Em ano pré-eleitoral, Dilma quase triplica o número de viagens pelo País
Redutos de possíveis rivais nas urnas em 2014, Sul e Sudeste receberam mais visitas da presidente
Brasil|Kamilla Dourado, do R7, em Brasília
A um ano das eleições presidenciais, a presidente Dilma Rousseff aumentou a frequência de viagens pelo Brasil. Depois de queda vertiginosa nas aprovações pessoal e de seu governo causadas pelas manifestações que se espalharam pelas ruas do País em junho — de 57% antes dos protestos para 30% no auge, segundo o Datafolha —, a presidente tenta recuperar parte da popularidade e ganhar novos eleitores.
De agosto até o dia 25 de outubro, foram 23 viagens pelo País, quase o triplo do mesmo período do ano passado, quando a presidente teve oito compromissos oficiais fora de Brasília. Em números, aumento de 290%. As viagens se concentraram, principalmente, em três Estados. Neste período foram seis viagens a São Paulo, cinco a Minas Gerais e cinco ao Rio Grande do Sul — regiões que são, reconhecidamente, redutos eleitorais dos possíveis adversários nas eleições de 2014.
A agenda de agosto — após o lançamento dos cinco pactos em resposta aos protestos — foi a mais intensa. De cada três dias, a presidente passou um em outro Estado. Foram dez viagens ao todo.
No rol de compromissos, nenhuma obra de grande porte. Sem obras, a presidente focou em agendas que levam a marca de programas do governo federal, como formatura de alunos do Pronatec, entregas de residências do Minha Casa, Minha Vida e de máquinas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Apesar da tentativa de se aproximar dos eleitores, as pesquisas não apontaram melhora da avaliação da presidente Dilma. Pesquisa do Instituto Ibope divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo, nesta quinta-feira (24), mostrou que o governo da petista é considerado ótimo ou bom por 38% dos eleitores brasileiros. Em setembro, a aprovação era de 37%. Ou seja, o resultado é praticamente o mesmo, porque está dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais.
O levantamento do Ibope aponta ainda que a maneira como Dilma vem administrando o País desde janeiro de 2011 tem a aprovação de 53% da população brasileira. Por outro lado, 42% desaprovam a maneira de governar de Dilma. Em setembro, 54% aprovavam e 40% desaprovavam como ela conduz o País. Os resultados mostram aumento da aprovação e redução entre os que reprovam, mas ainda dentro da margem de erro.
Para o cientista político do Instituto de Estudos Socioeconômicos José Antônio Moroni, mesmo que extraoficialmente, a campanha já começou. No caso de Dilma, o foco nessas áreas — São Paulo, Rio Grande do Sul e, principalmente, Minas — teria o objetivo de alcançar o público que ela ainda não tem e ganhar novos eleitores.
— É uma região, não só politicamente, mas numericamente em termo de eleitores, significativa. Então qualquer candidato que queira ganhar a eleição para presidente tem que ter uma boa inserção no Sul-Sudeste. E há toda a questão de que essa região é do PSDB. Como o PSDB perdeu credibilidade nas manifestações, assim como todos os partidos, acho que esta é uma estratégia de ganhar essa base.
Mudança de tom
Os discursos de Dilma neste período, entre agosto e outubro, também deixam claro uma mudança de tom, possivelmente já de olho nas eleições. A presidente Dilma, no entanto, disse recentemente que dedica 100% do seu tempo ao governo, e não pensa em eleições.
Na semana passada, por exemplo, Dilma repetiu o que disse sobre o leilão do campo Libra em duas cidades diferentes. Tanto em Brasília quanto em São Paulo, Dilma disse que o petróleo do pré-sal vai proporcionar mais Educação e Saúde para o País.
A presidente aproveitou ainda para reforçar a “bronca” que havia dado na véspera, na capital federal, aos críticos das duas empresas chinesas que fazem parte do consórcio vencedor do leilão de Libra na última segunda-feira (22). Dilma classificou os comentários negativos às companhias asiáticas como “xenofobia”.
— Prefiro a ingenuidade à xenofobia porque a ingenuidade tem cura, e a xenofobia, não. [...] A partilha é um passaporte para o futuro do Brasil. Podemos transformar petróleo em conhecimento, em Educação, em garantia para o nosso País de que não será um País rico com nação pobre. A única alternativa para ter um País rico e uma nação rica, é usar bem essa riqueza finita que é o petróleo.
Disputa por Minas
Irritados com a freqüência em que Dilma visita Minas, o PSDB criticou duramente a última agenda de Dilma no Estado — onde esteve oito vezes nesse ano. Os tucanos, que já haviam classificado as idas de Dilma ao reduto do possível candidato à Presidência Aécio Neves como “constrangedoras", disseram que agora passaram a ser "vergonhosas". Em nota, o partido disse que Dilma “ofende a inteligência dos mineiros".
As críticas foram rebatidas pelo petista e ex-ministro José Dirceu. Ele declarou em seu blog que o senador Aécio Neves "se julga dono da Capitania Hereditária" mineira e provocou.
— Na verdade, para provar que está tão bem assim em Minas, a ponto de implicar com concorrente na eleição de 2014 que vai ao Estado, ele ainda vai ter que disputar a eleição. Soberano, nas Gerais, é o povo mineiro, e não ele.
O PSDB vem se defendendo das tentativas de Dilma de conquistar os mineiros, também partindo para o ataque. A legenda cobrou do governo federal as 6.000 creches prometidas até 2014. "Hoje, no fim do terceiro ano do seu governo ela entregou apenas 120 unidades. 2% do prometido", diz o texto.
Além de Minas ser território tucano, é o segundo maior colégio eleitoral do País. O Estado onde nasceram Aécio, presidenciável tucano em 2014, e Dilma deve receber a nova visita da presidente esse ano, já que ela anunciou que pode desembarcar em Belo Horizonte nos próximos dias para anunciar os investimentos destinados ao metrô da Capital, como fez em São Paulo na semana passada.