Henrique Alves, deputado há 42 anos, é o favorito na disputa pela presidência da Câmara
Deputados com candidaturas alternativas se organizam para conseguir 2º turno
Brasil|Carolina Martins, do R7, em Brasília
O nome mais forte para assumir a presidência da Câmara é o do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), candidato oficial do governo e líder do PMDB na Casa.
O parlamentar está em seu 11º mandato seguido e é deputado há 42 anos. Não é de hoje que Henrique Alves almeja o cargo de presidente da Câmara e tem propostas polêmicas no Congresso.
Ele defende, por exemplo, que os salários dos deputados sejam iguais aos dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), que hoje passa dos R$ 28 mil.
O deputado também já declarou que a Câmara não pode abrir mão da prerrogativa de ter a palavra final sobre a cassação do mandato de deputados condenados no mensalão.
Mesmo com denúncias, campanha de Henrique Alves continua a todo vapor
Verba liberada para deputado abastece empresa do próprio assessor, diz jornal
Com esse posicionamento, o deputado entraria em conflito com o Supremo, que decidiu que os parlamentares estão automaticamente cassados e cabe à Câmara somente declarar os cargos vagos.
Mesmo depois das lideranças do PMDB terem confirmado o nome de Henrique Alves, uma peemedebista lançou candidatura própria porque não concorda com o nome escolhido.
Outros dois deputados também trabalham para conseguir levar a eleição para segundo turno.
Alternativas
A primeira vice-presidente da Câmara, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), decidiu concorrer ao cargo como candidata alternativa. Ela alega que nunca houve uma reunião partidária para escolher o nome oficial e que Henrique Alves se “autonomeou” candidato do PMDB.
— Eu não estou rachando nada, eu estou prezando a coerência política. Eu quero que a Câmara mude. Eu já fiz parte de uma Câmara muito melhor que essa.
Rose explica que foi ela quem sugeriu o nome de Henrique Alves para a liderança do partido e que havia um compromisso de rodízio, mas que isso nunca ocorreu e ele ocupa o cargo há sete anos. Rose de Freitas diz que entrou na eleição para ganhar e contabiliza entre 80 e 90 votos.
Também correndo por fora, o quarto secretário da Câmara, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), lançou sua candidatura. Ele diz que conta com os votos de simpatizantes e o “apoio velado”, daqueles que não podem se manifestar publicamente para não contrariar os partidos. De acordo com o deputado, a ideia é levar as eleições para o segundo turno.
— Existem alternativas de mudança real, e vamos consolidar isso com essas candidaturas alternativas. Queremos mostrar que a Câmara pode ser mais interativa para dentro e para fora.
Baixo clero
Outra candidatura independente é a do deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF). Em seu primeiro mandato na Câmara, Fonseca diz ter apoio de uma parte da bancada evangélica e contabiliza pelo menos 70 votos.
Com o discurso afinado com os outros dois candidatos alternativos, o deputado afirma que é preciso resgatar o Congresso Nacional e que a Câmara não pode continuar do jeito que está,“mal avaliada pela opinião pública”.
Ronaldo Fonseca admite que entrou na disputa para dividir os votos.
— Com a minha entrada agora, a eleição vai para segundo turno. Só não sabemos qual dos três vai disputar com Henrique Eduardo Alves.
Voto secreto
A eleição para presidência da Câmara dos Deputados está marcada para a primeira segunda-feira de fevereiro, dia 4. O processo ocorre em votação secreta, com cédulas de papel. No entanto, existe a possibilidade da Câmara usar urnas eletrônicas neste ano.
Para ganhar a disputa, o deputado precisa da maioria absoluta de votos, ou seja, mais da metade. Se nenhum candidato conseguir pelo menos 257 votos, a eleição vai para segundo turno, onde os dois mais votados disputam a preferência dos parlamentares.
As duas últimas eleições foram decididas no primeiro turno. Em 2011, o atual presidente da Casa, Marco Maia, venceu com 375 votos. Antes dele, Michel Temer ganhou a disputa em 2009, com 304 votos.
Como a escolha do presidente se dá por um acordo previamente estabelecido entre os partidos, geralmente não há surpresas nas votações.
O último caso de segundo turno foi em 2007, quando Arlindo Chinaglia concorreu com Aldo Rebelo e venceu com 261 votos.
Zebra
No entanto, mesmo com o acordo entre os líderes, nunca há um candidato único e já houve casos de um deputado com candidatura independente, sem apoio oficial de nenhum partido, vencer a disputa.
Em 2005, Severino Cavalcanti foi eleito em segundo turno com 300 votos, 105 a mais que Luiz Eduardo Greenhalgh, que era o candidato oficial do governo e da bancada do PT, a maior da Câmara.