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Dilma se diz “injustiçada” e afirma que teve sonhos e direitos “torturados”

Presidente criticou duramente Eduardo Cunha em razão de suas contas no exterior

Brasil|Do R7

Dilma afirmou ter "ânimo e coragem" para enfrentar o processo
Dilma afirmou ter "ânimo e coragem" para enfrentar o processo

A presidente Dilma Rousseff afirmou na tarde desta segunda-feira (18) que se sente “injustiçada” com a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar, por ampla maioria, a abertura do processo de impeachment contra seu mandato. Em seu primeiro pronunciamento após a derrota, Dilma fez um discurso recheado de críticas ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ela afirmou mais uma vez que enfrenta “um golpe de estado” e que teve seus sonhos e direitos “torturados”.

Dilma voltou a insistir que não existe crime de responsabilidade contra ela e que os debates ocorridos ontem na Câmara, durante a votação de admissibilidade do processo, não discutiram o assunto.

— Eu assisti ao longo da noite de ontem a todas as intervenções, e não vi uma discussão sobre o crime de responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente no Brasil, que é o que a constituição prevê.

Utilizando os argumentos usados por sua defesa, Dilma relembrou que outros presidentes da República se utilizaram das pedaladas fiscais e que essas decisões são tomadas após análises jurídicas e técnicas.


— Os atos pelos quais eles me acusam foram praticados por outros presidentes antes de mim, e não se caracterizaram como atos ilegais ou criminosos. Foram considerados legais. Portanto, quando eu me sinto indignada e injustiçada, é porque a mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém. (...) Quando um presidente pratica atos administrativos, ele faz baseado em uma cadeia de decisões, com pareceres técnicos, análises, avaliações jurídicas e, a partir daí, o presidente assina.

A presidente relembrou seus tempos de luta durante a ditadura cívico-militar (1964-1985) e afirmou que tem "força, ânimo e coragem" para enfrentar uma luta que está "no início" e será "longa e demorada".


— Eu não vou me abater, eu não vou me deixar paralisar por isso, vou continuar lutando, como fiz em toda a minha vida. Aliás, eu comecei lutando numa época em que era muito difícil lutar, a época da ditadura aberta e escancarada, que te torturava fisicamente e que matava e tirava a vida as pessoas. Agora vivo na democracia, e de uma certa forma me sinto tendo meus sonhos torturados, meus direitos torturados. Agora, não vão matar em mim a esperança, porque eu sei que a democracia é sempre o lado certo da história, e isso quem me ensinou foi a história do meu país.

Cunha e Temer


O discurso foi marcado, contudo, por críticas diretas a Eduardo Cunha e ao vice-presidente Michel Temer — beneficiário direto em caso de impeachment, já que assumiria o comando do País.

— Os atos [pedaladas fiscais] foram praticados baseados em pareceres técnicos. Nenhum deles beneficia a mim pessoalmente. Não são atos praticados para que eu me enriqueça indevidamente.

Cunha é a única autoridade com foro privilegiado que se tornou réu no STF (Supremo Tribunal Federal) em decorrência das investigações da Operação Lava Jato, que apura desvios de verbas na Petrobras. O presidente da Câmara e seus familiares são acusados de possuirem mais de dez contas secretas em paraísos fiscais.

— É muito interessante porque não há contra mim nenhuma acusação de desvio de dinheiro público, não fui acusada de ter contas no exterior. Por isso me sinto injustiçada, porque aqueles que têm contas no exterior presidem a sessão de uma questão tão grave que é o impedimento de um presidente da República.

Ela voltou a falar em "indignação" ao dizer que "o rosto estampado na imagem transmitida para o mundo é o rosto do desvio de poder, do abuso de poder, do descompromisso com o poder".

— No passado enfrentei com convicção a ditadura, e agora eu também enfrento com convicção um golpe de estado, que não é o golpe tradicional da minha juventude, mas infelizmente é o golpe tradicional da minha maturidade, e se usa de uma aparência de um processo legal e democrático para perpretar talvez o mais abominável crime contra uma pessoa, que é condenar um inocente.

Em referência direta ao vice-presidente, Dilma o acusou mais uma vez de ser um “conspirador”.

— Não se pode chamar de impeachment o que é uma tentativa de eleição indireta. Essa tentativa se dá porque aqueles que querem aceder ao poder não tem votos para tal. É importante reconhecer que é extremamente inusitado, estranho e estarrecedor que um vice-presidente, no exercício de seu mandato, conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada, porque a sociedade humana não gosta de traidores. Por quê? Porque cada um de nós sabe a injustiça e a dor que se sente quando se vê a traição.

Segundo Dilma, nenhum governo será legítimo "sem ser por obra do voto secreto e direto numa eleição convocada previamente para esse fim, na qual todos os cidadãos e cidadãs brasileiras participem".

Incapacidade de governar

Utilizando repetidas vezes a palavra “injustiçada”, Dilma afirmou que vem sendo impedida de exercer seu segundo mandato em razão das articulações no Congresso Nacional.

— Contra mim praticaram sistematicamente a tática ou estratégia do “quanto pior, melhor”. Assim: pior pro governo, melhor pra oposição. E isso se expressa em pautas-bomba, que chegaram no ano passado a [causar perdas para o governo de] R$ 140 bilhões, só em cinco das pautas-bomba, e que num quadro de problemas fiscais, inviabilizava a ação do governo.

A presidente lembrou o PDC (Projeto de Decreto Legislativo) atualmente em discussão na Câmara que modifica o cálculo da dívida de Estados e municípios com a União e que pode causar mais perdas fiscais para o governo federal.

— Pautas-bomba como essa que está em curso, que é um projeto de decreto legislativo, um PDC, que, ao transformar a correção da dívida dos Estados em uma correção baseada em juros simples, provocam um rombo nas finanças do país de R$ 300 bilhões. Pauta-bomba quando também, em todas as circunstancias, projetos importantes e necessários a serem votados para que o Brasil retome mais rápido o crescimento ou eram postergados ou não eram votados.

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