Em 12 anos, 2.680 armas de praticantes de tiro foram roubadas, furtadas ou perdidas
Levantamento foi obtido a partir de dados do sistema Sigma, exclusivo das Forças Armadas
Brasil|Alvaro Magalhães, do R7
Praticantes de tiro ao alvo cadastrados em dezenas de clubes de tiro pelo País tiveram 2.680 armas furtadas, roubadas ou perdidas desde 2003. Os números constam do sistema Sigma, banco de dados de uso exclusivo das Forças Armadas.
Ao todo, foram 1.364 furtos, 935 roubos e 381 perdas no período (veja quadro abaixo).
O levantamento, feito com exclusividade pelo R7, indica que, em média, 220 armas de atiradores passam anualmente para o mercado ilegal.
O índice é semelhante ao da Polícia Militar do Estado de São Paulo, cuja média de furtos, roubos e perdas gira em torno de 250 armas por ano, segundo números de 2009 a 2011, revelados pelo R7 no ano passado.
A diferença é que as armas da PM ficam expostas durante todo o tempo de trabalho dos policiais e no caminho entre a residência do militar e o batalhão, enquanto os atiradores mantêm o armamento a maior parte do tempo em casa ou em um clube de tiro.
Hoje, existem 74 mil praticantes de tiro cadastrados pelo Exército. Já o efetivo da PM de São Paulo é de cerca de 86 mil homens. Os atiradores, porém, têm um arsenal de 223 mil armas — bem superior ao da PM paulista, que possui pouco mais que uma arma por policial.
Modalidades de tiro
No País, há duas modalidades principais de tiro ao alvo: o tiro esportivo (também chamado de tiro olímpico, em que o praticante fica parado e tenta acertar o alvo) e o tiro prático (em que o praticante se movimenta por diversos ambientes antes de disparar contra o alvo).
Ricardo Brenck, vice-presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, afirma que a entidade desconhece casos de armas de atletas ranqueados que foram parar no mercado ilegal.
— Dentre os 800 atletas que realmente competem e que são ranqueados pela confederação, não temos nehuma notícia de furtos, roubos ou perdas. O tiro olímpico é praticado com armas específicas para competição, que não interessam ao crime. Caso uma arma dessa viesse a ser vendida no mercado negro, isso logo viria à tona.
Brenck diz que, além dos 800 ranqueados, a confederação tem cerca de 5.000 filiados.
— Com essas pessoas, não temos muito contato. Muitas são de cidades distantes, no interior dos diferentes Estados. Não temos como saber se, nesses casos, houve roubos ou coisa do tipo.
A reportagem procurou também, desde quinta-feira (17), a Confederação Brasileira de Tiro Prático. Mas não obteve resposta.
Levantamento
Nos últimos dois anos, o R7 vem tentando quantificar o total de armas registradas legalmente no Brasil que passam para o mercado paralelo.
Além dos índices referentes a atiradores e à PM de São Paulo, a reportagem já constatou que 3.700 armas de empresas de segurança do País e 160 armas de colecionadores passam anualmente para a ilegalidade devido a furtos, roubos ou extravios.
Os números referentes às armas de praticantes de tiro ao alvo foram obtidos pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação. Não foi possível extrair os dados ano a ano.
Além de informações sobre essas armas, o sistema Sigma concentra dados sobre armamentos de uso restrito dos integrantes das Forças Armadas, das polícias militares, da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, de colecionadores e de caçadores de subsistência.
293 armas recuperadas
De acordo com o Exército, desde o início da operação do banco de dados, 293 armas foram recuperadas. A quantidade refere-se não apenas ao armamento de atiradores, mas também a armas dos outros grupos cadastrados no sistema das Forças Armadas.
O Exército tem 900 militares exclusivamente dedicados à fiscalização de produtos controlados, que inclui as armas de atiradores. Em São Paulo, onde está a maior parte dos atiradores, o efetivo é de 159 homens.