Em comissão para rever desarmamento, deputado pede financiamento a fabricante de pistolas
Alberto Fraga questiona críticas a apoio dado pela indústria de armas a parlamentares do grupo
Brasil|Alvaro Magalhães, do R7
— Tem representantes aí da Taurus [fabricante brasileira de armas]: eu gostaria que vocês me financiassem, mas a campanha toda. Não é me dar R$ 70 mil e a mídia dizer que eu fui financiado.
A frase foi dita pelo deputado Alberto Fraga (DEM-DF), no último dia 28, durante reunião da Comissão Especial da Câmara que discute a flexibilização do Estatuto do Desarmamento. O áudio completo da reunião está no site da Câmara.
O parlamentar debatia com outros deputados reportagens recentes que apontaram que 7 dos 27 membros da comissão receberam, em suas campanhas, dinheiro de fabricantes de armas ou munições.
— Eu não tenho vergonha nenhuma de ter, na minha declaração lá, ter recebido doações da indústria bélica — afirmou Fraga — Agora, quiçá fosse no montante que muita gente pensa que é.
A prestação de contas do deputado referente às eleições de 2014 aponta que ele recebeu, por meio do diretório de seu partido, R$ 80 mil doados pela Taurus à legenda. A quantia representa 5% dos R$ 1,5 milhão recebidos durante a campanha.
Instalada no último dia 15, a comissão debate a flexibilização do Estatuto do Desarmamento. Entre os principais pontos, está a redução de 25 para 21 anos a idade mínima para a compra de armas e a ampliação do número de munições que um cidadão comum pode adquirir anualmente.
No pronunciamento, o deputado afirmou que os parlamentares devem enfrentar as críticas a respeito do financiamento.
— Esse discurso, nós temos que enfrentá-lo. Enfrentá-lo dessa forma, com a verdade. Dizendo ‘recebi, está aqui declarado’. Não foram milhões como alguns pensam ou que fazem questão de dizer.
Fraga afirmou que não defende armas.
— Nós não defendemos aqui armas, nós defendemos direitos. Direitos de escolha. Quem quiser, bem. Quem não quiser, paciência. Pode botar sua camisetazinha branca com uma pomba no peito.
O deputado tem condenação por posse ilegal de arma. Segundo a Justiça, ele mantinha, em um apartamento no Distrito Federal, um revólver calibre 357 Magnum, de uso restrito. O parlamentar nega que seja o proprietário do apartamento e apela da decisão.
Antes da fala de Fraga na comissão, o deputado Marcos Montes (PSD-MG), que preside o órgão, havia também feito referência às doações que recebeu da indústria de armamentos e munições.
— A indústria [bélica] me ajudou. Pouco até. Achei que ia ser mais, foi pouco.
Montes ganhou, segundo sua prestação de contas referente à campanha de 2014, R$ 15 mil da Taurus e outros R$ 15 mil da CBC Companhia Brasileira de Cartuchos. Diferentemente de Fraga, a verba foi recebida diretamente — e não por intermédio do partido. O valor representa 1% dos R$ 3,2 milhões ganhos durante a campanha.
O deputado afirmou não ver problema na doação.
— Não vejo inconveniente nenhum [em ser apoiado pela indústria de armas], como sou apoiado pelo agronegócio brasileiro. Aqui cada um tem um setor que o apoia, a liberdade de apoio legal é natural. Eu duvido que algum deputado faça campanha sem recurso financeiro.
Montes disse ainda que seu trabalho mostrará sua imparcialidade.
— Só o meu trabalho para mostrar minha isenção e o mediador que serei desse debate importante para sociedade.