Roubo de mala com R$ 1,5 mi de caixa 2 revelou que própria Odebrecht foi vítima de corrupção
Em delação premiada, Mônica Moura classificou episódio ocorrido em 2014 de ‘fato inusitado’
Brasil|Do R7

Mônica Moura, mulher do ex-marqueteiro do PT João Santana, explicou em sua delação premiada que um “fato inusitado” revelou uma série de desvios de recursos da própria Odebrecht, de até US$ 100 milhões, sem o conhecimento dos executivos da empresa. Os vídeos da colaboração da marqueteira foram divulgados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta sexta-feira (12).
Em 2014, o roubo de uma mala de roupas, recheada com R$ 1,5 milhão de caixa dois da Odebrecht, dinheiro de acerto de contas com o casal de marqueteiros, indica que a própria empreiteira estava sendo roubada por um funcionário.
Trata-se do executivo Fernando Migliaccio, preso em fevereiro de 2016 na 23ª fase da Lava Jato (Acarajé).
Mônica Moura explicou à Justiça que, quando estava fazendo campanha da Dilma Rousseff, recebia dinheiro da Odebrecht, por meio de pagamentos "em dinheiro, em hotel, flat, com senha, e tal".
Segundo ela, "uma das vezes, se acumularam alguns pagamentos de R$ 500 mil, não me lembro por que motivo, eles deixaram de fazer o pagamento e isso se acumulou em R$ 1,5 milhão”.
— Então, o Fernando Migliaccio me chamou um dia e disse: “Olha vou te pagar aqueles atrasados e o de agora. Vou te pagar R$ 1,5 milhão. Me dá o endereço”.
O emissário do casal Santana — André Santana, um funcionário que trabalhava com o casal desde 2002 — foi até um hotel e falou a senha a cerca de três ou quatro pessoas da Odebrecht. Segundo Mônica, assim que saiu do hotel, cerca de 2 horas depois da entrega da mala, pegou um táxi em frente ao local e o assalto aconteceu.
— Alguns minutos depois, já longe do hotel, o táxi foi fechado por uma SUV com aquele negócio de polícia em cima [sirene]. Desceram de um carro só dois homens e mandaram o táxi parar e ele descer. Disseram: “A mala está aí no fundo, me dá a mala aí. Venha cá, você mexeu nesse dinheiro? Você tirou alguma coisa daí? Eu sei quanto que tem...”. Ele entregou o a mala e os caras se mandaram. Fato absolutamente estranho.
Alvo do furto, Mônica — presa na mesma operação Acarajé, em fevereiro de 2016 — disse que só descobriu o suposto autor do roubo na cadeia, quando conversava com o herdeiro do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, na carceragem da PF (Polícia Federal) em Curitiba.
— Um ano e meio depois, quando eu comecei a ler essas histórias do Fernando, que ele foi preso na Suíça, que tinha conta... que o próprio Marcelo, que estava com a gente lá na PF, falou: “Onde que o Fernando ter US$ 100 milhões? Isso é impossível”. O Migliaccio afanou durante anos essa empresa, entendeu? O dinheiro era tanto, a movimentação era tamanha, que imagino que não tinha esse controle. É algo assim muito sério.
Mônica Moura disse que esse pagamento foi refeito meses depois, ou seja, o casal Santana não teve prejuízo. Ela disse ainda que foi "um dos maiores valores" que recebeu.
— Eu achei estranho, porque foram tantas vezes que eu recebi dinheiro e nunca fui assaltada. Mas enfim.















