Aceleramos: novos Ford Ka e Ka+ colocam compactos populares em outro nível e chegam para revolucionar
Hatch e sedã estreiam em setembro com elevada estimativa de vendas e tecnologias inéditas
Carros|Diogo de Oliveira, do R7, em Trancoso (BA)*
A Ford acaba de dar um dos passos mais importantes de sua rica história no Brasil. Ao reinventar o Ka e torná-lo global sobre a plataforma do New Fiesta, a montadora criou um compacto “matador”, que vai tirar o sono dos executivos da concorrência e mudar de vez o panorama da categoria. Se até 2013 muitos carros da faixa dos R$ 30 mil sequer ofereciam air bags frontais e freios com ABS, agora o novo Ka coloca essa disputa tecnológica num patamar jamais visto por aqui, nem com os outrora completíssimos modelos da China.
Por R$ 40 mil, a versão hatch equipada com o moderno motor 1.0 3C (três cilindros, 85 cv) sai de fábrica com uma lista invejável, que tem como protagonistas os controles eletrônicos de estabilidade e de tração, e o desejável assistente de saída em ladeiras, que mantém os freios acionados por 5 segundos para o veículo não “descer” quando o motorista solta o pedal do freio para pressionar o acelerador. Embora ainda não tenhamos os resultados dos crash-tests do Latin NCAP, o novo Ka chega como o compacto mais seguro.
Aos que não conhecem os controles de estabilidade (ESP) e de tração (TCS), nós explicamos: os sistemas usam os sensores do ABS para medir a velocidade de giro das quatro rodas. Quando percebe, por exemplo, que uma delas está mais veloz que a outra (“patinando”), o módulo eletrônico aplica o freio na roda que está girando mais rápido para corrigir a trajetória do veículo. Ao mesmo tempo, estes sensores também operam sobre o motor, desviando mais energia (torque) para a roda que está girando mais lentamente.
Na prática, essa combinação ABS/EBD e ESP/TCS torna os veículos extremamente seguros, reduzindo o risco de perda de controle da direção pelo motorista. Em situações extremas, pode evitar capotamentos e salvar vidas. Por isso, não há dúvida: ao oferecer tais recursos no novo Ka, a Ford praticamente obriga as montadoras rivais a equipar seus modelos com os itens de segurança ativa — mesmo que alguns consumidores brasileiros ainda priorizem outros equipamentos, como ar-condicionado e rodas de liga leve.
Manequim "GG"
A Ford decidiu romper com a tradição neste novo Ka. O modelo ganhou medidas bem maiores na comparação com o hatch revelado aos europeus em 1996. Após duas gerações, a montadora desviou o foco para os mercados emergentes, sem abrir mão da modernidade exigida nos países mais ricos. Em outras palavras, aquele subcompacto urbano de dimensões modestas é coisa do passado. Agora o Ka é grande por fora e generoso por dentro, com uma das maiores cabines da categoria.
O espaço interno sem dúvida é um dos quesitos mais surpreendentes deste novo Ka, que diferente das gerações anteriores, não possui carroceria de duas portas — todos têm quatro portas. E não estranhe o termo “todos”: uma das principais novidades do modelo é a versão sedã Ka+, vista pela primeira vez na linha. Sua criação, claro, não veio ao acaso. Os novos Ka e Ka+ chegam para suceder o velho Fiesta Rocam, que não é mais produzido na fábrica de Camaçari, na Bahia. Por isso, esperem altos volumes de vendas para a dupla.
Mais caro e mais completo
Comparar o antigo e o novo Ka é inevitável, e um dos dados que mais chocam é o preço. Enquanto o velho Ka nacional partia abaixo dos R$ 25 mil, a nova geração do hatch é R$ 10 mil mais cara — parte de R$ 35.390. Mas como? Conteúdo. A Ford optou por trabalhar com uma lista de equipamentos completa. Serão apenas três pacotes (SE, SE Plus e SEL) e, desde a versão básica, vêm instalados air bags frontais, ABS com EBD, direção elétrica, ar-condicionado, travas e vidros dianteiros elétricos e rádio com Bluetooth e porta USB.
Na versão intermediária, os vidros traseiros passam a ter acionamento elétricos e vem instalado a central multimídia Sync, com rádio/MP3, comando de voz com botões no volante, Bluetooth e entradas auxiliar e USB, além de um visor no alto do painel. O suprassumo, porém, é a versão topo de linha SEL, equipada com os controles eletrônicos de estabilidade e de tração e o assistente de saída em rampas. Foi esta versão que aceleramos na sinuosa e castigada estrada que liga Arraial D’Ajuda a Trancoso, na Bahia.
Dois motores, um câmbio
Rodamos a bordo do novo Ka por cerca de 90 km dentro da ilha visinha a Porto Seguro. A primeira "perna da viagem" foi no hatch equipado com o novíssimo 1.0 3C flex com até 85 cv e 10,8 kgfm de torque. Mais potente da cilindrada no País, o pequeno 1.0 de três cilindros também é feito em Camaçari e vai surpreender muita gente que desdenha dos "mil". Sua elasticidade e força nas acelerações e retomadas nos faz pensar que o motor é maior.
Outro aspecto campeão no motor é o consumo. Segundo o Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro, as médias com etanol chegam a 8,9 km/l na cidade, e 10,4 km/l na estrada. Com gasolina, os números impressionam ainda mais, com médias de 13 km/l (urbano) e 15,1 km/l (rodoviário). Detalhe: esses números são os melhores entre os modelos equipados com direção (elétrica ou hidráulica) e ar-condicionado, que são de série.
O motor 1.0 3C do novo Ka vem sempre associado ao câmbio manual de cinco marchas, que também agradou bastante durante o percurso. Os engates são suaves, precisos, e a alavanca tem curso reduzido, o que torna a tarefa de fazer as trocas mais divertida, confortável e interativa. Outro item muito acertado é a direção com assistência elétrica, com peso adequado em velocidade de cruzeiro e bem leve nas manobras.
Dinamicamente, o novo Ka deve se tornar referência em dirigibilidade. A suspensão foi primorosamente ajustada para as ruas brasileiras e o trajeto do test drive, repleto de buracos (alguns até perigosos), mostrou isso. Embora seja alto (1,54 m de altura), o novo Ka é um dos mais largos do segmento, com 1,69 m. A combinação dessas medidas com o acerto de suspensão e o projeto de carroceria global conferem grande equilíbrio.
No sedã Ka+, o conforto e equilíbrio ao volante é o mesmo, mas o motor 1.5 flex, de 110 cv e 14,9 kgfm de torque com etanol, deixa a direção mais "apimentada". Acelerações e retomadas são sensivelmente mais intensas. Por outro lado, a cabine transmite maior sofisticação, com molduras que imitam black piano no lugar das prateadas do interior do hatch. A estratégia é exatamente essa: concentrar o 1.0 no hatch, e vender mais o 1.5 no sedã.
Poucas falhas para ser o mais vendido
Apesar de curta, nossa experiência com o novo Ka deixou a sensação de que o modelo tem poucas falhas. Não há, por exemplo, ajuste de profundidade do volante em nenhuma das versões, assim como repetidores de seta e ajuste elétrico nos retrovisores laterais — sim, você terá de usar aquelas hastes para posicionar os espelhos. Os porta-malas do hatch e do sedã (257 e 455 litros) também são modestos para a concorrênia (o HB20 leva 300 litros).
Esses detalhes, porém, não intimidaram a Ford, que projeta o hatch 1.0 como o mais vendido da categoria no Brasil — junto com Onix, HB20, Gol, Palio e Novo Uno. Manter um "pé" no popular também foi uma forma de preservar o New Fiesta, que parte acima dos R$ 40 mil. A Ford sabe que haverá canibalização entre os compactos. Mas a montadora entende que é bem melhor perder dentro de casa que na concerrência.
*O jornalista viajou a convite da Ford do Brasil
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