Com doações de restritas, aplicativos de celular viram opção para aproximar candidato e eleitor nas eleições
Nova legislação proíbe repasses de empresas, mas libera transferência por pessoas físicas
Brasil|Raphael Hakime, do R7
Após a minirreforma eleitoral, aprovada pelo Congresso e sancionada pela Presidência da República no ano passado, as regras de campanha mudaram e já valem nas Eleições 2016. A partir deste ano, os candidatos não podem mais receber recursos de empresas — antes, a principal fonte de financiamento. Agora, só pessoa física pode doar dinheiro para campanha.
Com a economia em crise e a descrença do brasileiro com a política, principalmente como reflexo da Operação Lava Jato, quase ninguém se dispõe a doar dinheiro para os candidatos. Por essas razões, as campanhas eleitorais de 2016 prometem ser “mais eletrônica e virtual”, focadas nas redes sociais e, sobretudo, nos smartphones.
Como se tornar conhecido e conquistar o voto desconfiado do eleitor com pouco dinheiro disponível? Os aplicativos de celular se tornaram uma alternativa interessante para candidatos famosos e anônimos conseguirem apoio nas urnas. Dois deles, o Candizap e o Política na Mão, pretendem estreitar o relacionamento entre candidato e eleitor na palma da mão.
Doar dinheiro para políticos pode acabar com a corrupção
Após atuar em 22 campanhas eleitorais, o idealizador e criador do Candizap, o publicitário José Américo Moreira da Silva, explica que a ideia surgiu logo após a criação da nova legislação, que limita o financiamento de campanha.
— Percebi que as dificuldades financeiras seriam imensas. [...] Me chamou a atenção que os vereadores reclamavam não só da redução da verba, como da redução do espaço da mídia eletrônica, na campanha de rádio e TV. [...] Eles se queixavam muito porque só aparecia quem era apadrinhado pelo partido. Percebi, nessa reclamação deles, que poderia criar um canal de exposição. Aí, vi que a melhor forma seria criar um aplicativo.
O aplicativo tem a função de “criar um canal específico para vereadores durante a campanha eleitoral”, explica o publicitário.
— É focado só em vereador porque, nesse ano, mais de 550 mil cidadãos vão concorrer ao cargo, para pouco mais de 50 mil vagas no Brasil todo. Imaginamos criar uma página que seja um canal 24h online em que os vereadores pudessem aparecer e compartilhar ideias, propostas, fotos, vídeos e espalhar pelas redes sociais. É um aplicativo que cria um diário online da campanha do candidato.
Para o candidato, a adesão ao Candizap custa R$ 799 — para o eleitor, basta se cadastrar para receber fotos, vídeos e notícias — e dá direito a uma licença de um ano. Se ele quiser, porém, assinar o serviço durante o período de campanha eleitoral apenas, o valor cai para R$ 95. Além de aproximar candidato e eleitor, o aplicativo oferece consultoria para redes sociais — como melhores horários para postar no Facebook e no Twitter — e detalhes da legislação eleitoral.
Outro aplicativo ao alcance dos candidatos é o Política na Mão, criado Giovanni D'Assumpção, Lu Assunção e Leandro Assunção. Giovanni faz questão de apresentar a ferramenta como “completamente apartidária, gratuita para todos os candidatos e toda a população”. Apesar de pronto há quatro meses, o aplicativo permanece no “forno” até esta terça-feira, quando começa a campanha eleitoral autorizada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Funciona assim: cada candidato faz seu perfil gratuitamente no aplicativo, incluindo vídeos, agenda de campanha, as próprias redes sociais e apresenta seus principais projetos para a gestão pública, divididos em categorias. Ele é obrigado a mostrar ideias em sete categorias, um filtro para servir de triagem para o eleitor. “É para fazer um match [termo no aplicativo Tinder quando uma pessoa se interessa pela outra] com o eleitor”, diz D’Assunção.
Já o eleitor baixa o aplicativo no celular e escolhe uma cidade em que vota. Em seguida, ele indica as áreas em que tem interesse — como saúde e educação — e o aplicativo encontra o candidato por meio das propostas cadastradas por ele, explica D’Assunção.
— Antes, o marketing político tinha o político indo atrás do eleitor sempre. Hoje, as pessoas estão indo atrás do que elas querem. [...] O eleitor queria buscar informação, mas não tinha um canal. O eleitor vai falar o que ele quer, a gente faz uma consulta e apresenta para ele o candidato. É uma inversão de papeis.
O criador do Política na Mão explica que, inicialmente, o trio pensou em cobrar uma taxa de todos os candidatos, mas diz que esbarrou na questão da isonomia (prevista na legislação eleitoral). Apesar de gratuito, o candidato que quiser receber mais detalhes da campanha virtual pode assinar um serviço extra do Política na Mão, que custa R$ 99.
— O candidato, se ele quiser, é um opcional, ele vai pagar uma taxa de R$ 99 para ter uma conta própria, e com essa taxa ele vai ter um relatório em tempo real durante a campanha, mostrando o que a população está querendo saber. São gráficos. É um painel de controle, muito simples.
Tanto o Política na Mão como o Candizap se apresentam como opções para os candidatos com menos recursos. D’Assunção explica que “a principal função do aplicativo [Política na Mão] é democratizar a informação da campanha eleitoral”. Já José Américo, criador do Candizap, enfatiza o potencial da tecnologia de ajudar desconhecidos nas Eleições 2016.
— O eleitor vai ter a oportunidade de conhecer um candidato que nunca teve espaço no rádio ou na televisão. A ideia é dar mais condições de igualdade na disputa entre os vereadores, seja mais pobre, mais rico ou do meio urbano ou rural. O aplicativo democratiza o espaço entre os candidatos.
Serviço
Candizap
Taxa de adesão: R$ 95 para licença para o período eleitoral e R$ 799 para o período de um ano
Já disponível para sistemas Android e iOS
Foco: candidatos a vereador
A que se propõe: criar um diário online do candidato, com integração com redes sociais
http://candizap.vote/lps/candidato
Política na Mão
Taxa de adesão: gratuito, mas serviço extra com relatórios custa R$ 99
Disponível para download a partir de quinta-feira (18)
Foco: candidatos em geral
A que se propõe: estreitar relação, via interesses do eleitor e propostas do candidato
www.politicanamao.com.br