Brasil deve se espelhar em modelo de financiamento de imóveis do exterior, afirmam especialistas
Venda de títulos para financiar a casa própria serviria como alternativa à poupança
Economia|Alexandre Garcia, do R7
O modelo de financiamentos imobiliários do Brasil está em uma encruzilhada e observa, de longe, a retirada em massa dos recursos da poupança, que usa para concretizar o sonho da casa própria para muitos brasileiros. O R7 consultou especialistas para saber o que pode ser feito para permitir que a concessão de crédito permaneça ativa.
A alternativa para o governo pode estar no mercado externo, por meio de modelos já consolidados, como já ocorre nos Estados Unidos e alguns países da Europa, explica Roberto Vertamatti, diretor de economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
— Os financiamos lá fora são basicamente títulos jogados no mercado para obter recursos para o financiamento imobiliário.
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De acordo com Luiz França, presidente da França Participações, consultoria especializada no ramo imobiliário, ter a poupança como única fonte que oferece recursos para o financiamento imobiliário é “muito ruim”. Ele afirma que é necessário ter um mercado secundário, como acontece fora do Brasil para não ficarmos dependentes de uma “bolsa de dinheiro que pode acabar”.
— A gente não tem que inventar nada. Precisamos pegar o que já existe em lugar mais desenvolvidos e replicar. Basta capacidade, inteligência e humildade para ter certeza de que a gente vai ter uma fonte de funding secundário.
O diretor-executivo da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Luiz Fernando Moura, afirma que o modelo de negócios secundário praticado lá fora com a emissão de títulos para subsidiar pode ser uma alternativa eficiente para dividir o financiamento de imóveis com a poupança.
— Nos Estados Unido, principalmente, a gente tem um mercado secundário desses títulos muito forte. [...] Se bem utilizado, ele pode trazer bastante recurso para o financiamento de longo prazo, o que é muito importante no mercado imobiliário.
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Os especialistas também ressaltam que, além de um mercado secundário, o governo poderia optar pela utilização do índice de inflação, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), como atrativo para estimular o investimento nesses ativos que auxiliam na compra do imóvel a prazo. Keyler Rocha, professor da Faculdade de Economia da USP (Universidade de São Paulo), observa que se o rendimento da poupança fosse atrelado ao índice, não haveria a fuga em busca de melhores opções,
— Se você tivesse o IPCA na caderneta de poupança e o IPCA no imóvel, esse problema não existiria.
Apesar de listar como uma opção, Keyler avalia que ter o financiamento ligado ao índice de preços poderia dificultar o comprador na hora de efetuar o pagamento do imóvel.