Eike Batista é um empresário “funk ostentação”, diz autor de livro sobre ex-bilionário
Ascensão e Queda do Império X explica como a fortuna do empresário encolheu
Economia|Vanessa Beltrão, do R7
O multimilionário da energia, mineração, indústria naval, construção e petróleo Eike Batista, após ser considerado o sétimo homem mais rico do mundo, assistiu à queda drástica no valor de suas empresas em apenas um ano, viu sua fortuna minguar e sua credibilidade virar pó.
“Um projeto de potência econômica foi convertido rapidamente em delírio arruinado”, afirma o jornalista Sergio Leo em seu recente livro Ascensão e Queda do Império X (Editora Nova Fronteira), sobre o brasileiro que, há menos de dois anos, tinha a ambição de se tornar o homem mais rico do mundo.
A obra recria os primórdios da carreira de Eike Batista, nos anos 1980, quando fez fortuna com mineração e fundou as empresas que dariam origem ao grupo EBX.
Também lembra as histórias da vida privada do "excêntrico bilionário", com recordações da época em que era mais conhecido como o "marido da Luma de Oliveira", uma das mulheres mais desejadas do País nos anos 1990. Há ainda detalhes sobre como suas decisões empresariais são afetadas por crenças e superstições.
— Essas histórias são bastante conhecidas, o próprio Eike se encarregava de espalhar. Fazia parte um pouco do marketing pessoal do Eike, como um milionário excêntrico. Ele de fato é um cara meio místico, tem umas manias e isso acaba afetando, às vezes, a maneira de fazer negócio.
Ilustrações retratam manias e superstições de Eike
O destaque da obra, porém, é a época de ouro do empresário, a partir de 2006, quando abre o capital da MMX, a primeira das seis empresas X que ofereceriam ações no mercado de capitais.
É quando o fundador da EBX se destaca como homem de negócios repleto de contatos e investimentos atraentes em áreas promissoras: minério de ferro e petróleo.
— O Eike representava o tipo de empresário que dava a imagem que o governo precisava, para mostrar que um governo de esquerda pode ter seu capitalista.
Após quatro meses de estudos e entrevistas para o livro, Leo compara o estilo de Eike Batista ao “funk ostentação” (estilo musical que exalta a riqueza, a ambição, o consumo e o exibicionismo).
— O Eike é uma espécie de empresário “funk ostentação”. Essa ideia de mostrar, de exibir riqueza, é exatamente o que o Eike faz numa escala bilionária.
Confira, a seguir, os melhores trechos da entrevista.
R7 — Este livro é uma biografia?
Sergio Leo — Certamente não é uma biografia. Ele menciona episódios da biografia do Eike Batista porque a biografia do Eike se confunde muitas vezes com a história das suas empresas.
O meu principal objetivo mesmo é entreter com histórias interessantes. Ele se meteu em uma quantidade de empreendimentos, do minério ao petróleo, ao estaleiro, ao cosmético. Até empresa de correio, feito o Sedex, ele tentou fazer, mas foi um fiasco.
R7 — Como você chegou até as “histórias exóticas de um excêntrico bilionário”?
Sergio Leo — Essas histórias são bastante conhecidas, o próprio Eike se encarregava de espalhar. Fazia parte um pouco do marketing pessoal do Eike, como um milionário excêntrico. Ele de fato é um cara meio místico, é um cara que tem umas manias e isso acaba afetando, às vezes, a maneira de fazer negócio. Ele virou as chamas do sol, que era o símbolo da empresa (EBX), porque uma mística disse para ele que os negócios estavam andando para trás porque o sol estava virado para o lado errado.
Você não consegue entender o que aconteceu com as empresas X só apelando para o lado racional. A gente costuma imaginar que um cara bem-sucedido é um cara que pesa, mede cada passo, investimento. Às vezes o cara é guiado por alguma intuição, alguma mania, uma superstição. O Eike é uma espécie de empresário “funk ostentação”. Essa ideia de mostrar, de exibir riqueza, é exatamente o que o Eike faz numa escala bilionária.
R7 — No livro, você diz que o governo gostava dele, mas os empresários não simpatizavam. Por quê?
Sergio Leo — Sempre teve gente do mercado que desconfiou, pensou que não ia dar certo. Mas a verdade é que o Eike apareceu para todo mundo como um empresário convincente. (...) O governo também precisava de um empresário disposto a se mostrar, disposto a investir do zero. Eike representava o tipo de empresário que dava a imagem que o governo precisava, para mostrar que um governo de esquerda pode ter seu capitalista.
R7 — A exposição dele exagerada contribuiu para essa queda?
Sergio Leo — Talvez [a exposição o] tenha distraído de coisas realmente práticas que ele deveria estar trabalhando, na própria gestão das empresas. Acho que a celebridade fez mais mal ao próprio Eike e aos filhos do que às empresas.
R7 — Quando ele começou a fracassar?
Sergio Leo — Uma das razões do fracasso das empresas é que ele apostou alto demais. Ele comprou por um preço muito alto as reserva de petróleo, apostou num grau de produção que era o mais otimista que havia. Foi a perda de credibilidade dele que anunciou o começo do fracasso. É quando a OGX anuncia que as reservas, que eram gigantescas, na verdade não eram nem viáveis.
R7 — Você acredita que o Eike era puro marketing?
Sergio Leo — Ele não era puro marketing porque, de fato, criou empreendimentos, mobilizou capitais, começou negócios onde não havia nada. Tinha de fato um lado concreto além do marketing.
R7 — Os minoritários da OGX, que perderam muito dinheiro quando as ações passaram a valer centavos, afirmam que não houve fiscalização dos órgãos competentes.
Sergio Leo — Fiscalização houve, mas foi incipiente. Quando você vê dez acionistas perderem muito com a empresa é natural. Mas é muito grande a quantidade de gente que estava na OGX e que, de uma hora para outra, foi informada que as informações das empresas não valiam nada.
R7 — Os acionistas minoritários foram enganados?
Sergio Leo — Você tem uma mistura de tudo. Tem gente que sabia que aquilo ia estourar e não foi ágil para sair a tempo. Tem gente que merecia ser enganado porque não se informou direito. E tem quem achava que estava sendo bem informado, porque confiou na fiscalização e nas informações prestadas pela empresa.
R7 — Quais as lições que ficam sobre a queda do império X?
Sergio Leo — Eu acho que ficam várias lições. Uma é a seguinte: tanto os investidores quanto a imprensa econômica devem cobrar uma transparência maior do mercado de valores, da bolsa, da CVM e dos órgãos regulatórios e fiscalizadores. (...) Eu acho que essa história é meio exemplar, vai além do mundo das finanças.
R7 — Você acha que ele conseguirá sair desta situação?
Sergio Leo — Isso é um grande mistério. Ele já mostrou outras vezes que foi capaz de cair e se levantar e fingir que nada tinha acontecido, mas nunca ele tinha levado um tombo tão grande. Nesse caso agora, ele cravou os holofotes, ele levou um tombo na frente de todo mundo em cadeia nacional. A credibilidade dele ficou muito abalada.
Leia a entrevista completa com Sergio Leo, autor de Ascensão e Queda do Império X
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