Entenda por que a cotação do dólar explodiu em duas semanas
Moeda norte-americana passou de R$ 2,57 para R$ 2,83 nos últimos dias
Economia|Maria Carolina de Ré, do R7
Em menos de 15 dias, a cotação do dólar vendido no País passou de R$2,57 para R$ 2,83, uma diferença de R$ 0,26. Pode parecer pouco, mas qualquer valorização do câmbio causa um impacto enorme na economia, porque afeta o preço de produtos importados, encarece as viagens ao exterior, interfere em contratos firmados em dólar e, por fim, pressiona a inflação.
O R7 procurou três especialistas para entender os motivos que estão empurrando a moeda americana até às alturas — um fenômeno que vem sendo verificado desde setembro de 2014, quando a cotação estava abaixo de R$ 2,30.
A resposta dos economistas foi unânime: mudanças na Europa, Estados Unidos e Ásia, junto com fatores internos da economia brasileira colocaram uma pulga atrás da orelha dos investidores, que estão deixando de trazer seus dólares para cá. Essa desconfiança teria potencial para elevar o câmbio até pelo menos R$ 3.
Entenda, a seguir, como os fatores externos afetam a cotação da moeda e de que forma as condições internas agravam esse cenário.
China
Uma das formas de se entender a alta do dólar é pela tradicional lei de oferta e procura: o preço da moeda sobe porque há menos dinheiro americano na praça.
O economista Paulo Gala, estrategista do Banco Fator, lembra que o bem exportado em maior quantidade pelo Brasil é o mineiro de ferro, que tem a China como o principal destino. Esse comércio se enfraqueceu nos últimos meses porque a cotação da commodity caiu no mercado internacional quando os os chineses decidiram comprar menos. Deste modo, o Brasil conseguiu menos dólares com a venda do minério.
— A queda das exportações de ferro pra a China acarreta em uma entrada menor de dólares no País.
A desaceleração das importações da China também foi citada pelo diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues Joaquim, como um dos fatores centrais para a subida do dólar.
— A China foi o motor da economia mundial nos últimos dez anos. Com a redução das importações chinesas, países da Europa e América Latina, incluindo o Brasil, tendem a sofrer porque vendiam grande parte dos seus produtos para os chineses, que agora compram menos.
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EUA e Europa
O fortalecimento da economia dos EUA e a crise política e financeira da Europa também são problemas externos que estão pressionando o câmbio e causando a desvalorização do real.
“Com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos EUA e dados positivos da taxa de emprego, os investidores estão voltando a investir seu dinheiro naquele mercado, que é considerado muito mais seguro”, frisa Gala.
O dólar deve fugir ainda mais do Brasil porque os norte-americanos planejam subir, até a metade do ano, sua taxa de juros, atualmente em 0,25%. Isso pode fazer o dinheiro dos investidores render mais por lá do que aqui.
— Com essa expectativa de ganho em mente, os investidores estão voltando a aplicar seu dinheiro naquele país.
Por fim, é preciso entender que o câmbio desta moeda está aumentando no mundo inteiro em razão do que acontece na Europa. Lá, há uma desconfiança em cima dos países que adotam o euro (a chamada zona do euro), porque há o risco de a Grécia deixar o grupo.
Somado aos conflitos armados na Ucrânia e ao enfraquecimento da economia alemã, esse cenário afeta muito a economia europeia e, consequentemente, aumenta o valor do dólar no mundo, destaca o analista da corretora Pionner João Medeiros.
Risco Brasil
A cotação do dólar no Brasil também é pressionada pelo mau momento da economia interna. Medeiros indica que o déficit primário das contas públicas, anunciado em janeiro, e a expectativa ruim sobre o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 causaram uma debandada dos investidores, que não querem fazer investimentos em um País onde poderiam perder dinheiro.
Além disso, a crise na Petrobras, envolvida em um escândalo de corrupção, acentua a queda da bolsa brasileira pressiona o câmbio, indica o analista da Pionner.
— O risco de investir no Brasil está cada vez maior. Além da Petrobras, as construtoras envolvidas nestes escândalos de corrupção estão colocando os bancos estrangeiros em estado de alerta com relação ao Brasil.
Joaquim, do Banco Paulista, também credita aos fatores internos grande parcela de responsabilidade no que diz respeito à alta do dólar.
— Os problemas internos limaram a credibilidade do País no exterior. Sem credibilidade se cria insegurança e os estrangeiros tendem a cobrar mais para emprestar dólares para empresas e para o governo brasileiro. Isso faz a moeda americana se valorizar cada vez mais.