Relatório da CPI do Cachoeira pede indiciamento de jornalista da Veja
Policarpo Jr. teria publicado reportagens de interesse da quadrilha de Cachoeira
Brasil|Do R7, em Brasília
O relatório da CPI do Cachoeira, apresentado nesta quarta-feira (21) pelo deputado Odair Cunha (PT-MG), pede o indiciamento de 46 pessoas, sendo cinco jornalistas. Entre os pedidos de indiciamento está o do diretor da sucursal de Brasília da Revista Veja, Policarpo Jr., por formação de quadrilha.
De acordo com o texto, o jornalista manteve "constantes interlocuções com o chefe da Organização Criminosa, Carlos Cachoeira". Segundo o relatório da CPI, Policarpo Jr., além de ter Cachoeira como fonte de informação, era também usado pela quadrilha, já que teria publicado reportagens que interessavam à organização criminosa.
Conforme a CPI apurou, o relacionamento entre Cachoeira e Policarpo começou em 2004, quando, em fevereiro, a Revista Veja publicou, uma semana depois da Revista Época, matéria sobre vídeos gravados em 2002 pelo empresário e bicheiro Carlinhos Cachoeira. Nas imagens, o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz aparecia extorquindo o contraventor.
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Após essa reportagem, Policarpo Jr. prestou depoimento no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e defendeu o contraventor. De acordo com a CPI, esse depoimento "ilustra o que foi desvendado anos depois a partir de diálogos interceptados pelas operações Vegas e Monte Carlo da Polícia Federal".
Segundo o texto da CPI, Carlos Cachoeira e sua organização alimentavam de informações o jornalista Policarpo Jr. e usavam as matérias assinadas ou pautadas pelo jornalista ou sua equipe "como uma arma letal para prejudicar adversários, destruir personalidades e biografias, criar e promover falsos moralistas e paladinos da ética, visando sempre alcançar o êxito político e econômico de sua organização criminosa".
A CPI afirma ainda que o diretor da Veja utilizava as informações passadas pela quadrilha seguindo a linha editorial do conglomerado que o emprega [Editora Abril]. Para atingir esses objetivos, diz a CPI, o jornalista não teve qualquer receio de cometer crimes, infringir o Código de Conduta dos Jornalistas e macular a ética da profissão.
O relatório cita ainda a reportagem publicada pela Revista Veja em maio de 2011, mostrando que a empreiteira Delta havia sido alçada à condição de maior parceira do governo federal no mesmo ano em que contratou os serviços de consultoria do ex-deputado e ex-ministro da Casa Civil no governo Lula.
Além de Policarpo Jr., a CPI pede o indiciamento dos jornalistas Wagner Relâmpago, Patrícia Moraes, João Unes e Carlos Antonio Nogueira.
Cachoeira deixa presídio
O contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, deixou, no início da madrugada desta quarta-feira (21), o presídio da Papuda, em Brasília. A Justiça do Distrito Federal mandou soltá-lo no início da noite de terça-feira (20). Cachoeira estava preso havia nove meses. A juíza Ana Cláudia Barreto, da 5ª Vara Criminal de Brasília, revogou a prisão provisória imposta ao contraventor a partir da Operação Saint Michel, que apurou tentativa de fraude a licitação no governo local.
Ao estabelecer a sentença na ação, no entanto, a juíza o condenou a cinco anos de reclusão, em regime aberto, mais 50 dias multa pelos crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência — pena que só poderá ser aplicada após a publicação da decisão. Sua mulher, Andressa Mendonça, chegou por volta das 23h de terça-feira (20) à Papuda e disse que reiterava "seu amor" por Cachoeira. Da prisão, ele deveria voltar para Goiânia.