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Conheça Carlos Adão, novo “mito e lenda” do grafite brasileiro

Economista e ex-empresário é o misterioso autor dos grafites espalhados pela Grande SP

Cidades|Eduardo Marini, do R7

Grafiteiro posa em frente à sua marca registrada
Grafiteiro posa em frente à sua marca registrada Grafiteiro posa em frente à sua marca registrada

Dá prazer.

Love’s Machine (Máquina de Amor).

Homem Meu, Make Love (Faça Amor), Total Sexy (Totalmente Sexy), Raro, República Democrática Sexual, Sublime, É Zica, Copa do Ladrão X Copa do Adão, A Saga Continua, Bonitão, Sagrado, Nação do Amor, Louco Amor, Louvado, Iluminado, Sábio...

Se o nobre amigo vive em cidades ou regiões próximas a rodovias dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas sobretudo na capital paulista, é quase certo ter topado, no mínimo uma vez, com uma das frases ou expressões acima em grafite, a arte do desenho de rua em barrancos, muros, postes, asfaltos e onde mais for possível nas paisagens urbana e rurais. Alguns desses grafites trazem várias cores, mas a avassaladora maioria é feita em verde sobre fundo preto – ou muitas vezes até na base natural.

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E, além dessas frases, termos e expressões, é difícil crer também que algum dos mais de 20 milhões de cidadãos da região metropolitana de São Paulo não tenha notado em algum momento, em algum lugar, grafitado no mesmo verde, a assinatura de seu autor: Carlos Adão. Talvez o melhor fosse chamar o negócio de marca: o “Adão” sempre abaixo do “Carlos”, alinhado à direita e com o sublinhado das palavras partindo das duas letras “A” – sempre na tal tonalidade de verde, claro.

O economista e ex-empresário Carlos Alberto Adão, o Carlos Adão, 59 anos, paulistano do bairro do Butantã, sexto de 12 filhos (oito deles vivos) de um funcionário público mineiro com uma dona de casa, separado há 25 anos e pai de três filhos, é o novo “mito” ou “lenda” pop do grafite paulistano e nacional.

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Carlos Adão nunca soube desenhar bem. Jamais teve interesse técnico pela figuração até a juventude. Mas sempre foi louco, verdadeiramente alucinado, pelas marcas e grifes e, ainda mais, pelos efeitos públicos produzidos por elas. Em 1973, aos 19 anos, tornou “pública” sua “grife” pela primeira vez rabiscando-a em um par de tênis.

O “público” – apenas colegas de uma pelada no bairro paulistano do Tatuapé - era restrito, é verdade. E a marca trazia outras cores e tinha a parte superior dos dois “As” iniciais com dois ângulos retos, como se fossem partes de um quadrado ou retângulo, e não como hoje, pontiaguda, lembrando um vértice de um triângulo ou losango. Quatro anos depois, na disputa como presidente do diretório acadêmico da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), lançou o Carlos Adão apenas em verde e no formato atual.

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O grafiteiro explica:

— A marca como a conhecemos hoje surgiu na disputa do centro acadêmico. Fiz pouquíssimos desenhos públicos de 1977 a 2006, quando, incentivado por amigos e alguns artistas de rua que conheci, surgiu o grafiteiro compulsivo que hoje atrai a atenção e a curiosidade de tanta gente. No meu caso, o que era tido no início como pichação hoje é admirado como grafite, arte de rua, o que me deixa muito orgulhoso.

Carlos Adão improvisa um grafite para a reportagem
Carlos Adão improvisa um grafite para a reportagem Carlos Adão improvisa um grafite para a reportagem

Elogiado por pesos pesados da cena da arte de rua do quilate dos grafiteiros Thiago Mundano, dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, da dupla OSGEMEOS, e do fotógrafo Adriano Choque Photos Grant, e obcecado por números e estatísticas, Carlos Adão garante ter contabilizado até hoje “mais de 173 mil grafites, feitos em cinco estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul”.

Apesar da paixão pelo registro de dados, é bem provável que o número apresentado por ele guarde uma notória gordurinha de exagero. Inegável, no entanto, é o sucesso, sobretudo entre os jovens paulistanos, de sua produção atual, tão vasta e bem espalhada pela capital e região metropolitana de São Paulo que muitas vezes traz uma certa aura ou sensação de onipresença do grafiteiro. Carlos Adão é hoje inegavelmente pop entre grande parte dos jovens de classe média de São Paulo.

Na tarde de quarta-feira (31), enquanto conversava com a reportagem do R7 em uma rua do bairro do Morumbi, em São Paulo, e dedicava ao portal o grafite R7 na Rede, Carlos Adão, recebeu o carinho de três adolescentes bacanas do bairro. Brincou, posou para fotos, deu conselhos (“tratem seus pais com carinho e respeito”, “estudem com amor e seriedade”) e no final presenteou o trio com camisas e bonés.

Geral voltou para casa tomada de encanto, como se não acreditasse estar diante da nova “lenda”, do novo “mito” urbano da Pauliceia. Enquanto isso, pendurado nas janelas dos carros que passavam, curiosos que reconheciam o grafiteiro registravam tudo com de seus celulares.

Muitos pararam. Entre eles Kenzo Sone, 14 anos, estudante do 9° ano do colégio Porto Seguro, acompanhado do pai. Torcedor do Flamengo, Kenzo toma um susto ao ver Carlos Adão voltar de seu carro com uma camisa do rubro-negro da Gávea com a marca do grafiteiro estampada na frente, no verde tradicional. Sai feliz da vida com o autógrafo, o presente e as fotos ao lado da “lenda”.

Carlos Adão foi corretor de imóveis (“cheguei a ganhar R$ 300 mil numa tacada só com a venda de uma propriedade de 36 mil metros em Taboão da Serra), funcionário de banco e empresário. Tem ainda uma aposentadoria de cerca de R$ 5 mil como economista autônomo contribuinte. Anos atrás, ganhou um bom dinheiro como fabricante de peça para motocicleta.

Com a grana dos tempos de corretor sortudo e empresário, tem investido no sonho que o embala na última década: ser eleito deputado federal. Candidato pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB) na última eleição, em 2010, teve, como ele próprio diz, uma “votação pífia”: 3.314 votos. Agora, em plena campanha pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), está certo de que terá melhor desempenho:

— O PTdoB não cumpriu a maior parte da agenda de exposição da minha candidatura como havíamos combinado. Senti uma realidade completamente diferente no PRB que, além disso, é um partido melhor estruturado e com quadros mais representativos. Acho que irei contribuir de forma positiva para a campanha e, se querem saber, tenho esperança de ser eleito, sim.

Ok. Mas e o grafite e a marca? Terão futuro comercial? Como será o amanhã da “grife” Carlos Adão?

A assinatura, ou seria marca, responde:

— Não descarto nada. Tudo pode acontecer. Vamos esperar o que sairá das urnas...

Carlos Adão dá prazer.

E suspense, manha, mistério, surpresa, curiosidade, alegria da rapaziada...

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