio Mercadante deixou o comando do Ministério da Ciência e Tecnologia para assumir o cargo de ministro da Educação no lugar de Fernando Haddad, que, na época, passou a se concentrar na candidatura à Prefeitura de São Paulo. Desde então, com um dos principais ministérios sob sua batuta, Mercadante ganhou ainda mais a confiança de Dilma e, recentemente, passou a acumular informalmente a função de articulador político do governo.
Quando Dilma e Mercadante se reúnem, os assessores do Planalto chegam a usar os termos "PR" e "PM" para designá-los respectivamente como "Presidente da República" e "Primeiro-Ministro". O tratamento reflete a importância do ministro da Educação no governo. Outro apelido de Mercadante é o de clínico-geral da União, por atuar e falar sobre diversos assuntos do governo, como reforma política, saúde, educação.
Após a repercussão das manifestações que se espalharam pelas ruas do País em junho, o papel de mediador assumido por Mercadante ficou mais evidente. Coube ao ministro intermediar as relações do Planalto com o Congresso e tentar “afinar” o discurso com a base aliada, além de atuar como porta-voz de Dilma para todo assunto que envolvesse os gritos que ecoavam das ruas.
Kotscko: articulado, Mercadante fala sobre assuntos variados
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O perfil gerencial da presidente Dilma Rousseff deixa o caminho aberto para a atuação do articulador político, cujo "papel deveria crescer nos momentos de crise", segundo o cientista político e professor de Teoria Política e Coordenador do Laboratório de Política e Governo da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), Milton Lahuerta.
— Quanto mais ativo for o presidente da República, menos importância tem o ministro de Relações Institucionais. Após uma experiência de uma presidência hiperativa, na qual o próprio presidente Lula era o responsável pela articulação política, passamos a viver sob uma situação diferente, com uma presidente que tem um perfil mais de 'gerente'.
Durante o "mês da crise" para os governos municipais, estaduais e federal, Mercadante se destacou e praticamente apagou a atuação das ministras Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais — as articuladoras oficiais do governo.
Segundo levantamento feito pelo R7, com base na agenda oficial da presidente Dilma, desde o último dia 24, quando ela anunciou a intenção de fazer um plebiscito, a presidente teve, ao menos, cinco reuniões a mais com Mercadante do que com Ideli para tratar da articulação Planalto-Congresso. Ontem, o primeiro compromisso oficial da presidente foi com o ministro da Educação.
Em recente entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o próprio Mercadante cobrou dos ministros maior atuação para a interação entre governo e parlamentares.
— A articulação política do governo precisa ter muito mais participação dos ministros. Os ministros precisam ter mais participação no Congresso, dialogar mais com os parlamentares, receber os parlamentares, atender demandas de parlamentares.
Congresso
No Senado, a atuação de Mercadante ganha elogios de alguns parlamentares. Em plenário, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu o ministro da Educação, que agora também faz a intermediação política.
— O senador Mercadante está mostrando uma capacidade impressionante: quando estava na Educação, era ministro da Educação e fazendo o planejamento, porque a especialidade dele é fazendo a economia. E, de repente, vai para a política, coisa que, de certa forma, nunca fez. Um homem competente, responsável, mas uma simpatia difícil. Era difícil no trato. E agora até vemos ele simpático, alegre, aparecendo. E dizem que está a caminho da Casa Civil.
Alguns parlamentares, porém, criticam o atual papel de Mercadante. Em plenário, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) chegou a pedir a saída do ministro da pasta.
— Quero dizer aqui que me preocupa quem está cuidando hoje do Ministério da Educação. A sensação que tenho é de que o ministério está abandonado, porque o ministro Mercadante hoje é o porta-voz da presidente, é o assessor da presidenta.
Na Câmara dos Deputados, Ronaldo Fonseca (PR-DF) também usou a tribuna para cobrar do ministro da Educação que exerça a sua função oficial.
— Precisamos de um ministro da Educação. Temos tudo hoje, menos um ministro da Educação.
Além de ser ministro e herdar a tarefa informal de fazer o "meio de campo" entre o Executivo, o Legislativo e as ruas, Mercadante já foi escalado como um dos coordenadores da campanha da presidente à reeleição e é cotado para ser sucessor de Dilma em 2018. Oficialmente, governo nada confirma.
Relações Institucionais
O ministro de Relações Institucionais tem a função de dialogar com a classe política, funcionando como um elo de articulação entre o poder Executivo e os demais poderes (Legislativo e Judiciário).
O equipamento de articulação política de um governo é formado pela Casa Civil, da organização da Secretaria Geral da Presidência e da constituição da Secretaria de Estado e Relações Institucionais.