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Fundo Postalis cobra R$ 5 bi de banco americano para evitar aumento nas contribuições

Banco diz que  está aberto para encontrar uma "solução mutuamente satisfatória"

Economia|

São mais de 76 mil beneficiários no fundo Postalis, dos Correios
São mais de 76 mil beneficiários no fundo Postalis, dos Correios São mais de 76 mil beneficiários no fundo Postalis, dos Correios

A nova direção do Postalis (fundo de pensão dos funcionários dos Correios) atua em três frentes para evitar que os funcionários e a estatal tenham de aumentar as contribuições extras, atualmente em quase 18%, sobre os benefícios para cobrir o equacionamento do rombo de 2015.

A principal delas envolve cobranças judiciais de R$ 5 bilhões por prejuízos supostamente causados pelo banco de investimentos americano BNY Mellon. O plano também inclui a cobrança de uma dívida dos Correios, hoje em R$ 1,5 bilhão, e a venda de 32 títulos que já foram baixados a prejuízo - que somam R$ 1,7 bilhão, mas devem ser repassados com deságio generoso -, segundo o novo presidente da entidade, André Luis Carvalho de Motta e Silva.

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As contribuições extras foram determinadas aos quase 76 mil funcionários, aposentados e pensionistas, além da estatal patrocinadora, para cobrir o rombo do plano de benefício definido (um tipo de plano mais antigo, que foi suspenso a novos participantes, em que o benefício era previamente estipulado, independentemente da evolução das contribuições, conhecido pela sigla BD).

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A reportagem apurou com a direção do Postalis que a briga judicial com o BNY Mellon vai se dar até mesmo fora do País. A fundação cobra R$ 5 bilhões do banco americano por conta de perdas com títulos emitidos por instituições financeiras no exterior lastreados na dívida da Argentina e da Venezuela, por exemplo.

O Postalis também entrou com representação no Banco Central alegando que o BNY Mellon colocou todo o sistema financeiro sob risco sistêmico com a gestão dos papéis do Postalis. Procurado, o Banco Central respondeu, em nota, que não comenta casos específicos e atividades de fiscalização.

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Déficit

Pelas novas regras de equacionamento de déficit dos fundos de pensão, o desconto mensal do plano BD do Postalis ficou determinado em 17,92% do valor da aposentadoria, da pensão ou do valor previsto para o benefício por 23,5 anos.

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Começou a ser descontado no fim de junho, depois de ações que suspenderam o desconto. Essa contribuição é referente ao equacionamento do déficit até 2014. O problema é que o fundo continuou no vermelho em 2015 (R$ 1,4 bilhão). As contribuições teriam de aumentar para cobrir esse buraco que não para de crescer - no acumulado até o primeiro semestre já ultrapassou R$ 2 bilhões.

"Estamos correndo muito para permitir que não haja aumento da contribuição ou que seja diminuta, mas se o plano fracassar há, sim, a possibilidade de a contribuição extra aumentar. Não posso mentir", disse Silva, em sua primeira entrevista como presidente do Postalis, depois de enfrentar a rebeldia do conselho fiscal, que resistia à troca da direção na entidade. Ligado ao PMDB, Silva dirigiu o Banco de Brasília e a Terracap, estatais do Distrito Federal e foi diretor de investimentos do Postalis.

O nome dele foi indicado por Guilherme Campos, do PSD, novo presidente dos Correios, mas o conselho fiscal trabalhou para manter Paulo Furtado, indicação do PDT, do ex-presidente dos Correios, Giovanni Queiroz. A Previc, que fiscaliza o setor, deu autorização para a mudança.

Quando assumiu o cargo de diretor de investimentos, Silva deu uma guinada conservadora no perfil de investimentos da fundação. O fundo de pensão comprou cerca de R$ 2 bilhões em títulos públicos, que eram quase inexistentes na carteira.

O principal motivo do rombo de R$ 5,6 bilhões do plano de benefício definido que começou a ser equalizado neste ano foi a performance dos investimentos (R$ 2,7 bilhões).

A lista de maus investimentos da fundação vai além dos papéis atrelados à dívida da Argentina e da Venezuela. Inclui aplicações em títulos de bancos liquidados (Cruzeiro do Sul e BVA) e ações de empresas de Eike Batista. A parte do déficit derivada de alterações nas premissas do plano, como mudança na expectativa de mortalidade e de juros, foi de R$ 1,7 bilhão.

"Trabalhamos com esse tripé para resgatar a credibilidade nas duas pontas: os participantes e assistidos voltarem a acreditar que o Postalis vai garantir o futuro para a aposentadoria e o mercado crer que não há restrições aos dirigentes, o que não comprometerá os futuros investimentos", disse Christian Scheneider, que presidiu a operadora paranaense de telefonia Sercomtel, e atual diretor de investimentos do fundo.

Negociação

O banco americano BNY Mellon afirmou que é "pragmático" e está aberto para encontrar uma "solução mutuamente satisfatória" com o Postalis que permita resolver essa questão definitivamente. No entanto, diz que as ações judiciais não têm fundamento e vai continuar se defendendo "vigorosamente" contra elas.

"Embora entendamos a motivação da atual administração do Postalis em recuperar possíveis perdas causadas por ex-diretores do instituto, o BNY Mellon não tem qualquer responsabilidade pelas ações do Postalis ou pelas ações dos gestores de investimentos terceiros escolhidos pelo instituto sobre as quais não tivemos qualquer controle", disse o banco, em nota.

A reportagem apurou que um representante da sede do BNY Mellon virá ao Brasil para negociar um acordo com a direção do Postalis. O presidente do banco para a América Latina, Eduardo Kolle, disse na CPI dos Fundos de Pensão, no início deste ano, que fez uma proposta para ressarcir prejuízos, rejeitada pelo Postalis. A fundação negou a informação.

"O BNY Mellon é, sim, culpado do que aconteceu aqui dentro e tem uma cláusula que diz que, se ele não fosse culpado objetivamente é culpado do mesmo jeito. O banco não cumpriu com o dever fiduciário, máximo de responsabilidade que deveria ter sobre a administração do dinheiro de terceiros", afirmou André Luis Motta e Silva, presidente do Postalis.

No ano passado, o executivo reconheceu ter havido fraude em compras de papéis estrangeiros com recursos do Postalis, mas disse que o BNY não tinha responsabilidade sobre o caso.

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