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Mãe de preso em Pedrinhas desabafa: "Será que vou ver meu filho vivo?"

Mulheres falam da angústia de se ter familiares na cadeia onde presos foram decapitados

Cidades|Thiago de Araújo, do R7

Foto tirada durante visita de comissão de senadores ao complexo de Pedrinhas neste mês: condições subumanas
Foto tirada durante visita de comissão de senadores ao complexo de Pedrinhas neste mês: condições subumanas Foto tirada durante visita de comissão de senadores ao complexo de Pedrinhas neste mês: condições subumanas

Ana Cristina Santos e Dulcineia Pinto Ribeiro não se conhecem. Em comum, somente o destino das duas mulheres todos os domingos: o Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. A visita aos parentes que cumprem pena no presídio, onde 60 pessoas foram mortas no ano passado, é o dia mais esperado da semana.

Em conversa com a reportagem do R7, Ana Cristina, de 23 anos, procurou demonstrar otimismo com o futuro do namorado, que cumpre pena por assalto em Pedrinhas. Sem deixar de reconhecer o erro do companheiro, a jovem explicou que a rotina está longe de ser fácil, mas a iminência da libertação a faz visualizar um futuro promissor pela frente.

— A gente tem muitos planos, ele já tem até um emprego em vista. Estamos felizes com essa nova vida que ele vai ter assim que sair de lá.

Enquanto o casamento está no horizonte de Ana Cristina, a empregada doméstica Dulcineia teme pelo futuro do filho, que está preso em Pedrinhas há quatro meses. Usuário de drogas, o rapaz acabou condenado a cinco anos e quatro meses de prisão por um assalto, cometido, de acordo com a mãe, para sustentar o vício.

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Para ela, o cotidiano tem sido "muito difícil", sobretudo com as notícias de rebeliões e mortes no complexo — apenas em 2014, morreram três presos em Pedrinhas. Além do medo da violência, o tratamento dispensado aos presos adiciona sofrimento extra aos familiares.

— Ele me diz que a comida é ruim e que ele sente como se estivessem dando comida para porco. Ele está preso, pagando pelo crime que ele cometeu e não passo a mão na cabeça dele. Ele errou e está lá, mas o que acho que deveria melhorar é o tratamento ao preso, que fica o dia todo fechado. Não tem nada para eles fazerem ali dentro. É terrível demais, só quem vive é que sabe como é.

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Outro ponto em comum entre as duas mulheres é o sentimento na hora de ir ao complexo penitenciário e ao deixar a cadeia, passado o horário de visitas. Para Dulcineia, a falta de informações das autoridades e a ausência de uma perspectiva de melhora em Pedrinhas sempre a deixa tensa, temendo pelo pior.

— Quando chega o sábado, eu já fico ansiosa para chegar o domingo e eu poder ver o meu filho. Mas na volta, é um momento difícil porque eu saio e ele fica. Fico imaginando se amanhã terei notícia do meu filho vivo. Será que no próximo domingo vou ver o meu filho vivo? Será que vai acontecer alguma coisa? Peço para ele não responder nada para ninguém, que peça tudo por favor, seja educado, o melhor possível, ajudando todo mundo. É difícil, para quem está preso. Ali, é a lei do mais forte.

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Outro desafio é lidar com o preconceito de quem que não acredita na recuperação de detentos nas prisões do País.

— Ontem mesmo eu estava conversando com uma pessoa que não sabe que eu tenho um filho preso. Aí ela disse: 'Ah, fulano diz que preso tem que ter direito e eu acho que não tem que ter direito algum, se estão lá é porque são bandidos'. Então eu disse: “É colega, eles estão lá porque são bandidos, mas são seres humanos como eu, você e qualquer pessoa”. Que atire a primeira pedra quem nunca errou.

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