Durante posse de novos ministros, Dilma diz que Brasil não pode ser dirigido sem coalizão
Em cerimônia rápida, presidente explica porque substituiu amigos por aliados políticos
Brasil|Carolina Martins, do R7, em Brasília
Três novos ministros tomaram posse, neste sábado (16), em uma cerimônia rápida onde apenas a presidente Dilma Rousseff discursou. Dilma fez questão de fazer homenagens aos ministros que estão deixando o governo, a quem chamou de amigos, e tentou justificar a troca, defendendo que não é possível governar um País sem coalizão.
A presidente declarou que “governar é, necessariamente, fazer escolhas” e que, em um país desigual como o Brasil, é preciso contemplar as várias visões políticas para conseguir unidade de gestão.
— A capacidade de criar coalizões é crucial para um país, principalmente para um país com essa diversidade e com essa dimensão territorial. [...] Esse país não pode ser dirigido sem essa visão de compartilhamento de coalizão.
Campos diz que "dá para fazer muito mais" que Dilma
A presidente também fez referência a seus críticos, citando aqueles que acreditam que a “coalizão é algo incorreto”. Dilma lembrou casos como o da Itália, onde a falta de entendimento político prejudica a governabilidade, para justificar a dança das cadeiras realizada para satisfazer pedidos do PMDB e do PDT – partidos que compõem a base aliada.
Em reforma ministerial anunciada nesta sexta-feira (15), a presidente trocou os chefes dos ministérios da Agricultura, da Aviação Civil e do Trabalho.
Mendes Ribeiro deixa o Ministério da Agricultura. O ministro estava à frente da pasta desde 2011 — mesmo ano em que descobriu um câncer no cérebro — e será substituído pelo deputado federal Antônio Andrade (PMDB-MG).
Moreira Franco deixa a Secretaria de Assuntos Estratégicos (que fica a cargo do secretário-executivo da pasta, Roger Leal) e vai para a Secretaria de Aviação Civil.
Brizola Neto deixa o Ministério do Trabalho. Em seu lugar entra o secretário-geral nacional do PDT, Manoel Dias.
A posse dos três novos ministros ocorreu neste sábado porque a presidente Dilma embarca para Roma, onde vai participar da cerimônia de coroação do papa Francisco no Vaticano nesta terça-feira (19). A presidente quis deixar tudo pronto para a transmissão de cargos, que deve ocorrer na segunda-feira (18).
Ministros e amigos
Na parte do discurso que dedicou para se despedir dos ministros substituídos, Dilma tratou os antigos comandantes como amigos, os chamando por apelidos. Brizola Neto, a quem tratou por Brizolinha, foi citado como um parceiro. Dilma lembrou que ele participou ativamente de sua campanha presidencial em 2010 e citou os laços afetivos que tinha com Leonel Brizola e o PDT — primeiro partido da presidente.
— Eu faço questão também de mostrar meu carinho, meu respeito e minha gratidão pelo Brizola Neto. Tenho muito orgulho de ter tido Brizolinha no meu governo.
A substituição de Brizola Neto teria sido feita para aproximar o PDT do governo e garantir o apoio da legenda à campanha de reeleição da presidente Dilma em 2014. Isso porque Brizola Neto é desafeto do presidente do partido e ex-ministro, Carlos Lupi.
Manoel Dias, escolhido para assumir o Ministério do Trabalho, é um aliado de Lupi e teria sido escolhido para agradar o presidente da legenda, que nunca concordou com Brizola Neto na pasta.
Aplaudido de pé
Mendes Ribeiro, que se recupera de um câncer do cérebro, foi aplaudido de pé durante a cerimônia. Ele deixou o Ministério da Agricultura e não assume, como chegou a ser cogitado, a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Durante seu discurso, Dilma se referiu ao ex-ministro como “Mendesinho” e disse que tem uma relação de “fortes bases afetivas” com ele. A presidente pediu que ele cuide de sua saúde para continuar contribuindo com o País.
— Eu espero que você cuide da sua recuperação porque eu quero mais uma vez contar contigo. Agora você tem direito, e, sobretudo tem o dever, de pensar na sua saúde, porque nós todos precisamos de você. Para de andar pra baixo e pra cima!
Mendes Ribeiro, que ainda está careca devido ao tratamento contra o câncer e exibe a cicatriz da cirurgia realizada para retirada do tumor no cérebro, disse que vai seguir os conselhos da presidente.
Ele explicou que, como ministro da Agricultura, viajava constantemente por todo o País. Agora, vai reassumir seu mandato na Câmara dos Deputados e se dedicar à sua recuperação.
— Eu estou recuperado clinicamente, agora tenho que cuidar da minha recuperação física. Isso é uma coisa que eu não posso deixar e Dilma vinha me alertando, eu tinha que parar de viajar. Agora eu vou poder me cuidar mais.
Wagner Bittencourt, que deixou a Secretaria de Aviação Civil, deve reassumir a vice-presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Dilma destacou o empenho do ex-ministro ao coordenar uma área que tem peso estratégico para o País.
— Ele nos ajudou nesse processo importante porque a Secretaria de Aviação Civil não existia. Eu agradeço ao Wagner porque ele nos ajudou num momento muito difícil.
Aos novos ministros, Dilma desejou sorte e os convidou ao trabalho. A presidente lembrou que está na metade de seu mandato e pediu ajuda dos novos comandantes das pastas para dar continuidade ao projeto iniciado.