A divulgação do nome dos políticos que serão investigados pelo suposto esquema de corrupção na Petrobras deve prejudicar ainda mais a passagem dos projetos favoráveis ao governo na Câmara no Senado. De acordo com especialistas consultados pelo R7, isso deve acontecer pela presença de políticos importantes das duas casas na lista.
O cientista político Cristiano Noronha avalia que a aparição dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre nomes citados nas delações premiadas vai prejudicar as relações governistas.
— Isso vai acabar resultando em consequências negativas para o governo, no sentido de aprovação de matérias importantes e da estabilidade no ambiente político, o que dificulta o governo a tranquilizar e acalmar a situação.
Noronha explica que, em um primeiro momento, o argumento para que Cunha e Calheiros se mantenham nos cargos é o de que a lista é referente a apenas uma instauração de inquérito, o que não os considera culpados. No entanto, ele afirma que “a pressão tende a existir”.
— Existe agora um elemento muito sério, que tumultua ainda mais o ambiente político.
O analista político da CAC Consultoria, César Alexandre Carvalho, pensa da mesma forma que Noronha. Para ele, o envolvimento vai “pesar no ambiente político” e “causar um problema na relação entre os poderes”.
— [A divulgação da lista] vai aumentar ainda mais as fragilidades do governo Dilma com o Legislativo (...) Tirando o Anastasia (PSDB-MG), você tem só nomes da base governista. Não há como o governo fugir.
Para Carvalho, a popularidade da presidente pode cair, caso os problemas com a aprovação dos projetos sejam confirmados. O analista avalia que isso deve preocupar a base aliada devido à proximidade das eleições municipais.
— As corridas eleitorais estão sendo antecipadas, as brigas já começam em breve e você tem um quadro muito delicado para a presidente Dilma. Já não passa a ser só uma crise econômica. Passa a existir também uma crise política onde o Executivo está cada vez mais isolado perante aos aliados.
Ajuste fiscal
A implementação do ajuste fiscal, tida como uma das prioridades do governo pera retomar o crescimento econômico ainda neste ano, deve ser dificultada pela divulgação da lista. Carvalho acredita que as possíveis desavenças vão fazer com que o governo repense a melhor forma de conseguir que as medidas sejam aprovadas.
— Não vai ser fácil. Pelo contrário, vai ser muito difícil, porque o governo vai ter que agradar os aliados de alguma forma, seja com a aprovação de emendas ou com a liberação de cargos comissionados.
Segundo Noronha, a proximidade da aprovação do ajuste fiscal é muito ruim para o governo que precisará de apoio do Congresso.
— A gente tem dois meses e meio para o Congresso concluir parte do ajuste fiscal que são temas polêmicos.