Brasil está preparado para instabilidade internacional, diz secretário do Tesouro
Em meio à Guerra entre Rússia e Ucrânia, Paulo Valle destacou que há conforto, já que apenas 5% da dívida pública é externa
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Após os ataques russos contra a Ucrânia, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse que o Brasil tem caixa e está "em uma situação confortável" para enfrentar incertezas provocadas no mercado internacional, destacando que a dívida externa é baixa nas contas públicas.
"Estamos em uma situação de conforto, só 5% da dívida é externa, 95% é em real e a participação de estrangeiro no Brasil representa pouco mais de 10%", disse, durante coletiva de anúncio dos resultados de janeiro de 2022 do Tesouro Nacional. Ele acrescentou que o país tem "100% da necessidade de financiamento de 2022 em caixa" e mais de R$ 350 bilhões de reserva internacional. "O Brasil está bem estruturado para alguma volatilidade do mercado internacional."
A reserva financeira usada em momentos de turbulência ficou em R$ 1,132 trilhão no mês passado. Na comparação com dezembro de 2021, quando o montante era de R$ 1,186 trilhão, houve leve queda. No entanto, os valores são capazes de cobrir quase um ano de vencimentos da dívida pública. Antes da atual instabilidade provocada pela guerra, a previsão para os próximos meses era de vencimentos de R$ 1,334 trilhão em títulos federais.
Por outro lado, Valle ponderou que ainda é cedo para traçar um cenário mais detalhado, prevendo a necessidade de atuação extraordinária. "A guerra acabou de começar. Mas é normal que, toda vez que há guerra no mundo, exista volatilidade do mercado." Na avaliação do secretário, é preciso aguardar os acontecimentos para avaliar a necessidade de medidas adicionais.
"Atuação extraordinária é exceção e não regra. Como o Tesouro está com caixa confortável, a gente acompanha o mercado permanentemente e estamos muito atentos para tomar medidas necessárias. Está cedo, mas estamos bem posicionados", frisou Valle.
Impactos ao Brasil
Em tempos de guerra, um impacto negativo com quedas generalizadas nas bolsas de valores mundiais é reflexo direto e, por isso, o Brasil não escapa das consequências do conflito, sobretudo em um momento em que a inflação está alta e os juros na casa dos dois dígitos. O alerta vermelho está no preço dos combustíveis, que variam de acordo com o preço internacional do barril do petróleo e a variação cambial.
Ao comentar a pressão no Congresso para o apoio do governo federal aos projetos visando coibir a alta dos combustíveis, o secretário do Tesouro comentou que o Ministério da Economia vem trabalhando junto à Casa Civil e ao Legislativo Federal na busca de alternativas.
"Devemos continuar as discussões. O que temos dito é que qualquer medida precisa ser mais focalizada e essas medidas na linha de criação de fundos, no nosso ver, são caras e não eficazes. Mas vamos continuar na procura de alternativas", destacou Valle.
Uma das propostas em discussão no Senado é o PL (Projeto de Lei) 1.472, que prevê a criação de uma conta amortizadora para que aumentos nos derivados de petróleo não reflitam diretamente nas bombas dos postos.