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As primeiras reservas indígenas demarcadas no Mato Grosso do Sul estão completando 100 anos. Mas ali não há o que comemorar.
Boa parte dos 73.181 indígenas do Estado vivem em condições semelhantes a campos de refugiados, convivendo com agressão contra mulheres, estupros, suicídios, alta incidência de violência, abuso de álcool, consumo de drogas, subnutrição e uma série de desajustes sociais.
Retirados de seus lares ancestrais, os índios foram levados para reservas diminutas, cada vez mais superlotadas.
Para agravar a situação, muitas reservas já delimitadas pela Funai (Fundação Nacional do Índio), mas ainda não homologadas pelo governo federal, continuam ocupadas por produtores rurais.
Com a lentidão do poder público em resolver a questão, os índios começaram nos anos 1980 a promover as “retomadas”: retorno e ocupação de seus antigos lares.
A consequência disso são os violentos conflitos na disputa por terra, além de situações como a da imagem acima, em que grupos familiares passam a viver em acampamentos precários em beiras de estrada
Leia a reportagem completa: Reservas indígenas do Mato Grosso do Sul estão entre as regiões mais violentas do mundoRuy Sposati/Cimi
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O cenário no Mato Grosso do Sul é alarmante: com altas taxas de homicídios, as reservas do sul do Estado estão entre as regiões mais violentas do mundo.
Acima, índios kaiowá, despejados da terra indígena retomada Apyka'i, voltam à beira da estrada em julho passado, em Dourados (MS)Ruy Sposati/Cimi
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Segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena do Mato Grosso do Sul (DSEI-MS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde que presta assistência básica em saúde aos 73.181 índios do Estado, essas populações enfrentam problemas como: precariedade da segurança pública, educação deficitária, falta de alimentação adequada e habitação digna, carência de projetos que incentivem o emprego e a renda, além da ausência de políticas públicas voltadas para o esporte, lazer e subsistência
Ruy Sposati/Cimi
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Dados obtidos pelo R7 junto ao DSEI-MS revelam que, nas reservas do entorno do município de Antônio João, a taxa de homicídios em 2015 foi de 95,78 assassinatos por 100 mil habitantes. Na região de Dourados, de 92,19, e, em Amambai, 77,2.
Essas taxas são de três a cinco vezes maiores do que os índices registrados para a população geral desses municípios: 22,8 em Antônio João, 28,3 em Dourados e 26,3 em Amambai.
Veja mais números sobre a violência nas reservas na reportagem completaRuy Sposati/Cimi
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Acima, família oriunda da aldeia Jaguapiru, na reserva de Dourados, vivendo na retomada da terra indígena Pakurity, ocupada por plantações de soja
Ruy Sposati/Cimi
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Enterro de Clodiodi de Souza, 26 anos, morto em junho durante ataque a 50 índios guarani-kaiowá dentro da fazenda Yvu, em Caarapó, no sudoeste do Mato Grosso do Sul. Em agosto, o MPF pediu e a PF prendeu 18 fazendeiros acusados de participarem do ataque
Ana Mendes/Cimi
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Indígenas da reserva de Amambai na retomada da terra indígena Kurusu Amba, em 2014.
Diante do confinamento nos territórios, os próprios indígenas deram início, na década de 1980, a um processo conhecido como “retomada”, em que buscam reocupar seus antigos territórios ou áreas já delimitadas pela Funai, mas ainda não homologadas pela Presidência da República.
Com o processo de retomada — classificado como “invasões” pelo governo do Estado e pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, que representa os grandes produtores rurais) —, intensificou-se a violência contra os índios, sobretudo contra lideranças indígenas.
Lideranças indígenas afirmam que nas retomadas a cultura e tradição indígenas se desenvolvem mais do que nas reservas, onde os costumes estão sendo perdidosRuy Sposati/Cimi
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Indígenas kaiowá, guarani e terena, da reserva indígena de Dourados, trancam rodovia contra PEC 215, que propõe mudanças na Constituição quanto à demarcação de terras indígenas, em 2015
Leia a reportagem completa: Reservas indígenas do Mato Grosso do Sul estão entre as regiões mais violentas do mundoRuy Sposati/Cimi