"Apertamento"? Imóveis de 20 m² a 40 m² viram tendência em São Paulo
CEO de construtora especializada no formato defende estilo de vida e fala em "revolução"
Economia|Marcella Franco, do R7
Se até pouco tempo atrás os paulistanos buscavam residências espaçosas, hoje em dia a tendência é outra. Afinal, os studios — apartamentos com metragem reduzida — caíram no gosto de construtoras e compradores.
Prova disso são os dados do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo). Há dez anos, os imóveis de um dormitório e até 45 m² representavam apenas 5,1% do total de unidades vendidas. No ano passado, os microapartamentos atingiram 27,9% do mercado.
“É uma revolução”, resume Alexandre Lafer Frankel, CEO da Vitacon. A empresa, fundada há quatro anos, comercializa diversos formatos de unidades, mas acabou se especializando no mercado de miniapartamentos.
Para Frankel, é um novo jeito de viver.
— As pessoas agora têm um estilo de vida que demanda mais praticidade, com valores que não são iguais aos de antigamente. A principal questão é a mobilidade: vidas mais compactas permitem moradia em regiões mais centrais. Junto a isso vem um desejo de praticidade. Ninguém que ter custos enormes de manutenção.
Frankel defende, também, que a socialização entre família e amigos não acontece mais dentro de casa, como no passado, e sim na rua e em espaços coletivos. Sendo assim, o tempo gasto dentro do apartamento seria pequeno, o que justificaria seu espaço diminuto.
Atualmente, a Vitacon trabalha, entre outros, o VN Gomes de Carvalho, empreendimento localizado na Vila Olímpia, bairro de alto padrão na zona sul de São Paulo.
São 168 unidades de lofts, uphouses e duplex que chegam a ter até 78 m². Mas a menina dos olhos do lançamento são mesmo os studios: são oito unidades de 23 m² a 26 m².
Antes disso, a construtora já havia apresentado ao mercado o VN Quatá, com 86 apartamentos divididos entre lofts de 51 m² e studios de inimagináveis 18 m² — a torre única, construída também na Vila Olímpia, foi inteiramente vendida em apenas uma semana.
"Apertamentos"?
Mas será que, no futuro, a maioria de nós estará vivendo em "apertamentos"?
O sociólogo Edemir de Carvalho, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), não vê a tendência com bons olhos.
— Conviver em um espaço assim tão pequeno é extremamente desconfortável, mesmo que as pessoas se deem bem. É uma casa que serve apenas para dormir, e isso é muito negativo. Não há conforto em 20 m².
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“Compactar os imóveis é uma forma de torná-los acessíveis”, defende Frankel, que tem em seu portfólio prédios erguidos, em sua grande maioria, em bairros de classe média alta como Perdizes, Jardins, Aclimação e Alto de Pinheiros, onde o metro quadrado é caro, e os espaços disponíveis, escassos.
Pequeno e caro
Um studio de 23 m² no VN Gomes de Carvalho sai a partir de R$ 266 mil. Se o comprador optar pela versão com todos os móveis inteligentes, projetados para aproveitar cada centímetro do apartamento, o valor sobe para cerca de R$ 360 mil.
— Enquanto o conceito das quitinetes de antigamente ficou pejorativo, como uma moradia de baixa renda no centro, os studios envolvem design, modernidade, luxo compacto. Há compradores que poderiam escolher um apartamento de 200 m² no Morumbi, mas optam por um compacto em um bairro sofisticado, hypado, ao lado do trabalho.
Para Frankel, o mercado sempre terá espaço para os apartamentos gigantes e para “quem tem acesso ao capital”, mas, na opinião do empresário, a maioria dos paulistanos cada vez mais se distancia do sonho do imóvel grande e próprio.
Ele, que tem mulher e dois filhos, de seis e quatro anos, conta que vive atualmente em uma “casa compacta” com a família, mas que, logo após o casamento, morou em um apartamento de 44 m².
Aos 36 anos, Frankel admite estar rico. Embora seja neto do fundador da fábrica de móveis Interdomus Lafer e filho do dono da Reid Construções, com quem chegou a trabalhar, foi mesmo com a Vitacon que sua vida como homem de negócios começou a prosperar.
Lá atrás, em 2010, quando fundou a empresa, ele investiu R$ 50 milhões para construir o primeiro prédio residencial. O lançamento rendeu R$ 150 milhões em vendas, o que financiou os projetos seguintes. Dali para frente, Frankel não parou mais.
— Estar rico para mim não importa. Minha alegria maior é revolucionar.
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