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Vamos ajudar o governo a se colocar à esquerda, diz líder de ato em defesa da Petrobras

Protesto favorável ao governo federal deve ocorrer hoje em todas as capitais do País

Brasil|Diego Junqueira, do R7

Deyvid Bacelar: "O grande problema é o financiamento privado das campanhas"
Deyvid Bacelar: "O grande problema é o financiamento privado das campanhas" Deyvid Bacelar: "O grande problema é o financiamento privado das campanhas"

O ato em defesa da Petrobras desta sexta-feira (13), convocado para todas as capitais pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e por outros movimentos sociais, é uma das formas de pressionar o governo federal para se colocar à esquerda, já que ocorre uma disputa de poder na gestão Dilma Rousseff.

A opinião é de Deyvid Bacelar, 35 anos, um dos líderes do ato na Bahia. Funcionário concursado da Petrobras desde 2006, ele é coordenador-geral do Sindipetro-BA (Sindicato dos Petroleiros da Bahia), ligado à FUP (Federação Única dos Petroleiros), que, por sua vez, é ligada à CUT.

Bacelar trabalha como técnico de segurança na RLAM (Refinaria Landulpho Alves), no Recõncavo Baiano, e foi escolhido em fevereiro, por votação, como representante dos funcionários da Petrobras no Conselho de Administração da estatal.

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Em entrevista ao R7, ele nega que os atos de hoje sejam em defesa do governo, mas explica que são parte de uma estratégia dos movimentos sindicais e sociais para ajudar a gestão Dilma Rousseff a suportar a pressão “do capital internacional e da direita”.

Ele diz apoiar o governo, mas “fazendo o contraponto necessário para defender os direitos dos trabalhadores”.

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Bacelar também critica a cobertura da mídia sobre o esquema de pagamento de propinas na Petrobras, já que, em sua visão, a corrupção no País vai muito além dos escândalos na estatal petrolífera.

— O grande problema é o financiamento privado das campanhas partidárias.

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Por isso, diz, o protesto de hoje em todo o País também defende a reforma política por meio de uma constituinte.

Para Bacelar, a manifestação não tem relação com os protestos antigoverno convocados para o domingo (15), os quais servirão como um “termômetro” do poder de fogo da oposição.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

R7: O ato desta sexta tem alguma relação com a manifestação de domingo (15) contra o governo federal?

Deyvid Bacelar: Essa data de 13 de março já tinha sido fechada com as centrais sindicais desde o final do ano passado. Então era uma data já prevista no calendário das centrais sindicais. A gente só abrangeu a luta para termos juntos os outros movimentos sociais. Várias reuniões foram realizadas, principalmente em São Paulo, para tentarmos unificar o movimento nacionalmente.

R7: Quais são as bandeiras?

Bacelar: É um tema nacional, construído também com os outros movimentos. Um ato em defesa da Petrobras, por direitos e pela constituinte para a reforma política. Por isso a gente conseguiu aglutinar uma série de movimentos. Esse é um dos primeiros atos, não será o único. Com certeza esse será um ano bastante conturbado nesse sentido, com várias manifestações de rua e a presença maciça dos movimentos sociais, movimento sindical, exigindo os seus direitos e tentando ajudar o governo a ficar mais à esquerda, [pois o governo] está sendo muito pressionado pelo capital internacional e pelo Congresso Nacional para se posicionar à direita. Então é um governo de disputa, e a forma de nós disputarmos esse governo é estando nas ruas.

R7: Mas as próprias centrais sindicais estão divididas hoje.

Bacelar: Nem tanto. No movimento sindical, hoje, somente a Força Sindical, em São Paulo, é que destoa um pouco, porque o [deputado] Paulinho da Força (SD-SP), pra gente, é um traidor de classe. Ele se uniu com a direita. Historicamente quem perseguiu os trabalhadores e retirou direitos era a direita, que esteve sempre no poder do País. Todas as outras centrais sindicais apoiam o governo, mas fazendo o contraponto necessário para defender os direitos dos trabalhadores. É bom que isso fique bastante claro.

R7: O governo diz que há um clima de 3º turno no País. Nesse ponto, se não vivêssemos um momento de crise política e de fortalecimento da oposição, as centrais sindicais estariam juntas ao governo?

Bacelar: Essa observação do governo é uma verdade também. Os derrotados nas eleições do ano passado não querem respeitar a democracia, não querem respeitar a vontade do povo brasileiro. Estão de todas as formas tentando criar um terceiro turno e dar um golpe branco de Estado, o que ninguém vai admitir de forma alguma. (...) Mas é um governo de disputa. A gente só ganhou o Executivo, com todas as restrições que existem. Já no Legislativo e Judiciário nós não temos espaço praticamente algum. No Congresso, o governo tem de fazer acordos e, por conta disso, ele sempre se torna um governo de disputa. Então as bases sociais do governo federal, e principalmente os partidos de esquerda que compõem esse governo, precisam sempre estar pautando o governo, ajudando o governo a se colocar mais à esquerda. Mesmo que não vivêssemos uma conjuntura complexa, nós estaríamos nas ruas exigindo mais direitos, exigindo que o ajuste fiscal não arroche o trabalhador e a trabalhadora, que os ajustes captem recursos de quem tem mais e não de quem tem menos.

R7: É um ato em defesa do governo?

Bacelar: Não. É em defesa da Petrobras, que vem sendo massacrada pela mídia, sem querer generalizar. Massacrada e execrada diariamente pelo interesse do capital internacional, que por sinal financia muitos parlamentares e boa parte da mídia. Então tem outros interesses por detrás, e esses outros interesses veem que esse é o momento para se fazer isso [atacar a Petrobras]. Eles se utilizam dos vários parlamentares que foram financiados por multinacionais petrolíferas, como Chevron e Shell, e outras que fazem lobby pesado no Congresso Nacional, para mudar a lei de partilha, que faz da Petrobras a operadora única do pré-sal, estabelece que temos um conteúdo nacional mínimo que precisa ser respeitado, fazendo com que a tecnologia e engenharia sejam brasileiras, além de um fundo social que obtém royalties do pré-sal para educação e saúde. Por conta disso é um ato em defesa da Petrobras.

Segundo, é em defesa de nossos direitos, dos trabalhadores, das mulheres, dos negros. Direitos de uma forma geral. E por fim, em defesa de uma constituinte para a reforma política. Porque hoje, por exemplo, a mídia hegemônica e golpista coloca a corrupção na pauta do momento e ataca a Petrobras com esse tema. Mas a forma de combater a corrupção, que os movimentos sociais todos entendem, é fazer uma reforma política, só que não pelo Congresso, que está corrompido. O Congresso teve 70% dos parlamentares eleitos com recursos de empresas, então eles devem favores. O Congresso não vai fazer uma reforma política adequada.

R7: Você está querendo dizer que o problema da corrupção no Brasil não se limita a Petrobras?

Bacelar: [A corrupção vai] muito além disso. O grande problema é o financiamento privado-empresarial das campanhas partidárias. Porque esses 70% dos parlamentares vão dever favores. Terão que primeiro devolver esses recursos, e aí vai né, licitações fraudulentas, obras superfaturadas, projetos que beneficiam seus financiadores. Então a causa maior da corrupção é o financiamento privado e empresarial das campanhas. Uma forma de se acabar com isso é justamente por meio de uma reforma política feita por uma constituinte exclusiva e soberana.

R7: Um dos temas do protesto de 15 de março é a reforma política e contra a corrupção na Petrobras.

Bacelar: Se esses protestos fossem por uma reforma política, principalmente por uma constituinte, nós estaríamos juntos. Mas o foco das manifestações do dia 15 é claro e notório que não é isso. O dia 15 é um ato criado e incitado pela direita, principalmente pelo PSDB e o DEM. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) é claro, em suas declarações no Congresso, de que ele quer sangrar a [presidente] Dilma. O objetivo ali é outro, não tem uma pauta específica, construtiva. Muito pelo contrário, é uma pauta desrespeitosa para a democracia do Brasil, porque o que eles pedem é impeachment. Mas por qual motivo? Qual o interesse?

R7: Dependendo do que acontecer nos atos do domingo (15), isso pode mudar a estratégia dos movimentos sociais e sindicais?

Bacelar: Quando você vê as madames em suas varandas gourmets, nos seus prédios maravilhosos nos bairros nobres do País, baterem panela em protesto contra Dilma. Cá pra nós, um ato desse tem qual repercussão? A gente sabe que em São Paulo, infelizmente, devido ao traidor de classes, que é o Paulinho da Força, infelizmente a gente sabe que em São Paulo será um ato infelizmente grande. Primeiro que em São Paulo eu não sei o que ocorre naquele Estado, é um negócio anormal. Mas esse ato das madames, nos bairros nobres, é um tanto quanto ridículo.

R7: Mas eles não podem protestar?

Bacelar: Claro que podem, mas que influência isso tem? Nenhuma. Que poder de mobilização isso tem? Nenhum. Vamos aguardar o termômetro [do dia 15].

R7: Dependendo desse termômetro, vai causar uma reação dos movimentos de esquerda?

Bacelar: Com certeza. Você viu essa declaração do grande companheiro Stédile, do Movimento dos Sem Terra. Nós temos as massas organizadas. É diferente. Nós temos a classe trabalhadora organizada em entidades, com ganhos nos últimos 12 anos. Eles [a oposição] não têm. Com certeza esses movimentos vão estar sempre dispostos, com todas as suas forças, a defender a democracia.

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