Polícia confirma que boate Kiss estava superlotada na noite de incêndio
Capacidade era para 691 pessoas, mas lista conclui que 1.061 estavam presentes
Cidades|Do R7, com Rede Record
As investigações da polícia confirmaram que a boate Kiss, em Santa Maria (RS), estava superlotada na noite em que um incêndio deixou 241 pessoas mortas.
Segundo um dos delegados responsáveis pelo caso, Marcos Vianna, o relatório da polícia concluiu que 1.061 estavam no estabelecimento na noite de 27 de janeiro. O local tinha capacidade para receber 691 convidados.
A lista foi feita com base em uma relação da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul do número de vítimas que receberam atendimento médico. Foram somados também o número de mortos no local e de pessoas que não receberam atendimento médico, mas prestaram depoimento à polícia afirmando que estavam na boate.
Para o delegado, a superlotação na boate é mais um argumento que comprova que os donos da boate assumiram o risco de matar.
O produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Leão, deve ser prestar depoimento à polícia na tarde desta terça-feira (12), na Penitenciária Estadual de Santa Maria, onde está preso desde o dia 28 de janeiro. O delegado Sandro Meinerz deve ir até o local para ouvi-lo.
O vocalista da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, foi ouvido na última sexta-feira (8) na mesma penitenciária. No mesmo dia, o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), também falou à polícia e disse acreditar que nenhum secretário ou funcionário municipal tenha falhado nas autorizações de funcionamento e na fiscalização da boate Kiss.
Na próxima quarta-feira (13), será a vez do sócio da boate Elissandro Spohr, o Kiko, ser ouvido. Ainda não há data prevista para o outro dono, Mauro Hoffmann, ser ouvido.
O esclarecimento de eventual negligência de agentes públicos como bombeiros e funcionários municipais é a última etapa da investigação das causas do incêndio da casa noturna, em 27 de janeiro, que matou 241 pessoas. A polícia afirma estar convicta de que uma sucessão de falhas provocou o incêndio e a tragédia.
Mutirão
O mutirão de atendimento organizado pelo Ministério da Saúde para todas as pessoas que ficaram feridas ou respiraram a fumaça tóxica produzida pelo incêndio começou no sábado (9), no Hospital Universitário de Santa Maria. Os médicos vão avaliar a situação de cada um dos inscritos para consultas e encaminhá-los aos exames e tratamento adequados, se houver necessidade.
Todos os que tiveram contato com a tragédia, inclusive os que não precisaram de medicação ou cuidados hospitalares, serão acompanhados por alguns anos, para identificação de eventuais sequelas.
Entenda o caso
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, a 290 km de Porto Alegre, aconteceu na madrugada do dia 27 de janeiro e deixou 241 mortos e mais de cem feridos. O fogo teria começado quando a banda Gurizada Fandangueira se apresentava. Segundo testemunhas, durante o show foi utilizado um sinalizador — uma espécie de fogo de artifício chamado "sputnik" — que, ao ser lançado, atingiu a espuma do isolamento acústico, no teto da boate. As chamas se alastraram em poucos minutos.
A casa noturna estava superlotada na noite da tragédia, segundo o Corpo de Bombeiros. O incêndio provocou pânico e muitos não conseguiram acessar a única saída da boate. Os proprietários do estabelecimento não tinham autorização dos bombeiros para organizar um show pirotécnico na casa noturna. O alvará da casa estava vencido desde agosto de 2012.
Esta é considerada a segunda maior tragédia do País depois do incêndio do Grande Circo Americano, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Em 17 de dezembro de 1961, o circo pegou fogo durante uma apresentação e deixou 503 mortos.