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Colonização, influência dos gringos e geografia explicam sotaques e dialetos do Brasil

Variantes da língua portuguesa nascem com as novas gerações, de acordo com especialistas

Brasil|Raphael Hakime, do R7, enviado a Jena, na Alemanha*

Brasil tem infinidade de sotaques e dialetos, segundo especialistas
Brasil tem infinidade de sotaques e dialetos, segundo especialistas Brasil tem infinidade de sotaques e dialetos, segundo especialistas

O gaúcho tem seu jeito característico de falar. Todo mundo reconhece o sotaque do carioca, repleto de sons de “x” em palavras que acabam com “s”. Quem não percebe a fala cantada do mineiro? O paulistano sofreu grande influência dos imigrantes italianos e também têm seu próprio som ao falar. Já o nordestino tem um dialeto peculiar.

Por que o Brasil tem tantos dialetos? É possível contar as diferentes formas de falar no País? Especialistas ouvidos pela reportagem do R7 garantem ser difícil precisar quantos sotaques — ou mesmo dialetos — existem no Brasil, mas ninguém duvida que a variedade de sons e palavras enriquece a língua portuguesa. Eles vão além: é um privilégio.

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Os dialetos e os sotaques estão relacionados à pronúncia do vocabulário de uma determinada língua e é impossível de frear esse processo, explica o Dr. Paul Heggarty, cientista do departamento de Linguística e Evolução Cultural do Instituto Max Plant para Ciências e História Humana.

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— A língua de um País muda a todo momento. Ninguém pode parar esse processo. Então, em um País tão grande como o Brasil, as pessoas de Belém, por exemplo, não estão em contato com as pessoas do sul do País todos os dias. As mudanças acontecem, mas elas não devem ser as mesmas em regiões diferentes.

A principal razão para tantos dialetos (chamados atualmente de variantes da língua) e sotaques é geográfica, explica a coordenadora do laboratório de línguas e literaturas indígenas da UnB (Universidade de Brasília), Ana Suelly Arruda Câmara Cabral.

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— Toda língua se cinde, ou seja, ela tem cisões, que se dão por causa dos afastamentos geográficos. Toda língua está em constante processo de mudança. Então, desde a colonização do Brasil, quando vinham os navios de portugueses, vinham pessoas de diferentes regiões de Portugal. Quinhentos anos depois do processo de colonização, várias regiões ficaram isoladas, sem contato.

Como exemplo, a professora de linguística cita “o sertão do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Ceará, que não tinha contato com Minas Gerais, não tinha contato com o Rio de Janeiro”.

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— Então, essa disposição geográfica por si só já se encarrega de fazer com que as variantes [dialetos] se diferenciem mais. Algumas são mais suscetíveis a empréstimos do estrangeiro e outras culturas. [...] As línguas indígenas, as línguas africanas, os holandeses, os portugueses... influenciaram no português. Existem ainda as influências dialetais, ou seja, entre um dialeto e outro.

Novas gerações

Heggarty associa as mudanças na língua e dos sotaques às novas gerações: “Algumas dessas mudanças acontecem por causa do aprendizado, uma vez que toda hora uma nova geração aprende a língua e tem uma tendência de fazer algumas mudanças”.

— Algumas delas são corrigidas pelos pais apesar de que nem tudo pode ser reparado. Quem não faz isso? Se você olha o universo de mudanças fonéticas, tem uma clara tendência de se fazer a pronúncia mais fácil e mais rápida. Isso pertence às novas gerações. É mais fácil perder um som do que introduzir um novo.

O especialista admite que existe, sim, a possibilidade de um sotaque — e mesmo um dialeto — desaparecer, principalmente em países menores e com governos rígidos com a língua.

— Algumas tendências sociais conduzem ao fim de alguns acentos. Isso vem acontecendo em alguns países europeus quando a nação tem um governo central com uma educação severa. Então, todo mundo vai para a escola por 20 anos e assistem televisão sempre do mesmo jeito.

Porém, a tendência é uma população fazer um esforço extra para manter seu próprio modo de falar. Heggarty diz que sempre há “uma chama acesa para manter a identificação regional de uma população”.

— As pessoas não querem, muitas vezes, perder o seu sotaque, então elas até aprendem a língua formal e correta em algum nível, mas eles querem manter sua própria identidade. É por isso que alguém que sai do sul do Brasil e vai para o norte mantém seu próprio sotaque. Ele não quer negar suas origens.

*O jornalista viajou a convite do Daad (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico)

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