PM arranca tatuagem com facão durante sessão de tortura, mostra vídeo
Uniforme aparenta ser da PM-CE. Corporação diz não ter elementos para iniciar investigação
Cidades|Josmar Jozino, da TV Record, e Alvaro Magalhães, do R7
Um vídeo que circula em grupos de WhatsApp mostra um policial militar, aparentemente pertencente à corporação do Estado do Ceará, utilizando um facão para torturar um rapaz. O PM passa todo o 1m54s do vídeo raspando o lado esquerdo das costas da vítima (a íntegra do vídeo está abaixo).
O rapaz, que chora enquanto sangra, é ainda agredido com a ponta do facão e com a lateral da lâmina. Outra pessoa, que acompanha a sessão, dá dois violentos chutes na região do tronco da vítima. É possível ver que ela usa coturnos semelhantes aos da PM.
Não é possível saber quando e onde a tortura ocorreu. As imagens foram repassadas nesta segunda-feira (5) ao R7 por um delegado da Polícia Civil de São Paulo, que as recebeu por meio de um grupo de policiais do qual participa.
Aparentemente, a tortura ocorre porque o rapaz tem uma tatuagem de palhaço nas costas. No início do vídeo, com a vítima ainda em pé e com a camisa levantada, o policial torturador afirma.
— Chore, não. O palhaço agora está ganhando cor. A gente agora está só dando cor para o seu palhaço.
Tem informações do caso de tortura revelado pelo R7?
A tatuagem começa a desaparecer, sob o vermelho do sangue. O torturador também dá pancadas com o facão nas costas da vítima e insiste.
— Chore, não. Tu não é vida louca?
A vítima responde.
— Não.
Mas o policial não aceita.
— É sim.
Em seguida, a vítima é obrigada a se ajoelhar. A tortura prossegue. Logo depois, o rapaz aparece deitado, ainda sendo torturado. É nesse momento que outra pessoa, aparentemente também um policial, desfere os dois chutes com o lado interno do coturno direito. O policial que segura a faca não para de raspar as costas da vítima. E afirma.
— Isso aqui é para tu deixar de ser gaiato, viu?
Na parte final do vídeo, o torturador manda a vítima esticar o braço e coloca o joelho esquerdo nas costas dela. É possível ver um relógio no pulso esquerdo do policial e, no dedo anular, o que aparenta ser uma aliança. Quando ele passa a usar a mão esquerda para praticar a tortura, é possível ver, em seu braço esquerdo, a divisa de soldado e um brasão.
As cores da divisa, em preto e dourado, o formato do brasão, composto aparentemente de um retângulo sobre um semicírculo, além dos tons do uniforme, camisa clara e calça escura, são semelhantes aos utilizados pela Polícia Militar do Estado do Ceará.
Questionado a respeito do vídeo na noite de segunda-feira (5), o tenente-coronel Andrade Mendonça, responsável pelo setor de Comunicação Social da Polícia Militar do Ceará, afirmou ter conhecimento das imagens. Apesar do uniforme semelhante, ele disse que não há elementos suficientes para indicar que o caso tenha ocorrido no Estado.
— O uniforme pode ser de corporações de outros Estados. É um vídeo anônimo que chegou para nós. Analisamos as imagens, mas não tivemos elementos suficientes para abrir um procedimento apuratório.
O coronel frisou, porém, que, caso haja novas informações sobre as imagens, a Polícia Militar cearense pode iniciar uma investigação.
A imagem da divisa e do brasão no braço do policial, porém, não encerram o vídeo. Antes de a sessão de tortura acabar, há um último ato de sadismo. O policial pergunta à vítima, cujas costas sangram em carne viva:
— Está doendo? Está doendo?
Atualização:
Na manhã desta terça-feira (6), a Polícia Militar do Estado do Ceará informou que abriu procedimento para apurar o possível envolvimento de integrantes da corporação na sessão de tortura.
As autoridades cearenses informaram que denúncias podem ser feitas por meio de dois telefones: pelo Disque-Denúncia da Ciops (Coordenadoria Integradada de Operações de Segurança), cujo número é 181 e vale apenas para o Estado; ou pelo telefone da Controladoria-Geral de Disciplina dos Órgaos de Seguranca Pública e Sistema Penitenciário do Estado do Ceará, cujo número é (85) 3101-5042 e vale para todo o País.
O R7 também abriu um canal para receber informações sobre o crime. Caso você tenha alguma informação, pode enviar por aqui.