Cisternas do Nordeste podem inspirar modelo de captação de água e resolver seca de SP
Projeto já funciona em comunidade do RJ e pode ser adaptado aos prédios da capital paulista
Brasil|Carolina Martins, do R7, enviada a Natal (RN)*
A tecnologia social aplicada no semiárido do Nordeste, com a construção de cisternas pré-moldadas para captar água da chuva, pode ser uma solução para resolver o problema da falta de água em São Paulo. A avaliação é de especialistas no sistema, que acreditam que a reutilização da água será inevitável no futuro.
A partir desta segunda-feira (12), o R7 traz uma série de reportagens sobre a escassez de água no Nordeste e as alternativas que a região encontra para enfrentar o drama da falta d'água.
Algumas cidades de São Paulo já sofrem com racionamento e o alerta agora é para a possível escassez hídrica durante a Copa do Mundo, que começa no próximo mês. Isso porque a principal fonte de abastecimento de água do Estado, o Sistema Cantareira, está com o nível abaixo de 10%.
Se a falta de chuva traz um problema novo para São Paulo, ela é antiga conhecida da população que vive no semiárido. Nessa região, que engloba nove Estados brasileiros, a estiagem dura até nove meses todos os anos e as famílias têm dificuldade de encontrar água para beber ou cozinhar.
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Por isso, as famílias estão ganhando cisternas com capacidade de armazenar até 16 mil litros da água que cai do céu nos três meses chuvosos. É essa água captada da chuva que abastece as casas durante o resto do ano.
Em São Paulo, a medida também pode ser usada para economizar água. O presidente da FBB (Fundação Banco do Brasil), Caetano Minchillo, avalia que se os grandes prédios utilizassem sistemas de captação de chuva, muita água poderia ser reutilizada.
— Não digo construir cisternas, mas será que cada prédio daquele de São Paulo não deveria captar água da chuva e utilizar de uma outra forma? É claro que daria para fazer isso.
Seca na cidade
A FBB é um dos parceiros do governo federal para a construção de 750 mil cisternas no semiárido durante o governo Dilma Rousseff. A ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), também é uma das entidades que atuam no sistema. O investimento total gira em torno de R$ 2 bilhões e vai beneficiar 17% da população do semiárido.
A coordenadora de Comunicação da Asa, Fernanda Cruz, analisa que a tecnologia das cisternas pode ser reaplicada nos grandes centros urbanos, desde que relevados alguns aspectos. Isso porque, devido à poluição, a chuva que cai nas cidades é mais tóxica.
— Existem algumas experiências em centros urbanos e é possível, sim. Estamos falando em captação de água de chuva. Mas as condições da chuva da área rural são diferentes da área urbana, inclusive a qualidade da água que cai. Há fatores como poluição e condições de telhado que precisam ser observados.
A ideia é armazenar a água da chuva e, se não for própria para consumo, utilizá-la para outros tipos de atividade, como jardinagem, lavagem de carros ou limpeza de residências, por exemplo.
No Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão foi pioneiro no sistema de cisterna pré-moldada. Em 2012, durante a realização do Fórum Rio +20, a comunidade adaptou o sistema utilizado no semiárido nordestino e construiu uma cisterna para captar a água e reutilizá-la na produção de hortaliças.
Mesmo sem passar por problemas de estiagem, a comunidade do Alemão decidiu aplicar uma metodologia sustentável para preservar os recursos hídricos.
O superintendente do Banco do Brasil no Rio Grande do Norte, que apoia o sistema de cisternas no semiárido, comemora a iniciativa de reaplicar a tecnologia nos centros urbanos. Para ele, a captação de água da chuva deve ser usada de maneira preventiva.
— Mudança climática é uma coisa que está aí, que chegou e a gente precisa entender que precisamos cuidar do nosso País de uma maneira mais estruturada.
*A repórter viajou a convite da Fundação Banco do Brasil