A Nissan apresentou oficialmente nesta semana seu novo SUV compacto, o Kicks. Inédito e desenvolvido para vender em mais de 80 países, o crossover estreia primeiro no Brasil, de carona com as Olimpíadas Rio 2016 — é o carro oficial dos jogos olímpicos. O utilitário será produzido em Resende, no sul do Rio de Janeiro, mas curiosamente chega primeiro importado de Águas Calientes, no México, onde a produção já começou. Vem brigar com a crescente e febril turma de SUVs compactos liderada pelo Honda HR-V.
Entre os adversários também estão o Jeep Renegade, outro sucesso comercial, além de Renault Duster, Ford EcoSport, Chevrolet Tracker, Peugeot 2008 e alguns chineses — como Lifan X60 e JAC T5. Seu foco, porém, é o HR-V, e o Kicks vai entregar muito conteúdo para tentar fisgar uma parcela de clientes da Honda. Inicialmente, será vendido apenas na versão mais cara SL, com preço sugerido de R$ 89.990. O valor é um tanto salgado para as expectativas iniciais, mas o Nissan tem cartas na manga.
A começar pelo projeto, que estreia nova plataforma global, derivada da estrutura de New March e New Versa. Segundo os engenheiros da marca japonesa, foram tantas modificações no monobloco que se trata de outro veículo. A carroceria recebeu reforços estruturais, aços de alta resistência e alterações importantes no cofre do motor e na posição do eixo dianteiro, que permitiu chegar ao menor raio de giro da categoria — o que é decisivo na manobrabilidade, sobretudo na hora de estacionar em vagas complicadas.
Além de mais resistente à torção, esta nova plataforma V-Extended do Kicks também é extremamente leve. O SUV pesa 1.142 kg nesta versão de topo, que está a caminho das lojas. Isso permitiu à Nissan instalar o conhecido 1.6 16V flex, presente nos compactos March e Versa. O motor recebeu apromoramentos nos dutos de admissão e na parte eletrônica, que foi inteira modernizada. Produz 114 cv de potência a 5.600 rpm e um bom torque de 15,5 kgfm a 4.000 giros com ambos os combustíves (etanol e gasolina).
Para extrair o máximo de economia, a Nissan oferecerá momentaneamente o Kicks somente com o câmbio automático Xtronic CVT. A transmissão continuamente variável também recebeu alterações em relação à caixa recém-lançada no March e no Versa. Há a função D-Step, que ajuda a poupar combustível, um modo Sport e, quando o motorista pisa mais fundo no acelerador, simula seis marchas virtuais, para imprimir melhor dinâmica em uma eventual ultrapassagem na estrada, por exemplo.
Contra o Honda HR-V, o Kicks também apostará alto em conteúdo, sobretudo no que diz respeito à segurança e entretenimento. O modelo praticamente não tem opcionais e virá, de fábrica, com uma lista bastante recheada. São de série direção elétrica progressiva, ar-condicionado automático digital, seis airbags (frontais, laterais e de cortina), ABS com EBD, controles eletrônicos de estabilidade e de tração, assistente de saída em rampas, rodas de liga aro 17 e chave presencial com partida do motor por botão.
Na parte de conforto, há ampla forração em couro (bancos, volante, alavanca do câmbio, centro do painel e forro das portas), volante multifuncional com base reta e ajustes de altura e profundidade, vidros elétricos com acionamento por um toque nas quatro portas, cintos de três pontos para todos os ocupantes, Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, sensores de obstáculos traseiros e central multimídia com GPS, tela touch de 7 polegadas e câmera de ré com visão 360º — um gráfico mostra o ângulo aéreo do veículo e possíveis obstáculos ao redor.
O Kicks tem ainda itens inusitados, como os bancos com espumas desenvolvidas pela Nasa. Segundo engenheiros da montadora, os assentos criados em parceria com a Agência Espacial dos Estados Unidos têm ergonomia perfeita, uma vez que as espumas se ajustam ao corpo dos passageiros com densidade ideal, nem muito macia, nem dura demais, para evitar fadiga e má pocisionamento do corpo. Já a cabine é farta em espaço e quantidade de porta-objetos. E o porta-malas comporta 432 litros — é um dos maiores do segmento.
Ao volante, o Kicks surpreende, sobretudo em relação ao desempenho do motor 1.6 flex. Muitos jornalistas estavam curiosos e com certo receio em relação à disposição do SUV. Rodamos cerca de 200 km durante o test drive, e uma das característica que mais chamou a atenção foi a leveza do modelo em movimento. Na cidade, o crossover compacto se movimentou com suavidade, mas sem demonstrar cansaço. Já na estrada, ganha velocidade de forma progressiva, sem imprimir ritmo agressivo e privilegiando o conforto.
Quando solicitado, o motor 1.6 mostrou ser suficiente, embora o veículo estivesse praticamente vazio. Ao pressionar o pedal do acelerador, a transmissão Xtronic CVT passa a simular seis marchas e melhora a agilidade nas trocas, evitando que o câmbio suba demasiadamente os giros, como ocorre em uma caixa CVT tradicional. Em velocidade estável, de cruzeiro, a 100 km/h, o motor passa a trabalhar com giro baixo (abaixo de 2.000 rpm), permitindo ao Kicks entregar ótimos números de consumo.
Pelo Programa de Etiquetagem do Inmetro, o SUV chega como o mais econômico da categoria. As médias são de 8,1 e 11 km/l na cidade, e de 9,6 e 14 km/l na estrada, sempre com etanol e gasolina. A função D-Step do câmbio influencia nos resultados, já que faz o motor trabalhar sempre em giro baixo. O desempenho em aceleração não impressiona, mas também não destoa da concorrência e até supera alguns rivais com motor maior. O zero a 100 km/h leva 12 segundos e a velocidade máxima é de 175 km/h.
Por dentro, o Kicks cativa mais do que decepciona. Ha elementos comuns a March e Versa que destoam um pouco pelo preço — alguns plásticos rígidos de textura insossa, forro das portas de aspecto modesto, teto de feltro e luzes no teto muito "pobres". Também faltam alguns equipamentos, como teto solar e freio de estacionamento elétrico com função auto hold (mantém os freios travados quando o veículo está parado, o que aumenta o conforto do motorista, principalmente em congestionamentos).
Contudo, outros recursos encantam. É o caso do painel de instrumentos com um enorme visor de cristal líquido que projeta o relógio do conta-giros. A telinha tem várias funções e permite até configurar alguns recursos de segurança ativa. O mostrador exibe funções como bússola, consumo médio e instantâneo, e instruções do GPS. A tela "flutuante" da central multimídia também chama a atenção, com ótima posição e manuseio intuitivo. Só faltou oferecer as plataformas Apple Carplay e Google Android Auto.
Por fim, o espaço interno é dos melhores, sem dúvida. A Nissan se espelhou na Honda e o Kicks tem praticamente as mesmas dimensões do HR-V — é apenas um tantinho mais alto. São 4,29 metros de comprimento, por 1,76 m de largura e 1,59 m de altura. O entre-eixos mede surpreendentes 2,61 metros, o que garante o ótimo espaço no banco traseiro e no porta-malas. Há muitos porta-trecos, o que, nos dias de hoje, com smartphones e outros gadgets, é cada vez mais necessário. E as portas são leves e amplas, facilitando o acesso.
Para produzir o Kicks, a Nissan investiu alto. Só a nova plataforma V-Extended custou R$ 2 bilhões e servirá a outros modelos. A projeção é vender 360 mil unidades do crossover pelo mundo. No Brasil, a produção deve começar no segundo semestre, mas a montadora não fala em data. Só quando for nacionalizado, o Kicks terá versões mais baratas — são esperadas três opções. O preço incial deve ficar próximo do Renault Duster (começa em R$ 66.490). Mas podem demorar um pouco, até março de 2017.
A princípio não haverá novo motor para o Kicks. O conjunto mecânico deve ganhar apenas opção de câmbio manual, porém é sabido que as versões automáticas respondem pela maioria maciça das vendas da categoria. Mas mesmo tendo apenas a versão topo de linha, a Nissan está bastante otimista. A série de lançamento Rio 2016, limitada em 1.000 unidades, já vendeu praticamente tudo, e o hotsite do crossover recebeu mais de 60.000 cadastros de interessados. A febre SUV anda mesmo alta e o Kicks vem para brigar na frente.