Propina de Cabral bancou blindagem de veículos e até vestidos de festa para primeira-dama
Ex-governador do Rio de Janeiro cobrava mesada de até R$ 500 mil de empreiteiras
Brasil|Do R7
A propina cobrada pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, investigada na Operação Lava Jato, bancou eletrodomésticos, minibugues e até vestidos de festa para a então primeira-dama Adriana Ancelmo, informaram nesta quinta-feira (17) os procuradores do MPF (Ministério Público Federal).
Cabral cobrava até R$ 500 mil por mês de mesada das empreiteiras em troca de grandes obras do Estado do Rio de Janeiro durante seus dois mandatos, de 2007 a 2014. O peemedebista foi preso na manhã desta quinta-feira pela PF e a mulher dele, Adriana Ancelmo, foi levada para depor obrigatoriamente (condução coercitiva).
O procurador Athayde Ribeiro Costa, do MPF do Paraná, explicou que houve "atos de lavagem de dinheiro com pagamento de espécies de bens de alto valor e também com depósitos em contas bancárias em espécie".
— A gente constatou na investigação que vários tipos de compras foram efetuadas com dinheiro em espécie, como por exemplo móveis para escritório, minibugues, eletrodomésticos, seis vestidos de festa para a então primeira-dama, equipamentos agrícolas, máquinas para fazenda, blindagem de veículos, inclusive parcelas de financiamento de veículos foram pagas em espécie.
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Os depósitos nas contas correntes dos investigados "foram estruturados e divididos em valores inferiores a R$ 10 mil para evitar a fiscalização financeira e a comunicação ao Coaf", segundo o procurador federal.
— Era uma estratégia de ocultar as comunicações e tentar esconder o produto do crime.
Para Costa, "o caso revelado hoje é um exemplo clássico que retrata os efeitos avassaladores da corrupção para o Brasil e o Rio de Janeiro". O Rio de Janeiro sofre uma grave crise financeira atualmente, com o risco de pagamento de salários a servidores públicos e crises nas áreas de segurança pública e saúde.
— A sociedade sofre e muito com os efeitos da corrupção. Aqui no Estado do Rio de Janeiro hoje vemos faltar o mínimo para a população na área de saúde e segurança pública. Por isso, essas investigações são importantes e devem ser levadas até o fim, doa a quem doer.
Comperj
O procurador do MPF do Paraná informou que a Operação Calicute, deflagrada hoje pela PF e que envolveu 230 agentes, surgiu a partir de uma investigação a respeito de um contrato de terraplenagem do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
— Nesse contrato, o senhor Sérgio Cabral fez uma solicitação de vantagem indevida correspondendete a 1% do valor de participação da empreiteira naquele contrato. Os executivos da Andrade Gutierrez foram ao então diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa para saber se realmente era o caso de atender ao pedido de Cabral. Costa confirmou que deveria ser paga a propina.
O valor total da propina nesse caso deveria ser de R$ 2,7 milhões, valor que foi recebido em espécie por Cabral, de acordo com o procurador federal.
Costa explicou que, em determinado momento, a Andrade Gutierrez não tinha o dinheiro em espécie no Rio de Janeiro e, em outubro de 2008, executivos da empreiteira e o senhor Carlos Miranda [emissor de Cabral] viajaram para São Paulo.
— Tinham o intuito de obter na sede da Andrade Gutierrez valores em espécie destinados a Sergio Cabral. A investigação constatou a viagem de ida e volta e o registro de entrada de Carlos Miranda na sede da empresa em São Paulo.