'Cultura' e vontade popular devem definir futuro do horário de verão
Novos hábitos mudaram uso da energia e tornaram programa sem função
Brasil|Diego Junqueira e Raphael Hakime, do R7
Adotado desde 1931, o horário de verão sempre dividiu os brasileiros: parte aprova 1 hora a mais de luz natural, enquanto outra parte reclama de acordar quando ainda está escuro (você gosta ou odeia o horário de verão? Vote na enquete abaixo).
Discussões à parte, o governo estuda extinguir o horário de verão já em 2017. A medida não provoca mais efeito significativo na economia de energia e na redução de riscos de sobrecarga do sistema elétrico.
A manutenção do horário de verão, previsto para começar em 15 de outubro, deverá ficar a cargo de uma decisão política, considerando a questão cultural, e, em último caso, do desejo da sociedade brasileira. O governo fará uma enquete online para decidir sobre o assunto.
O presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, explica que houve uma mudança de hábito da sociedade brasileira que inviabiliza economicamente o horário de verão. "Até algum tempo atrás, o momento de pico surgia no início da noite, das 17h às 20h, porque era um horário que conjugava alguma atividade industrial e empresarial com a iluminação pública e o acender das luzes nas residências, uso de chuveiro elétrico e coisas desse tipo", lembra.
— De uns anos para cá, o perfil de consumo diário de energia foi se modificando, de tal maneira que hoje em dia o que se observa é que o pico de consumo não necessariamente ocorre mais no início da noite e sim no meio da tarde. Ele ocorre geralmente pouco antes de 15h até 17h. Depois cai um pouco e, quando chega próximo das 18h, volta a subir para a mesma altura de 15h às 17h.
Com isso, o "pico de demanda", que é aquele momento em que o sistema precisa estar dimensionado para atender, está no meio da tarde, diz Sales. "Se deslocar o horário de verão você não atinge, porque você tem luz do dia do mesmo jeito [às 15h]", explica.
— Em síntese, o grande benefício do horário de verão que é a diminuição do consumo na ponta (que era significativo), não é mais significativo porque a ponta não é mais no entardecer, no final do dia. Agora é no meio do dia. Portanto, o horário de verão não demonstra grandes economias.
O último relatório do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) constata que, apesar da pequena economia, "a adoção do HV [Horário de Verão] traz benefícios para a operação do sistema, principalmente devido à redução da demanda no horário de ponta. Para o consumidor final, o benefício, além dos ganhos de lazer, turismo e segurança, pode ser traduzido no aumento evitado na tarifa".
Quem vai decidir?
O Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico, vinculado ao MME (Ministério de Minas e Energia), que reúne membros do ministério e de agências como o ONS, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), debateu em reunião no início de agosto a efetividade do horário de verão, cuja economia de energia estaria próxima do zero.
Para o grupo, "a adoção desta política pública atualmente traz resultados próximos à neutralidade para o consumidor brasileiro de energia elétrica, tanto em relação à economia de energia, quanto para a redução da demanda máxima do sistema".
A decisão sobre ter ou não o horário de verão deverá ficar nas mãos da própria sociedade brasileira. Apesar de não ser mais significativo manter o horário de verão para o setor elétrico, Sales lembra que existem "considerações de outra natureza, que tem a ver com hábitos da sociedade e aí transcende o setor elétrico".
— São os hábitos da sociedade, expressos por setores como o turismo, por exemplo. Tem casos de países que mantiveram o horário de verão apenas para atender o desejo da maioria da sociedade. O povo gosta de contar com 1 hora a mais de luz do sol para isso. A decisão é menos do ponto de vista elétrico, da economia de energia, do que de atender o desejo da sociedade. Não existe problema nenhum em manter o horário de verão porque causa um efeito pequeno no setor elétrico. Muito pequeno, mas positivo.
À reportagem do R7, a Casa Civil, que deverá bater o martelo sobre o assunto, se limitou a informar que "o governo está avaliando a conveniência ou não do tema horário de verão".