Corrupção nas Olimpíadas passa imagem de povo incapaz, diz juiz
Marcelo Bretas autorizou prisões e apreensões na Operação Jogo Sujo
Brasil|Fernando Mellis, do R7
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, afirmou em seu despacho que o caso de uma suposta compra de votos para a escolha da capital fluminense como sede das Olimpíadas de 2016 pode transmitir uma mensagem equivocada ao mundo.
“Se forem confirmadas as suspeitas trazidas ao Ministério Público Federal do Brasil pelo Ministério Público da França, dito comportamento teria o potencial de transmitir mundialmente a mensagem de que o povo brasileiro é incapaz de alcançar conquistas legítimas, baseadas na qualidade de seu povo, suas habilidades pessoais e competências gerenciais”, escreveu.
O magistrado acrescenta que a imagem de que no Brasil tudo se conquista por meio de corrupção é falsa e que, por isso, um caso como esse merece “rigorosa atuação do Poder Judiciário”.
A operação Jogo Sujo apura o pagamento de, ao menos, US$ 1,5 milhão a membros do Comitê Olímpico Internacional para que o órgão escolhesse o Rio de Janeiro como sede dos jogos.
Autoridades da França pediram a cooperação do Brasil durante uma investigação envolvendo a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, em inglês).
Os investigadores franceses dizem que Papa Massata Diack, filho do presidente da federação, Lamine Diack, usaria a influência do pai para negociar votos na escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Nesse contexto, surge o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, dono da Facility, empresa que no governo de Sérgio Cabral teve contratos na casa de R$ 3 bilhões com o Estado do Rio de Janeiro.
Era por meio de uma conta batizada de Matlock, em um banco no paraíso fiscal de Antígua e Barbuda, que Soares Filho pagava propina a Cabral: US$ 10 milhões no total, segundo os investigadores.
Foi também dessa conta que os investigadores franceses identificaram uma transferência feita para a conta pessoal de Papa Diack.
“A transferência, alguns dias antes da votação, de uma soma total de US$ 2 milhões a favor de Papa Massta Diack, pessoalmente ou via a sua sociedade Pamodzi Consulting, para uma sociedade que pertence a um empresário brasileiro que manteve relações de negócios suspeitas ao âmbito de contratos públicos passados com o Estado e a cidade do rio de Janeiro, reforça a hipótese de uma compra de votação”, disseram as autoridades francesas.
O nome do presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016, Carlos Nuzman, também é citado nas investigações. Segundo o Ministério Público Federal, ele viajou em 2009 à Nigéria para apresentar o Rio de Janeiro como sede dos jogos e teria pago uma quantia para garantir a escolha da cidade.
“Constata-se que no período de quinze meses (janeiro de 2014 a abril de 2015), foram efetuados saques em espécie na conta do Comitê Olímpico Brasileiro, do qual, repita-se, Carlos Arhtur Nuzman era presidente, em valores abaixo do usualmente investigado pelo COAF [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], mas que no totalizam R$ 1.421.903,00”, diz Bretas no despacho.
O juiz determinou a prisão do empresário Arthur César de Menezes Soares Filho e da sócia dele, Eliane Pereira Cavalcanti. Nuzman foi intimado para depor e está proibido de deixar o País.
Bretas ainda inseriu os nomes de Arthur e Eliane na difusão vermelha da Interpol, por ser possível que ele esteja fora do País. A sócia foi presa ontem em um apartamento em Laranjeiras, zona sul do Rio.
Também foi determinado o bloqueio de bens de todos os investigados no valor de R$ 1 bilhão.