Médica presa por suspeita de eutanásia escreveu livro sobre bom funcionamento do ambiente hospitalar
Manual foi escrito por ela e pelo marido, que também era médico
Cidades|Fernando Mellis, do R7
A médica Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, presa e investigada por suspeita de antecipar as mortes de pacientes terminais internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) que ela chefiava, no Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, escreveu, em 2005, um livro que pretendia ser um guia do bom comportamento e funcionamento do ambiente hospitalar.
“O Hospital: Manual do Ambiente Hospitalar” foi escrito em parceria com seu marido e também médico Nelson Mozachi, que morreu de um câncer terminal em 2006. Virgínia assumiu o cargo de chefe da UTI, ocupado por Nelson, logo após a morte dele.
A obra é descrita como um manual que ensina “os procedimentos necessários para o perfeito cuidado do paciente”, e suas páginas são destinadas, principalmente, a enfermeiros, mas também a médicos e dentistas.
Virgínia foi presa na terça-feira (19), após uma investigação policial que durou cerca de um ano. Segundo a polícia, ela ordenava o desligamento dos aparelhos de pacientes em estado terminal. O inquérito do caso, divulgado pela Polícia Civil na segunda-feira (25), contém gravações feitas por um policial infiltrado na UTI chefiada por Virgínia, com autorização da Justiça.
O advogado Elias Mattar Assad, que defende a médica, disse que não há provas que relacionem Virgínia a qualquer morte acontecida naquela UTI. Assad entrou nesta quarta-feira (27) com um pedido de habeas corpus para que ela seja solta.
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Entenda o caso
A chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (PR) foi presa no dia 19 de fevereiro por policiais do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde. Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, é suspeita de ter praticado eutanásia — antecipar a morte de pacientes internados na unidade.
As investigações começaram há um ano, após denúncias de funcionários do próprio hospital, que é considerado um dos mais importantes da cidade. Ela foi indiciada por homicídio qualificado, por não haver chance de defesa das vítimas.
Virgínia chefiava, desde 2006, a UTI geral do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. O setor fica no quarto andar do prédio, local onde a vigilância sanitária encontrou, em 2012, cinzeiros com cinzas e também bitucas de cigarro.
Em nota divulgada no dia da prisão, o Hospital Universitário Evangélico disse que abriu sindicância interna para apurar os fatos, que reconhece a competência profissional de Virgínia e que “desconhece qualquer ato técnico dela que tenha ferido a ética médica”. Toda a equipe do setor foi trocada.
Também por meio de nota, a médica se disse vítima de ex-funcionários. O filho dela, Leonardo Marcelino, e o advogado, Elias Mattar Assad, disseram que tudo “é um grande erro da polícia” e que as denúncias “são baseadas em depoimentos e não em provas”.
Apesar de estar na UTI do hospital desde 1998 e chefiar o setor há sete anos, Virgínia não era especialista na área. Segundo a polícia, quem assinava por ela como chefe da unidade era outro médico. Ela assumiu o cargo, que era do marido, depois que ele morreu.
No dia 23 de fevereiro, a Justiça expediu quatro mandados de prisão para três médicos e uma enfermeira. Os anestesistas Edson Anselmo da Silva Júnior, Maria Israela Boccato e Anderson de Freitas foram levados à delegacia no mesmo dia. A enfermeira Laís Grossi se apresentou no dia 25 do mesmo mês.
Os médicos presos negam qualquer conduta antiética e foram orientados pelo advogado de Virgínia a ficarem calados. Foi iniciada uma investigação dentro do hospital, inclusive com membros do Ministério da Saúde, para constatar eventuais irregularidades praticadas pela médica ou por outros profissionais.