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Doleiro Youssef diz que entregava dinheiro desviado para Dirceu, Vaccari, Costa e ex-assessor do PP

Depoimentos de doleiro saíram hoje de sigilo, após determinação do STF

Brasil|Da Agência Brasil, com R7

Youssef (dir.) deixa a corte federal em Curitiba escoltado por agente da PF, no dia 6 de fevereiro, após depoimento
Youssef (dir.) deixa a corte federal em Curitiba escoltado por agente da PF, no dia 6 de fevereiro, após depoimento Youssef (dir.) deixa a corte federal em Curitiba escoltado por agente da PF, no dia 6 de fevereiro, após depoimento

Em depoimento à Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef disse que PP, PT e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque receberam dinheiro de um dos empresários investigados na Operação Lava Jato.

As declarações foram prestadas em outubro do ano passado, mas foram divulgadas nesta quinta-feira (12) após o juiz federal Sergio Moro decidir retirar o sigilo de uma parte dos depoimentos dados em acordo de delação premiada. Ainda permanecem sob sigilo os depoimentos que envolvem autoridades protegidas por foro privilegiado, como parlamentares.

Réu da Operação Lava Jato, o doleiro está preso desde março de 2014 na carceragem da PF em Curitiba. Ele é acusado de ser um dos chefes de um esquema de desvio de dinheiro que teria movimentado ao menos R$ 10 bilhões — essa cifra vem aumentando com o decorrer das investigações.

Descrito pelo juiz Moro como um “criminoso profissional”, ele já tinha sido condenado a mais de 4 anos de prisão pelo próprio Moro em outro escândalo, o do Banestado — banco privatizado em 2000 pelo ex-governador do Paraná Jayme Lerner (então no antigo PFL, atual DEM), o banco foi usado, segundo as investigações, para remeter cerca de R$ 30 bilhões ao exterior. Assim como no caso da Lava Jato, Youssef fez um acordo de delação premiada na ocasião, prometendo jamais voltar a trabalhar com dólar, o que não aconteceu, como mostram as investigações da Lava Jato.

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Políticos

No depoimento de outubro liberado hoje, Youssef disse ter entregado dinheiro em dois escritórios do consultor Júlio Camargo (em São Paulo e no Rio de Janeiro), após trazer para o Brasil valores enviados por Camargo ao exterior.

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De acordo com o doleiro, antes de repassar o dinheiro ao consultor, "retinha o percentual devido ao PP", entregando-o a Paulo Roberto Costa e a João Claudio Genu [ex-assessor do PP].

Segundo Youssef, o dinheiro entregue no escritório de Camargo em São Paulo "servia para pagamentos da Camargo Corrêa e Mitsui Toyo ao Partido dos Trabalhadores, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os pagamentos à época eram João Vaccari e José Dirceu".

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Para justificar as acusações, o doleiro disse ter "convicção de que os valores eram destinados ao Partido dos Trabalhadores e à diretoria de Serviços da Petrobras, na pessoa de Renato Duque".

Ele disse ainda que a entrega de dinheiro nos escritórios de Camargo ocorreu entre meados de 2005 a meados de 2012. O valor operado foi de R$ 27 milhões.

Sobre as entregas no escritório de Júlio Camargo no Rio, Youssef afirmou que eram "pagamentos devidos a Renato Duque e, provavelmente, a outros empregados da diretoria de Engenharia e Serviços, referente a comissionamentos das obras feitas pela Camargo Corrêa e a Mitsui Yoyo". Segundo o doleiro, um dos funcionários receptores era Pedro Barusco, que também fez acordo de delação premiada.

Perguntado pelos investigadores sobre as remessas ao exterior, Alberto Youssef explicou que Júlio Camargo não sacava o comissionamento no Brasil, para ludibriar as autoridades públicas sobre a origem do dinheiro, que, posteriormente, "seriam usados para o pagamento de propina e formação de caixa dois dos partidos".

Júlio Camargo, o outro doleiro no esquema

No depoimento, Youssef afirma que Camargo tinha o mesmo papel dele, como operador na diretoria de Serviços da Petrobras, então comandada por Duque. No entanto, Camargo precisava de reais em espécie e procurou o doleiro para que o dinheiro pudesse ser movimentado no Brasil.

Segundo o delator, o esquema de pagamentos de propina aos partidos consistia na assinatura de contratos fraudados de consultoria das empresas de Camargo e as empresas Camargo Corrêa, Mitsui Toyo e Pirelli. Os valores eram enviados para contas no exterior. Depois disso, ficava disponível no Brasil e era repassado aos destinatários.

A defesa de Renato Duque nega que ele tenha recebido valores indevidos durante o período em que esteve na diretoria de Serviços da Petrobras. Citados na delação premiada de Pedro Barusco, João Vaccari e o PT rechaçam as declarações sobre recebimento de valores indevidos.

No entendimento do partido, as declarações sobre irregularidades são para envolver a legenda em acusações sem provas ou indícios, e não merecem crédito.

Em nota divulgada quando foi noticiado que uma de suas empresas teve o sigilo fiscal quebrado, José Dirceu disse que não é investigado na Lava Jato e encaminhou ao juiz Sergio Moro contratos e dados financeiros da JD Consultoria.

Sigilo

O juiz federal Sérgio Moro decidiu hoje retirar o sigilo dos depoimentos de delação premiada prestados pelo doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. A decisão foi tomada após o ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), enviar à Justiça Federal no Parará as declarações que não envolvem citados que têm foro privilegiado.

Nos depoimentos, Youssef e Costa relataram como funcionava o esquema de cobrança de propina e de superfaturamento nos contratos firmados pelas diretorias da Petrobras, fatos investigados na Operação Lava Jato. Os dois também relatam como eram feitos os pagamentos a partidos políticos e ex-parlamentares.

Na decisão, Moro explicou que não se trata de vazamento de informações.

— Seguindo os mandamentos constitucionais, o trato da coisa pública, aqui incluído o processo de supostos crimes contra a administração pública, deve ser feito com transparência e publicidade. Não se presta o Judiciário para ser o guardião de segredos sombrios.

Nota da Pirelli

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Pirelli se defendeu da acusação.

"A Pirelli esclarece que não fornece pneus para a Petrobras e que jamais possuiu relacionamento de qualquer natureza com o Sr. Julio Camargo ou qualquer uma de suas empresas".

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