Mesmo após indicação, Bolsonaro nega interferência na Petrobras
Presidente criticou atual gestão da estatal e afirmou que preço da gasolina poderia ser até 15% menor com fiscalização adequada
Brasil|Gabriel Croquer, do R7
Mesmo após indicar o general Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras no lugar de Roberto Castello Branco, depois de fazer reclamações públicas contra o aumento do preço dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse na tarde deste sábado (20) que não realizou nenhum tipo de interferência na empresa.
Ele falou a eleitores, por meio das redes sociais de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem partido), depois de evento militar realizado em Campinas (SP).
"Não houve qualquer interferência na Petrobras, tanto é que continua esse reajuste de 15% [dos combustíveis, anunciada pela Petrobras na quinta-feira]. Você que diga se é [um reajuste] abusivo ou não. E espero que até o dia 20, quando vai de vez sair esse atual presidente, ele não vai querer mais dar um percentual de reajuste no diesel e na gasolina", disse.
Em seguida, o presidente voltou a citar os impostos estaduais nos combustíveis e a falta de transparência sobre os preços dos combustíveis: "quando vem a nota fiscal você não sabe quanto é de imposto federal, quanto é de estadual. Quanto é a margem de lucro dos postos e quanto se paga de distribuição. Você não sabe nada, é uma caixa preta".
Ele ainda opinou que o preço da gasolina poderia ser, no mínimo, 15% mais barato, caso os órgãos de fiscalização funcionassem adequadamente. "Temos Petrobras, Ministério de Minas e Energia, Receita Federal, que tem ver Nota Fiscal e não vê", completou, citando os órgãos.
Por fim, Bolsonaro dá recados à imprensa, voltando a negar interferência federal e criticando o atual presidente e a diretoria da Petrobras por trabalharem remotamente em meio à pandemia da covid-19. "Não dá para governar, estar à frente de uma estatal dessa forma. Coisas erradas acontecem", avaliou.
Indicação
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nesta sexta-feira (19) a troca do comando na Petrobras. Em nota divulgada em rede social, o mandatário informou que Roberto Castello Branco será substituído pelo general Joaquim Silva e Luna, ex-diretor geral da usina Itaipu Binacional.
A indicação do nome de Silva e Luna precisa, no entanto, ter aprovação do conselho de administração da Petrobras. Bolsonaro não tem poder formal para demitir Castello Branco. A decisão cabe ao conselho, formado por membros indicados pelo governo, mas que atuam com independência.
Com os seguidos aumentos no preço dos combustíveis, Bolsonaro já havia demonstrado insatisfação com o comando da Petrobras. Nesta sexta, durante visita à cidade de Sertânia, em Pernambuco, ele reafirmou que faria "mudanças" na Petrobras após mais um reajuste no preço dos combustíveis, anunciado pela estatal nesta quinta-feira (18).
"Jamais vamos interferir nesta grande empresa e na sua política de preços, mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes", disse. Durante a visita ele ainda mandou um recado: "exijo e cobro transparência de todos aqueles que eu tive a responsabilidade de indicar".
Algumas horas antes, em uma live para eleitores nesta quinta-feira (18), o presidente também falou de fazer trocas na empresa. A fala gerou uma reação negativa do mercado, e a empresa teve queda de até 7,92% de suas ações nesta sexta.