Manobra do PT adia mais uma vez votação do processo por quebra de decoro de André Vargas
Mesmo fora do partido, deputado recebe ajuda de petistas para escapar do Conselho de Ética
Brasil|Carolina Martins, do R7, em Brasília
Uma nova manobra do PT adiou novamente a decisão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados sobre o processo por quebra de decoro contra o deputado federal André Vargas (sem partido-PR). O colegiado se reuniu, nesta terça-feira (29), mas a sessão foi suspensa sem que o relatório pela admissibilidade da investigação fosse votado.
A reunião estava marcada para as 16h. No entanto, somente houve quórum para iniciar a discussão às 16h40. Isso porque, dos 21 deputados que compõem o Conselho de Ética, é necessária a presença de pelo menos 11 para iniciar os trabalhos.
Mas, dos oitos deputados petistas que integram o colegiado (quatro titulares e quatro suplentes), nenhum compareceu. A estratégia inicial era impedir que a sessão fosse aberta.
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O colegiado começou a discutir o relatório, mas teve de suspender a sessão sem votá-lo porque foi aberta a ordem do dia na Câmara. Depois disso, todas as comissões precisam encerrar os trabalhos para que os deputados estejam liberados para estar no plenário.
Quem pediu a interrupção da sessão foi o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que não é integrante da comissão e chegou depois que os trabalhos foram iniciados.
Para o relator do processo de Vargas no Conselho de Ética, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o PT “tumultuou” a sessão e vai tentar estender a investigação o máximo que puder. Segundo ele, essa é a prova de que o processo pode revelar outros nomes, além de André Vargas.
— Demonstra claramente que há uma tentativa de protelação para que esse processo não seja célere e não ande com a devida rapidez que nós desejamos aqui no Conselho de Ética. Faz parte do PT e de seus simpatizantes, ou daqueles que querem esconder algo que tem que ficar esclarecido para a sociedade brasileira.
Defesa
O deputado André Vargas não compareceu nem enviou nenhum advogado para a reunião do Conselho de Ética. O presidente do colegiado, deputado Ricardo Izar (PSD-SP), informou ter publicou no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da Câmara a notificação para que o deputado pudesse participar da reunião e apresentar sua defesa.
A notificação foi pública porque Vargas não foi localizado durante as tentativas e envio de telegrama e até visita oficial em sua residência em Brasília.
Regimentalmente, a parte investigada dispõe de 20 minutos para apresentar seus argumentos e tentar convencer o colegiado a não admitir o processo por quebra de decoro. Como ninguém apareceu, o Conselho decidiu nomear uma servidora da Câmara para representar Vargas e evitar futuras tentativas de anular o processo.
A sugestão foi apresentada pelo deputado Fábio Trad (PMDB-MS), que teme que a ausência de advogado possa ser mais uma estratégia para atrasar o processo.
— Não quero acreditar que essa ausência de defensor seja uma estratégia de defesa, que essa ausência seja proposital.
A servidora Adrelina Carvalho, que tem inscrição na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), trabalha na liderança do PSD e abriu mão do seu tempo para apresentar defesa. Ela foi constituída advogada de Vargas apenas para acompanhar o ato de admissibilidade do processo, e não para atuar na defesa durante a investigação.
Para Júlio Delgado, a falta de defensor também faz parte da estratégia de Vargas. O relator acredita que o procedimento de nomear um representante pode inclusive ser alvo de questionamento judicial para atrasar ainda mais o processo.
— O deputado André Vargas tem dito a todo o momento que está se preparando para a defesa no Conselho de Ética e depois diz não conhecer do processo e não manda advogado para o processo de admissibilidade? Demonstra claramente a estratégia de protelar o processo.
A sessão foi suspensa e, segundo o presidente do Conselho, o colegiado vai tentar se reunir ainda nesta terça-feira, após a sessão do plenário, para votar a admissibilidade do processo contra André Vargas.