Crise no ES: "Minha mulher falou que se eu for trabalhar eu não preciso voltar para casa", diz PM
Mulheres e familiares impedem saída de policiais de batalhões em todo o Estado
Cidades|Ana Ignacio, do R7
O Estado do Espírito Santo amanheceu nesta segunda-feira (6) sem nenhum batalhão da Polícia Militar em funcionamento e sem nenhuma viatura circulando pelas ruas das cidades. De acordo com o diretor e relações públicas da associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Estado do Espírito Santo, Thiago Bicalho, não há informação de policiais em serviço nesta manhã. Ele enfatiza, no entanto, que os protestos não são organizados por nenhuma associação de classe.
— Na sexta feira (3) um grupo de 12 mulheres fechou um DPM que atende alguns bairros do município da Serra e disseram que os maridos não iam sair para trabalhar porque a situação estava insustentável e que eles não tinham dinheiro para comprar as coisas dentro de casa. Foi um isqueiro no barril de pólvora e acendeu. Se alastrou, as mulheres foram para a frente dos batalhões e hoje não tem um batalhão no Epírito Santo, que a gente tenha conhecimento, funcionando, não tem um município que tenha policial na rua.
De acordo com Bicalho, após tentativas frustradas de negociação de reajuste salarial e melhores condições de trabalho dos PMs do Estado, as mulheres e familiares dos policiais resolveram ser organizar e iniciaram o movimento.
— Minha mulher falou que se eu for trabalhar eu não preciso voltar para casa. A situação está complicada mesmo.
Governo federal autoriza envio de Forças para o ES, afirma secretário
Vitória suspende aulas e atendimento em postos de saúde após protestos
Bicalho explica que a categoria está sem aumento salarial há sete anos e que, mesmo os reajustes que ocorriam anualmente — abaixo da inflação, segundo ele — não ocorreram nos últimos três anos.
— A situação está insustentável. O PIB do ES está entre os dez primeiros do País e o salário do soldado é bem abaixo da média nacional, temos policiais com mais de 25 de serviço sem promoção, não temos um efetivo suficiente, não temos carga horária regulamentada e ficamos à mercê dos comandantes. Está um inferno. Infelizmente a população não merece passar por isso, mas a gente pede o apoio da população para que se sensibilizasse com os policiais e sensibilize o governo.
André Garcia, secretário de Segurança Pública e Defesa Social informou, em vídeo enviado pela assessoria de imprensa da pasta, que em relação ao "movimento que impede a saída de viaturas para atendimentos de ocorrências e para o patrulhamento das ruas do ES" foi ajuizada uma ação judicial que foi deferida declarando a ilegalidade desse movimento e a necessidade de desobstrução de todos os quarteis e unidades da polícia. Além disso, foi solicitado o apoio da Força Nacional de Segurança para o Estado e foi trocado o comando da PM.
Vitória suspende aulas e atendimento em postos de saúde após protestos