Lista para odiar o Brasil mostra que o País “não é para principiantes”, diz socióloga
Estrangeiros criaram na web lista com 66 motivos para odiar o Brasil
Brasil|Diego Junqueira, do R7
A lista com os 66 motivos para odiar o Brasil, criada em um fórum online por estrangeiros, mostra uma visão de quem não conhece o País. A avaliação é da socióloga e cientista política Carla Diéguez, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Na lista, alguns “gringos” (nome dado pelos próprios internautas ao fórum) explicam por que odeiam viver no Brasil, apontando como razões a falta de educação no trânsito, os altos impostos, a burocracia, as filas desorganizadas, a sujeira nas ruas, entre outras.
Para Carla, no entanto, “a nossa sociedade é bastante complexa" e 66 motivos "não resumem nossa complexidade”.
— [Na lista] existe um olhar de quem viu uma parte, de quem não conhece o Brasil. Como diz aquela expressão, ‘o Brasil não é para principiantes’. Nem os brasileiros conhecem o Brasil. Como falar que todo brasileiro é assim? Então tem uma generalização de como é o brasileiro.
Atribuída ao maestro e compositor Tom Jobim, a expressão permeou os trabalhos do antropólogo brasileiro Roberto da Matta. Resumidamente, a frase revela que o nosso País é repleto de complexidades, podendo causar falsas impressões em estrangeiros desinformados.
Segundo a socióloga, por exemplo, a maior parte dos motivos apresentados é um retrato da vida nas grandes cidades brasileiras, onde as populações menos ricas vivem em constante “tensão”, o que poderiam levar a serem “mal-educadas”.
— Em São Paulo, as pessoas lutam por transporte, moradia, espaço. Estão em constante tensão.
Ela lembra que no metrô das grandes cidades europeias e norte-americanas, nos horários de pico, pode até existir um nível de “civilidade” não encontrado por aqui. “Mas no Japão e na China as pessoas são empurradas para dentro do transporte público”, diz.
— É claro que não é fácil viver no Brasil, há violência aqui. Mas isso não quer dizer que não se possa passear no centro de São Paulo.
A professora ressalta a crítica dos gringos à corrupção no País, não como um aspecto da vida política, mas do cotidiano dos brasileiros.
— A nossa relação público-privada é muito promíscua. A gente não sabe onde começa um e termina o outro. Por isso há as ‘carteiradas’, gente que passa na frente da fila ou o nepotismo. Para nós, isso é corriqueiro, há muita gente que acha que tem de levar vantagem em tudo. Mas isso não quer dizer que não existam pessoas com outra cultura no País.
Carla explica que é preciso entender a formação cultural do povo brasileiro para entender determinados comportamentos.
Ela aponta as disparidades sociais como uma importante questão, já que “as classes mais abastadas exercem seu poder para trabalhar essa diferenciação”.
— O povo brasileiro foi criado nessa situação [de tensão e luta]. E aí há a necessidade de educação do povo, no sentido de entender a cidadania e requerê-la. (...) A gente só vai avançar na luta por direitos quando estivermos em igualdade, quando entendermos que somos iguais.