Caso Bernardo: testemunhas de defesa apontam madrasta como culpada pelo crime
Além dela, o pai e mais duas pessoas estão presas; criança foi achada em matagal em abril
Cidades|Do R7, com Rede Record
A Justiça de Três Passos, no norte do Rio Grande do Sul, ouviu na quarta-feira (26) as primeiras testemunhas de defesa do processo criminal que apura a morte de Bernardo Boldrini, de 11 anos, ocorrida em abril deste ano. As testemunhas do pai da criança, o médido Leandro Boldrini, deram declarações que apontam a madrasta como culpada pelo assassinato do menino. Audiências continuam nesta quinta-feira (27).
Uma antiga emprega da família afirmou que viu Graciele Ugulini tentar asfixiar o menino. Mas ela disse que, naquela época, não denunciou o caso por medo de represálias.
Uma funcionária de Boldrini, uma técnica de enfermagem, contou que ouviu de uma colega que Graciele pensava em contratar matadores de aluguel para matar Bernardo. Ela disse ainda que o pai tinha uma boa relação com o filho e que ele ficou arrasado quando a criança procurou o Conselho Tutelar para pedir "comida, roupas limpas e permissão para brincar com a irmã mais nova". A testemunha afirmou que nunca viu o garoto desnutrido ou mal vestido.
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Uma psicóloga e terapeuta familiar que atendeu Bernardo em duas ocasições no ano de 2011 disse que o garoto necessitava da presença e do acompanhamento do pai, no entanto, embora solicitado, o médico falou que não iria mudar o comportamento.
— Leandro só ia às sessões se chamavam. Às vezes, Bernardo ia com a madrasta.
A testemunha foi colega de Graciele na Secretaria da Saúde. Ela disse que sempre que perguntava sobre como estava o menino, a madrasta era sempre superficial, saindo pela tangente. Na avaliação dela, o caso se tratava de uma típica família reconstituída onde a madrasta não aceitava o enteado.
Quando voltou a tratar Bernardo, a terapeuta familiar observou que suas roupas eram sujas (tinham restos de comida, de tinta usada na escola), o aparelho ortodôntico era mal higienizado, além de se mostrar sonolento, apático e desanimado. Na ocasião, ela comunicou a situação ao Conselho Tutelar. A testemunha informou que sabia do abuso de remédios e também comunicou o pediatra. E que Bernardo sabia nominar as medicações que usava.
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O menino estava abaixo do peso e com princípio de pneumonia. Certa vez, ela questionou Bernardo sobre qual personagem de história infantil o menino gostaria de ser, se pudesse.
— Nenhum. Porque nunca ninguém me contou histórias.
Um colega de hospital de Boldrini disse que viu pai e filho poucas vezes juntos. Ele contou que a família foi na casa dele umas três semanas antes do desaparecimento do menino.
— Leandro tinha uma relação fria com Bernardo e com a menina [filha dele com Graciele] também.
Entre quarta-feira e esta quinta-feira, a Justiça deve ouvir 24 testemunhas de defesa. Ao todo, 46 pessoas deverão prestar depoimento nesta etapa do processo. Os quatro réus que não participam das audiências estão presos.
O caso
Bernardo Uglioni Boldrini, de 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, em Três Passos. O corpo do garoto foi encontrado dez dias depois, em Frederico Westphalen, dentro de um saco plástico. O menino estava enterrado às margens de um rio. Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, admitiu o crime e apontou o local onde o garoto foi enterrado.
A Polícia Civil sustenta a tese de que Graciele e Edelvânia mataram o menino usando doses do medicamento Midazolan — a madrasta porque entendia que Bernardo era um “estorvo” para o relacionamento entre ela e Leandro Boldrini, e Edelvânia em troca de dinheiro, para comprar um apartamento.
Ainda segundo o inquérito, o pai também teve participação na morte fornecendo o medicamento controlado em uma receita assinada por ele, na cor azul. Já Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, se tornou o quarto réu do caso, pela suspeita de ter ajudado a fazer a cova onde o corpo do menino foi enterrado.
O processo criminal tramita no Fórum de Três Passos e está em fase de audiências de instrução, que é quando o juiz ouve as testemunhas indicadas pela acusação e defesa para decidir sobre qual crime os réus terão de responder.
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